Ele deu um passo mais perto, a mão se estendendo, o toque hesitante. "Alina, o que foi?", ele perguntou, a voz mais suave agora, quase terna. Meu coração deu um baque doloroso, uma onda ridícula de esperança. Ele finalmente se desculparia? Ele finalmente me veria?
"Augusto", ele disse, virando-se para a enfermeira, "Helena precisa de um lugar tranquilo. Quero que ela seja transferida para a casa de hóspedes na mansão esta noite. Ela passou por muita coisa, e o ambiente do hospital não é ideal para sua recuperação."
Minha respiração falhou. Minha própria vida estava em perigo, e ele estava arranjando o conforto de sua amante. "Os níveis de estresse dela são críticos para o bebê", ele acrescentou, como se isso justificasse tudo, como se apagasse minha dor, minha perda, minha própria existência.
Meu olhar se desviou para o pescoço dele. Um arranhão vermelho, quase invisível, mas inconfundível. Helena. Uma ferida fresca, uma traição fresca. O último e frágil fio de esperança se partiu. Não foi apenas um deslize, um momento de fraqueza. Foi uma escolha. Uma escolha deliberada e contínua.
Uma calma estranha e entorpecente tomou conta de mim. A raiva, o luto, o anseio desesperado - tudo se fundiu em um profundo sentimento de resignação cansada. Tinha acabado. Realmente acabado. Não havia mais volta.
"Eu quero o divórcio, Augusto", eu disse, minha voz surpreendentemente firme, desprovida de emoção. As palavras soaram como uma libertação, como se eu estivesse me livrando de um manto pesado.
Seus olhos se arregalaram, seu rosto se contraiu. Ele agarrou minha mão, seu aperto surpreendentemente forte. "Não, Alina, por favor. Não diga isso. Não agora. Podemos consertar isso. Pelo bebê. Por nós." Sua voz falhou, um apelo cru e desesperado. Eu já o tinha ouvido soar tão quebrado? Mas era uma atuação, eu sabia. Pelo bebê. Sempre pelo bebê.
"Só até o bebê estar seguro", ele implorou, o polegar acariciando os nós dos meus dedos. "Então eu prometo, vou mandar a Helena embora. Você nunca mais vai vê-la. Eu juro." As palavras eram vazias, ocas, uma tentativa desesperada de se agarrar a uma vida que ele não merecia mais.
Eu sabia a verdade agora. O bebê que eu havia perdido, o bebê que ele nem sabia que existia, era nosso bebê. E eu mantive em segredo, planejando a surpresa perfeita, uma revelação alegre que agora parecia uma piada cruel. Eu entrei naquela casa em chamas, alheia ao inferno que me esperava, pensando em nosso futuro.
"Não existe 'nós', Augusto", eu o corrigi, puxando minha mão. Minha voz era uma linha reta, fria e final. "Acabou."
Saí do hospital sozinha. Ninguém me impediu. Ninguém sequer notou. O mundo lá fora era um borrão, uma cacofonia de sons e cores que eu não conseguia processar. Meu único objetivo era a casa, nossa casa, para recuperar o pouco que restava da minha antiga vida.
A porta da frente rangeu ao abrir, revelando a grandiosidade familiar que agora parecia totalmente estranha. Fui para o meu escritório, meu santuário, para pegar minhas poucas lembranças pessoais. Então eu ouvi. Um gemido suave, seguido por uma risada baixa e rouca vinda do andar de cima. Helena. E Augusto.
Uma curiosidade perversa, uma necessidade mórbida de confirmar as profundezas de sua traição, me puxou em direção aos sons. Parei do lado de fora do quarto principal, a porta ligeiramente entreaberta. Cada som abafado, cada palavra sussurrada, era uma martelada na minha alma, quebrando os últimos fragmentos da minha dignidade. Fiquei ali, parada, deixando a agonia tomar conta de mim. Eu merecia isso. Por ser tão tola. Por amá-lo tão cegamente.
"Meu bebezinho precioso", Helena arrulhou, sua voz doentiamente doce. "Augusto, certifique-se de que nosso filho esteja seguro, sempre."
"Sempre, meu amor", Augusto respondeu, a voz grossa com uma ternura que ele não me mostrava há meses, talvez anos. "Vou proteger vocês dois. Nada vai machucar vocês."
Então eu vi. Os olhos de Helena, encontrando os meus pela fresta da porta. Um sorrisinho de deboche, lento e triunfante, espalhou-se por seu rosto. Uma declaração silenciosa e venenosa de vitória. Meu estômago revirou, uma onda de náusea me invadiu. Minhas pernas, ainda fracas do incêndio, ameaçaram ceder. Uma dor aguda e lancinante atravessou meu abdômen, uma dor fantasma pelo filho que eu havia perdido, uma manifestação física do meu coração partido.
Um suspiro engasgado escapou dos meus lábios, um som que não consegui suprimir. Foi o suficiente. Os sons no andar de cima cessaram instantaneamente.
"Augusto", disse Helena, sua voz agora um sussurro fingido de preocupação. "Tem alguém aqui."
A cabeça de Augusto se virou bruscamente, seus olhos arregalados com uma mistura de pânico e irritação. Ele se afastou de Helena, lutando para se cobrir. "Alina? O que você está fazendo aqui?", ele rosnou, a voz carregada de aborrecimento.
Ele se moveu em minha direção, a mão se estendendo. Eu recuei, dando um passo para trás como se estivesse queimada. "Não me toque", cuspi, minha voz crua. Minhas pernas fraquejaram e me apoiei no batente da porta, lutando para ficar de pé. A dor no meu abdômen se intensificou, um fogo ardente.
"Não é o que você está pensando", ele começou, o rosto uma máscara contorcida de falsa inocência. "Ela só não estava se sentindo bem, e eu estava... a confortando."
Enfiei a mão na bolsa, minha mão tremendo enquanto eu puxava os papéis do divórcio cuidadosamente dobrados. "É exatamente o que eu estou pensando", eu disse, enfiando-os em seu peito. "Assine."
Helena, ao ver os papéis, soltou um suspiro dramático, agarrando o estômago. "Oh, Augusto, minha cabeça... o bebê!", ela chorou, a voz carregada de dor teatral.
A atenção de Augusto se voltou imediatamente para ela. Ele correu para o lado dela, embalando-a. "Helena, o que foi? Você está bem?" Ele nem sequer olhou para trás, para mim.
Ele assinou os papéis sem um momento de hesitação, sua caneta arranhando furiosamente a página. "Pronto", ele disse, jogando os documentos assinados no chão. "Você quer sua liberdade? Pegue. Vou pedir ao meu advogado para providenciar um acordo generoso. Agora suma daqui. Você só está perturbando a Helena."
Ele virou as costas, pegando Helena nos braços, me dispensando completamente. A porta se fechou com um clique suave, me deixando do lado de fora. Fiquei ali, totalmente sozinha, os papéis assinados um testemunho amassado da minha insignificância. Ele me jogou fora, sem pensar duas vezes. Meu coração, uma bagunça irregular, finalmente parou de sangrar. Simplesmente ficou dormente.
Uma febre ardente me consumiu, meu corpo tremendo de calafrios. O sono não oferecia escapatória, apenas uma repetição cruel do nosso passado. Sonhei com o dia do nosso casamento, seus olhos cheios de adoração, seus votos ecoando no grande salão. "Eu vou te valorizar, te proteger, te amar até meu último suspiro." MENTIRAS.
O sonho mudou, transformando-se em um pesadelo. Ele estava na casa de praia, cercado por chamas, meus gritos desesperados por ajuda ecoando no inferno. Mas ele estava de costas para mim, os braços envolvendo Helena, o rosto dela presunçoso, vitorioso. As chamas subiam mais alto, consumindo tudo, deixando apenas um vazio carbonizado onde nossa vida existiu.