Ele levantou a cabeça, o olhar acusador. "Por quê, Alina? Por que você não tomou seu remédio? Você quase morreu de novo! Você se colocou em perigo de propósito."
"Onde você estava?", perguntei, minha voz rouca. "Quando eu estava morrendo, onde você estava?"
Seus ombros caíram. "Helena teve um alarme falso. Não foi nada. Apenas estresse. Eu tinha que estar lá por ela. Pelo bebê." A mesma velha desculpa, a mesma velha hierarquia de preocupação. Minha vida era sempre menos importante que o conforto de Helena.
Meu coração, que eu pensei ter se transformado em pedra, se contorceu com uma dor surda e persistente. Não era mais a dor aguda e lancinante da traição, apenas uma dormência cansada. Eu estava cansada de lutar, cansada de ter esperança, cansada de esperar qualquer coisa dele.
Uma lágrima escapou, traçando um caminho solitário pela minha têmpora. Eu a enxuguei rapidamente. Não lhe daria essa satisfação. Com uma onda de adrenalina, peguei a pequena bolsa de tranquilizantes que ele havia trocado pelo meu remédio para alergia. Com toda a minha força, joguei a bolsa nele. O plástico bateu na parede, as pílulas se espalhando pelo chão estéril como pequenas mentiras brancas.
Augusto recuou, os olhos arregalados. Ele olhou para as pílulas, depois para mim, o rosto pálido, um lampejo de culpa em seus olhos. "Alina...", ele começou, a voz mal passando de um sussurro.
"Você os trocou, não foi?", acusei, minha voz tremendo de raiva. "Você substituiu meu remédio vital por sedativos. Você tentou me matar."
Ele olhou para o chão, depois para mim, os olhos cheios de um apelo desesperado e patético. "Eu... eu só queria ter certeza de que você não faria nada imprudente. Helena estava tão angustiada. Foi um erro, Alina. Eu juro." Ele não negou. Ele não podia.
"Ela sugeriu, não foi?", insisti, as peças se encaixando. "Ela sempre encontra uma maneira de me fazer a vilã."
"Não!", ele insistiu, mas seus olhos se desviaram. "Ela... ela só estava preocupada com o bebê. Ela disse que você estava muito instável, que você se machucaria e, por extensão, o bebê dela." Ele ainda estava desviando, ainda a protegendo.
Uma risada histérica borbulhou do meu peito, amarga e oca. "Instável? Imprudente? Ou apenas inconveniente?", engasguei, a risada se transformando em soluços. "Saia, Augusto. Saia e nunca mais volte."
Seus olhos se encheram de lágrimas, sua mão buscando a minha. "Alina, por favor. Não diga isso. Eu posso consertar isso. Eu prometo."
Nesse momento, uma enfermeira espiou pela porta. "Sr. Almeida, a Helena está procurando por você. Ela está muito agitada."
Augusto congelou, o olhar dividido entre mim e a porta. Ele hesitou por um longo e agonizante momento, depois suspirou, os ombros caindo. "Já vou." Ele me deu um último olhar demorado, os olhos cheios de uma mistura de arrependimento e algo mais - uma necessidade desesperada de escapar. "Eu volto, Alina", ele murmurou ao fechar a porta, as palavras ocas e sem sentido.
Fechei os olhos, uma única lágrima traçando um caminho ardente pela minha bochecha. As promessas estavam sempre fora de alcance, sempre apenas uma desculpa para sua ausência. Todos me diziam para ser paciente, para aguentar, que ele voltaria. Diziam que o amor valia a pena lutar, valia a pena esperar. Mas eu havia perdido tudo. Meu amor, meu bebê, meu futuro. Não havia mais nada pelo que esperar.
No dia seguinte, meu quarto de hospital estava transbordando de presentes caros. Roupas de grife, joias raras, flores exóticas. Uma procissão de enfermeiras, os olhos arregalados de inveja, me parabenizavam por ter um marido tão dedicado.
"Ele certamente sabe como se redimir", uma sussurrou, rearranjando um buquê de rosas vermelhas. "Você é uma mulher de sorte, Sra. Almeida."
Olhei para as pilhas brilhantes de itens inúteis, um sorriso amargo torcendo meus lábios. Ele não estava se redimindo. Ele estava comprando absolvição. Eram reparações, uma tentativa desesperada de apagar sua culpa, de encobrir seus crimes com dinheiro frio e vivo. Era sua maneira de dizer: "Desculpe por tentar te matar, mas aqui, tome um colar de diamantes."
O telefone tocou. Era Augusto. "Alina, vou te buscar no hospital amanhã. Vamos conversar." Sua voz era firme, não deixando espaço para discussão.
Na manhã seguinte, eu estava na entrada do hospital, esperando. Minutos se transformaram em uma hora. Ele não estava lá. Ele nunca estava. Assim que a dor familiar do abandono começou a se instalar, um borrão de movimento. Um guincho de pneus.
Um carro, preto e elegante, avançou em minha direção, acelerando. Meus olhos se arregalaram de terror. Não estava diminuindo a velocidade. Estava mirando em mim. Um grito primitivo rasgou minha garganta enquanto o mundo girava, e eu fui jogada para trás, meu corpo batendo no asfalto com um baque doentio. A dor explodiu em minhas pernas, uma agonia ofuscante e lancinante. Minha visão nadou, pontos brancos dançando diante dos meus olhos.
"Me ajude!", ofeguei, minha voz fina, desesperada.
A escuridão me tomou, apenas para ser substituída pelo cheiro estéril familiar de uma sala de emergência. De novo. O ciclo de dor, traição e quase morte. Através da névoa de analgésicos, ouvi vozes do lado de fora da minha porta. Augusto.
"Eu preciso que ela fique quieta", disse Augusto, a voz baixa e fria. "Garanta que a recuperação dela seja... prolongada. Sem visitas. Sem contato com o mundo exterior."
"Senhor, tem certeza?", uma voz mais jovem, provavelmente seu assistente, perguntou hesitantemente. "Isso parece... extremo. Ela poderia processá-lo por isso."
"Ela atacou a Helena", Augusto rosnou, a voz carregada de uma fúria que eu nunca tinha ouvido antes. "Ela ameaçou nosso bebê. Isso é para a proteção da Helena. Para a proteção do meu filho."
Meu sangue gelou. O carro. Não foi um acidente. Foi ele. Ele tinha feito isso comigo. O assalto, as pernas quebradas, a dor agonizante. Tudo isso, orquestrado pelo homem que havia jurado me proteger.
As vozes do lado de fora desapareceram, substituídas pelo rugido ensurdecedor da traição em meus ouvidos. Ele tentou me matar. Não uma, mas duas vezes. E ele conseguiu me aleijar. Meu próprio marido. O homem que eu amei mais que a própria vida.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto, quentes e furiosas. Cobri a boca com a mão, abafando os soluços. Não havia mais nada. Nenhum amor, nenhuma esperança, nenhum futuro. Apenas uma ferida aberta onde meu coração costumava estar, e a percepção arrepiante de que meu algoz usava o rosto do homem com quem eu me casei.