Helena estava no convés, irradiando satisfação presunçosa, envolta em um vestido cintilante, as joias da família de Augusto brilhando em seu pescoço e pulsos. Ela parecia uma deusa, uma rainha triunfante. Eu, em minha camisola de hospital e cadeira de rodas, me sentia uma boneca de pano.
"A rainha certamente sabe como se vestir para sua coroação", eu disse, minha voz pingando veneno. As palavras foram baixas, mas o sorriso de Helena vacilou.
Augusto, que estava empurrando minha cadeira de rodas, apertou meu ombro. "Alina, não. Não é uma coroação. É uma festa. Helena está tentando ser legal." Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. "Tudo o que eu fiz, Alina, é pelo bebê. Você tem que entender isso."
"Pelo bebê?", zombei, uma risada amarga escapando dos meus lábios. "Você quebrou minhas pernas pelo bebê, Augusto? Você me deixou para morrer em um incêndio pelo bebê?" As palavras se perderam na súbita explosão de fogos de artifício comemorativos, explodindo em cores vibrantes contra o céu escurecendo. Uma ironia cruel, celebrando a vida enquanto a minha estava sendo extinta.
Helena, sempre a imagem da doçura, deslizou em minha direção. Ela se ajoelhou ao lado da minha cadeira de rodas, a mão repousando levemente em meu braço. "Alina, querida, você deve estar cansada. Por que não entra e veste algo mais confortável? Deixei umas roupas lindas para você na suíte principal." Seus olhos, no entanto, continham um brilho arrepiante de triunfo.
Augusto assentiu com aprovação. "Viu, Alina? Helena pensa em tudo. Ela é tão atenciosa." Ele deu a Helena um olhar afetuoso.
Com um arrepio de pavor, permiti que Helena empurrasse minha cadeira de rodas em direção à suíte principal. A porta se fechou atrás de mim, e a máscara de preocupação caiu instantaneamente de seu rosto. Seus olhos, agora frios e duros, me encararam com malícia desenfreada.
Ela se inclinou, o rosto a centímetros do meu, e pisou com força com o salto em minha perna ferida. Um grito agudo de dor rasgou minha garganta. "Grite o quanto quiser, Alina", ela ronronou, os olhos brilhando com prazer sádico. "Ninguém pode te ouvir por causa dos fogos de artifício."
"Você realmente acha que venceu, não é?", ofeguei, tentando afastar a dor ofuscante.
Ela riu, um som áspero e irritante. "Oh, eu venci, querida. Você sabe como foi fácil seduzir o Augusto? Você era tão previsível. Tão... sem graça. E aquela gravidez de alto risco? Um toque brilhante, não acha? O mantém na palma da minha mão."
Eu a encarei, meu rosto molhado pelo spray do mar, meu coração um deserto árido. Não havia mais raiva, apenas um vazio profundo. "Eu não me importo mais com o Augusto", eu disse, minha voz monótona, desprovida de emoção. "Ele não significa nada para mim. Então seus joguinhos são um desperdício."
Seu sorriso triunfante vacilou, substituído por um lampejo de confusão, depois uma fúria renovada e mais perigosa. "Você se acha tão esperta, não é? Tão nobre. Mas você é apenas uma tola patética. Você sabe quem começou o incêndio na sua casa de praia, Alina? Você sabe por que perdeu seu precioso bebê?" Sua voz baixou para um sussurro, frio e venenoso. "Fui eu. Eu comecei o incêndio. E me certifiquei de que você perdesse aquele errinho inconveniente."
As palavras me atingiram como um golpe físico, mais frias que o oceano, mais quentes que as chamas. Minha respiração falhou, um soluço gutural rasgando minha garganta. Meu bebê. Não perdido em um acidente, mas brutalmente assassinado. Minhas mãos voaram para a minha boca, abafando o grito que ameaçava explodir. O luto era uma ferida fresca e crua, rasgando a dormência.
"Augusto vai te destruir", sussurrei, minha voz tremendo com um ódio tão profundo que tinha gosto de sangue. "Quando ele descobrir o que você fez, ele vai fazer você pagar."
Helena jogou a cabeça para trás e riu, um som estridente e zombeteiro. "Ele não vai descobrir, sua idiota. Ele está obcecado demais com a ideia de seu herdeiro. E, além disso, mesmo que descobrisse, seria tarde demais para você." Ela bateu palmas, um som lento e deliberado.
A porta se abriu com um estrondo, revelando uma horda de homens. Eles eram maltrapilhos, desgrenhados, seus olhos brilhando com uma fome predatória. Meu sangue gelou.
Helena, com um floreio praticado, rasgou seu vestido, arrancou seu cabelo perfeitamente penteado e, então, agarrando o estômago, soltou um grito agudo. "Augusto! Me ajude! Ela... ela trouxe esses homens! Eles estão tentando me machucar! Eles estão tentando machucar nosso bebê!" Sua voz era uma sinfonia de terror e inocência, uma performance magistral.
Augusto invadiu o quarto, o rosto uma máscara de fúria, os olhos brilhando com um ódio que eu nunca tinha visto dirigido a mim. Ele olhou de Helena, soluçando dramaticamente no canto, para mim, paralisada em minha cadeira de rodas, cercada pelos homens de aparência rude.
Ele correu para o lado de Helena, puxando-a para seus braços. "O que você fez, Alina?", ele rosnou, a voz um grunhido gutural. "Você é realmente um monstro. Você não suporta a ideia de eu ter um filho, não é? Você está tentando machucar os dois."
"Não, Augusto! Não é o que você pensa!", gritei, desesperada para explicar, para fazê-lo ver a verdade. Mas ele não estava ouvindo. Seus olhos estavam fixos em Helena, que agora o agarrava como uma flor frágil.
Ele caminhou em minha direção, sua mão se esticando, agarrando meu braço. Ele me puxou da cadeira de rodas, minhas pernas quebradas gritando em protesto enquanto eu desabava no chão, a dor explodindo em meu corpo. "Você vai passar a noite aqui, Alina", ele disse, a voz fria e desprovida de qualquer humanidade. "E vai pensar no que fez."
Eu me arrastei para trás, arrastando minhas pernas quebradas, meus olhos arregalados de terror. "Não! Augusto, por favor! Não me deixe aqui! Eles vão me matar! Eu sei disso!" Um pavor gelado, uma certeza da minha desgraça iminente, se instalou profundamente em meus ossos.
Ele deu uma risada áspera e sem humor. "Não seja tão dramática, Alina. Eles são apenas mendigos inofensivos. Uma noite na companhia deles vai te ensinar uma lição." Ele pegou Helena nos braços, de costas para mim, e saiu do quarto sem olhar para trás. A porta bateu, selando meu destino.
O cheiro de corpos sujos encheu o ar. Os homens, seus rostos zombeteiros, começaram a se aproximar. Seus dentes amarelados brilhavam na luz fraca. Eles agarraram meus braços, arrastando meu corpo quebrado para a cama.
"Olha só essa aqui", um deles zombou, seu hálito quente e fétido em meu rosto. "Uma riquinha bonitinha."
Eles rasgaram minhas roupas, o tecido se partindo com força brutal. Minhas pernas, inúteis e quebradas, não ofereciam escapatória. Eu gritei, um som gutural e primitivo de puro terror. "Me ajude! Augusto! Por favor! Alguém!" Mas meus gritos foram engolidos pelos fogos de artifício do lado de fora, uma celebração de alegria enquanto meu mundo descia ao inferno. Uma mão áspera bateu em meu rosto, silenciando meus gritos. Outra me amordaçou.
Eles vieram para cima de mim, um após o outro, suas formas monstruosas se transformando em um pesadelo aterrorizante. A dor era insuportável, uma agonia lancinante que rasgava meu corpo, muito pior que qualquer fogo, qualquer osso quebrado. Senti um jato quente entre minhas pernas, sangue escorrendo para os lençóis rasgados. Minha visão embaçou, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Fechei os olhos, recuando para o fundo da minha mente, rezando pelo esquecimento. Pela morte. Qualquer coisa para escapar deste inferno vivo.