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Eu ousaria afirmar que existem duas verdades incontestáveis na minha vida. A primeira é que eu amo borboletas, a segunda... Bem, que o Caio é meu melhor amigo. O único, aliás, e nós fazemos o tipo que não esconde nada um do outro, ou pelo menos eu pensava ser assim.
Como eu descobri que nem tudo é o que parece ser? Bom, era sábado à noite e Jennifer, uma de minhas melhores amigas, iria dar uma festa, já que seus pais foram viajar. Porém, o que importava mesmo, é que ela havia convidado Henrique, Felipe e o amigo dele, Kaique. Eu tinha uma queda enorme pelo Henrique, Jennifer por Felipe e a Carla - prima da Jennifer - pelo Kaique.
Estava tudo planejado, eu iria tomar uma atitude e chegar no Henrique. Finalmente declararia meu amor por ele e ficaríamos juntos pela eternidade; e, claro, minhas amigas planejavam fazer o mesmo. No entanto, tudo foi ladeira abaixo quando Caio, meu único e melhor amigo, resolveu que iria à festa também, alegando que não viajaria com os pais no final de semana.
Ou seja, mais uma vez, eu teria meu plano arruinado pelo meu amigo. Pois, desde que me entendia por gente, ele sempre queimava meu filme e vice-versa, precisava admitir. Era sempre assim, os garotos fugiam devido ao Caio, que vivia grudado em mim; e as garotas, como devem imaginar, ficavam com ciúmes da nossa amizade e pediam para ele escolher entre mim e elas.
Não era difícil prever que o Caio sempre me escolhia e, permanecia forever alone. Contudo, eu queria que as coisas diferissem naquela festa, isso mesmo, apenas um dia! Qual é?
Uma garota precisa ter a oportunidade de beijar o garoto que gosta ao menos uma vez na vida. Entretanto, com o Caio por perto, tinha quase certeza de que meus planos falhariam.
- Amiga, você está um arraso! - Carla elogiou sorrindo, enquanto fechava meu vestido tomara que caia.
- Você acha? - questionei, insegura. - Será que estou bonita o suficiente para conquistar o Henrique de uma vez por todas?
- Você está maravilhosa a ponto de conquistar qualquer garoto, amiga.
- Então vamos, a Jen deve estar surtando sozinha - Peguei sua mão e seguimos para a casa ao lado.
Fomos entrando e o som alto já preenchia todo o ambiente. Tanto que, podíamos ver os primeiros convidados chegarem, juntamente conosco. Eu estava tão animada que até esqueci meu amigo, mas supunha que ele deveria estar chegando também, pois não morava muito longe. Antes, eu preferia ter algum tempo a sós para poder colocar meu plano em prática, porque, venhamos e convenhamos, eu não teria igual oportunidade tão cedo. Foi aí que vi a silhueta de Henrique aproximando-se de mim e congelei. Isso mesmo, eu travei, foi preciso Carla intervir e cumprimentá-lo, para que eu saísse do meu transe. Nesse momento acordei para a vida e, por fim, decidi abrir a boca.
- Henrique, que bom que veio! - exclamei, abrindo um sorriso enorme.
- Oi! Emma; fiquei feliz em te ver aqui - Retribuiu o sorriso parecendo animado.
Silêncio.
O garoto falou que ficou feliz em me ver e eu fiquei muda. Genia!
- Eu vou dar uma força para a minha prima - Carla deu um cutucão sutil na minha costela.
- Tudo bem, amiga - Concordei sorrindo fracamente e voltei minha atenção ao alvo do meu afeto.
- Eu também fiquei feliz em te ver - Finalmente respondi à pergunta dele.
- Você quer dançar? - indagou sorrindo e eu quase desmaiei, sério.
Henrique tinha uma barba rala e loira, olhos de um verde-escuro que lembrava a natureza e era alto, muito alto.
- Quero! - Aceitei rápido demais e me repreendi em pensamento por isso.
Para a minha tranquilidade, ele pareceu gostar. Até me estendeu a mão, que eu prontamente aceitei.
Esse dia estava sendo o melhor da minha vida, já que Henrique nunca me dava bola e eu esperava uma oportunidade de me aproximar dele há uns dois anos. Eu sei, eu sei; vocês podem me julgar como boba apaixonada, por gostar de um garoto que nem me dava atenção. Em minha defesa, eu não conseguia evitar, era mais forte que eu. Caio, na verdade, sempre dizia que eu precisava gostar de alguém que gostasse de mim, para início de conversa. Mas, como diria a banda Supercombo: "Fácil de falar, difícil fazer."
- Você está linda, Emma - Henrique gracejou bem rente ao meu ouvido.
Já estávamos dançando uma música meio lenta do Ed. Sheeran.
- Obrigada - Sorri, apreciando o momento.
- Mas... - Fez uma pausa dolorosa. - Posso te dizer uma coisa? - Eu o encarei.
Não sei porque, eu não gostei desse: mas.
- Pode - autorizei, apesar do pressentimento ruim.
- Não me leve a mal, você é maravilhosa de todo jeito, mas eu te acho muito mais bonita com o cabelo liso.
- Ah!
Meu sorriso murchou, eu senti como se ele tivesse jogado vinagre em mim, meu coração apertou. Como assim? Henrique não tem que achar nada, o cabelo é meu, não dele.
- Desculpe-me, não quis te ofender - Ouvi sua voz soar um pouco baixa demais, para que pudesse entendê-lo bem.
Principalmente com a música alta.
- Imagina, não me ofendeu - Menti.
Nesse instante vislumbrei quando Caio chegou à festa e agradeci aos céus por meu melhor amigo estar por perto. Mesmo que eu não fosse falar com ele de imediato.
- Tenho que ver se as meninas precisam de ajuda - Completei.
Em seguida apenas me afastei, deixando um Henrique confuso e contrariado para trás. Eu queria muito correr para os braços do Caio e grudar nele, como sempre fazia quando estava triste. Entretanto, estava arrasada demais para fazer qualquer coisa de imediato. Então corri para o banheiro, vendo o olhar do meu amigo me acompanhar.
(...)
Eu só queria ficar sozinha, aliás, queria conseguir pegar os caquinhos do meu coração. Eu tenho deixado meu cabelo natural tem cerca de um mês, tudo graças ao apoio das minhas amigas, que me incentivaram a ser eu mesma.
Carla, ainda mais, já que ela têm cachos lindos e coloridos e eu, assim que a conheci, senti uma vontade enorme de assumir meus próprios cachos. Entretanto, não foi tão fácil, eu me achava estranha, desarrumada e ainda estou na fase de adaptação. Daí o garoto que eu gosto há mais de um ano, chega e fala que me prefere de cabelo liso? Para o mundo que eu quero descer!
- Emma - Era o Caio batendo na porta do banheiro.
- Eu quero ficar sozinha - respondi com a voz embargada pelo choro.
- Aquele babaca te fez algo? Se fez, eu volto lá e arrebento a cara dele - Sua voz soou grave e ameaçadora.
Eu não consegui suprimir o riso que surgiu em meus lábios.
Caio sempre foi meu protetor, desde pequeno, quando algum garoto me magoava, lá partia ele em minha defesa. Caio já chegou a bater em um garoto na escola, porque o idiota havia se engraçado para cima de mim. Ele quase virou um super Saiyajin' nível quatro quando contei.
Caio sempre foi meu melhor amigo.
- Eu sou uma babaca - respondi fungando e abri a porta.
Ao me ver chorando, no entanto, ele me puxou para um abraço apertado e afundou a cabeça no meu pescoço.
- O que aconteceu, Emma? - Afastou-se um pouco, apenas o suficiente para olhar em meus olhos.
- Henrique, ele disse que eu fico mais bonita de cabelo liso - Contei envergonhada pelo drama.
- Que otário! - Caio fechou o cenho imediatamente e pude jurar que surgiu uma ruga entre seus olhos. - Emma, esse garoto não te merece, quantas vezes preciso dizer que você merece alguém melhor? - Senti ainda mais vontade de chorar ao ouvir tais palavras e Caio me apertou novamente contra si. - Você é linda e sabe que eu sempre te falei para assumir seus cachos, apesar de você nunca me ouvir.
- Isso é verdade - Fiz uma careta, lembrando que só considerei essa opção ao conhecer Carla.
- O que eu faço com você, Emma? - Caio perguntou, colocando um cacho atrás da minha orelha. - Odeio te ver sofrendo por causa daquele otário, eu queria tanto que enxergasse as coisas.
Caio olhou nos meus olhos, fazendo-me sentir um frio estranho na barriga.
- Caraca! Você é muito lindo - Elogiei, confusa e surpresa em simultâneo.
Ele riu e corou.
Meu amigo era lindo de morrer e eu sequer havia notado isso. Como assim? Certo, eu sempre via as garotas correndo atrás dele o tempo todo, mas não entendia muito bem o porquê disso.
Para mim ele era só o Caio, meu amigo de infância, que me protegia e implicava comigo, sempre que tinha oportunidade. Contudo, jamais havia reparado a fundo em suas características físicas. Como, por exemplo, que seus olhos eram de um castanho tão intenso que pareciam conseguir me enxergar por dentro. Ou que seus cílios eram cheios e escuros; ou que o Caio tinha covinhas super charmosas nas bochechas, ou até que sua boca era tão carnuda e vermelha, que mais parecia um morango bem suculento.
Eu toquei seu rosto.
- Nossa, você só reparou agora que sou bonito? - Ele fingiu estar magoado.
- Eu estava ocupada demais correndo atrás do Henrique para notar qualquer coisa, desculpe - Assumi, envergonhada.
- Emma, por que você gosta tanto desse garoto? - Caio chegou mais perto, encaixando a mão quente entre meu rosto e meu pescoço, causando um arrepio gostoso em mim.
- Não sei... - Minha voz soou quase como um sussurro. - Eu só não consigo mandar nos meus sentimentos.
- Eu queria do fundo do meu coração que tudo fosse diferente entre nós, não sei mais o que fazer... - A frase morreu e Caio afastou-se de mim abruptamente.
Senti até um vazio no peito, constatando estarmos muito próximos um do outro e que eu gostei disso.
- O que quer dizer, Caio? - Aproximei-me dele e ignorei estarmos no banheiro da Jennifer.
- Que você não consegue enxergar um palmo à sua frente, que não envolva o Henrique - Ele virou o rosto para evitar olhar nos meus olhos.
- E o que eu deveria enxergar? - Era como se meu coração quisesse sair do peito. - Me fala, Caio. Eu preciso saber.
- Eu queria que conseguisse enxergar o quanto eu te amo, Emma - Fiquei em choque, não por ele dizer que me amava, pois era corriqueiro entre nós. Foi devido a intensidade com que Caio olhou para mim. - Que eu te amo não somente como amigo e sim como homem, eu te desejo não como quem deseja uma amiga, mas você nunca notou.
Então eu constatei que seus olhos estavam sem o brilho tão costumeiro.
- Você. Me. Ama? - perguntei pausadamente, tentando assimilar o que ouvi.
- Amo com todas as minhas forças, amo como nunca amei outra garota antes e tudo o que eu queria, era que você me correspondesse e deixasse de me ver apenas como um amigo - Caio despejou, como se tudo aquilo estivesse entalado em sua garganta há muito tempo. - Eu fiz de tudo para que percebesse, porém, você só tem olhos para o Henrique e eu já perdi as esperanças...
- Por que você nunca me disse isso antes? - Eu fiquei de frente para ele, sentindo meu corpo todo despertar.
Meu melhor amigo me amava como mulher?
- Emma, eu te mandei a música "pensando em você" e qual foi tua resposta, hã? - indagou angustiado.
- Vou enviar ao Henrique... - Minha voz quase não saiu.
- Você nunca me notou, eu preferi não dizer mais nada por medo de te afastar - Soltou um longo suspiro.
- Desde quando você me ama dessa forma, Caio? - Eu precisava entender, tinha que saber a extensão dos sentimentos dele por mim.
- Acredito que desde sempre - Caio sorriu, como se recordasse de algo muito bom. - Realmente entendi que não a via apenas como uma amiga, quando fiz quinze anos e você me deu aquela corujinha de pelúcia que tinha o seu cheiro. Depois disso, eu tive certeza.
- E logo após eu te contei que gostava do Henrique... - Refleti pesarosa.
- Isso - Concordou de pronto. - Eu não entendia as coisas muito bem, era novo e preferi te apoiar. - Caio disse e senti imediatamente um aperto no peito.
- Como aconteceu? Nós sempre fomos amigos - Objetei, ainda confusa com tudo o que ouvi.
- Eu me apaixonei por você gradativamente, enquanto brincávamos de ser amigos - Caio olhou nos meus olhos sorrindo e mordeu o lábio inferior, parecendo temer a minha reação.
Ao ouvir sua declaração, eu abri um sorriso, um sorriso grande e do fundo da alma. Caio, meu melhor amigo e protetor, me amava além da amizade. O que era completamente inusitado e assustador para mim. Mas, em simultâneo, incrivelmente maravilhoso!
- Caio... - Iniciei um pouco insegura, pois ainda não sabia muito bem o que sentia pelo meu melhor amigo.
Que ele era lindo e apaixonante? Sabia. Que me tratava tão bem quanto meu próprio pai? Sabia. Que fazia tudo por mim e eu não via minha vida sem ele? Sabia ainda mais! Porém, eu ainda não estava apaixonada pelo Caio; para falar a verdade, achava erroneamente que não. Já que sempre o enxerguei como um irmão mais velho. Contudo, ao visualizar seus olhos marejados, temendo uma rejeição que, por certo, ele imaginava que viria. Eu fiz a maior loucura da minha vida, pelo menos era o que acreditava piamente ter feito naquele momento.
Eu o beijei.