Adriel sorriu e puxou ela para dentro do portal. July viu o gramado ficar cada vez mais perto e quando olhou para trás procurando seu quarto, não o encontrou mais. Já tinha passado pelo portal e provavelmente fechou. Ficaram em silêncio olhando o local. O ar era fresco e tinha um cheiro gostoso. Como no sonho dela. O sol não queimava como o da terra, pelo contrário, aquecia.
- Parece meio deserto aqui.
- Porque estamos no local que você sonhou.
- E o que isso tem a ver?
- Estamos nas montanhas.
- Oh!
- Aqui em cima vamos encontrar mais plantas.
- E como chegamos aos outros?
- Existe uma cidade onde moramos.
- Você mora com seus pais?
- Não.
- Mora sozinho?
- Não.
- Mora com quem?
- Quer saber isso agora mesmo? - perguntou com uma sobrancelha levantada.
- Tem razão. Conhece esse lugar?
- Sim.
- Então me guie.
O loiro sorriu. Nesse mundo ele não parecia tão branco como no de July, mesmo assim ainda era bastante claro.
Começaram a andar pelo gramado. July estava achando tudo lindo, pois onde vivia não tinha tantas cores como aquele lugar. As árvores eram todas altas, algumas de troncos grossos e outros finos. July jurou que viu uma árvore de tronco amarelo.
- Isso é tão incrível!
- Aqui é só a parte de cima.
- A cidade já não deve ser assim tão bonita, não é?
- Bem, todas as casas são feitas de madeira. Respeitando é claro, cada árvore que foi usada.
- Aqui tem bem mais mata do que casas, não é?
- Sim. A população não é muito grande.
- Podemos ver mais?
O menino sorriu ao ver os olhos faiscantes de alegria de July ao pedir.
- É claro!
Continuaram caminhando pelo local. Agora tinha uma pequena descida, mas nada impossível de passar, pelo contrário, o caminho continuava gramado e verde. Parecia que não tinha fim. A garota estava encantada com as coisas que via.
Parou em frente a um pedaço diferente do gramado. Era todo colorido, amarelo, rosa, azul, roxo, laranja. Era tão lindo que a menina ficou petrificada de tão encantada. Achou que a grama ali era pintada, mas mudou de ideia ao ver todas as cores saindo de seus lugares e voando pelo céu. Eram borboletas. July sorriu largamente. Incrível o que um conjunto de borboletas de diversas cores podem fazer voando juntas. E o céu era azul claro e sem nenhuma nuvem. Na Terra havia tanta poluição, que as nuvens que cobriam o céu não eram naturais, muito menos brancas.
Depois do espetáculo das borboletas, eles seguiram seu caminho. Chegaram em um lugar onde o espaço era pequeno, no meio tinha uma árvore não tão alta, seus galhos caíam em volta fazendo um formato quase igual ao de um guarda-sol. No chão a grama verde se estendia e várias outras árvores enfeitavam o lugar.
July se aproximou lentamente. Aquele era o verdadeiro lugar que ela sonhou. Parou em frente à árvore "guarda-sol" e ficou de costas para ela. Podia ver claramente o tigre branco vindo em sua direção, como no último sonho.
- Você tinha razão! Meus sonhos estavam certos! - falou, animada.
- Eu adoro esse lugar - disse, passando a mão na árvore.
- Como posso encontrar o tigre?
O silêncio foi tão grande entre os dois, que July ouviu perfeitamente os pássaros cantando na floresta.
- Que foi? - perguntou quando percebeu ele tão sério.
- O tigre não aparece muito... É raro encontrá-lo.
- Que pena. Queria conhecê-lo pessoalmente.
- Um dia o verá. Agora vamos para a cidade. Outro dia voltamos para você conhecer o resto da floresta.
- Tudo bem.
Seguiram em direção a cidade. Passaram por um caminho estreito de terra, em volta dessa passagem, tinha uns matinhos que acompanhavam a terra do chão, fazendo um perfeito caminho. Pareciam respeitar aquele espaço e não ficavam atrapalhando a passagem.
July parou de andar ao ouvir um barulho. Adriel só percebeu depois de um tempo e teve que voltar um pouco para onde a menina estava. Ela procurava o tal barulho que ouviu, mas não via nada.
- Que foi?
- Estou ouvindo um barulho...
Os dois ficaram em silêncio para ouvir.
O som era como um paraíso para a garota. Nunca tinha escutado dessa forma em sua vida, mas sabia exatamente o que era. Quando seus pais colocavam em um copo, por mais que fosse pouco, fazia barulho. Só que era diferente, pois era um barulho mais forte.
Adriel entrou pelo caminho da direita e a menina o seguiu. Andaram um pouco. Quanto mais se aproximavam, mais alto o som ficava. July sentia seu coração acelerado. Ansiava para ver o que fazia o som ser tão forte assim. O loiro passou por baixo de um galho e segurou para ela passar, quando passou por ele, ficou deslumbrada com a visão.
Era muita água.
Caía de uma enorme pedra, que olhando para cima, ficava até um pouco tonto. Era incrível ver a água caindo daquela altura toda. Formava um grande lago em frente a eles, limpo como July nunca tinha visto nas águas que bebia em sua casa. Totalmente transparente. Se via o fundo todo.
- É bonito, não é? - perguntou já ao lado da garota.
- Nunca vi algo tão lindo em minha vida! As águas que bebemos não são tão claras assim.
- Aqui as águas são sempre cristalinas.
- Magnífico!
- Vamos? - perguntou indo em direção ao lago.
- Aonde?
Adriel não respondeu. Ele foi até uma parte mais alta próximo ao lago e subiu em uma árvore. July o olhou confusa. O garoto sorriu e se jogou de lá de cima. A menina se assustou e correu até a beirada do lago procurando-o na água. Como era clara, logo viu ele vindo em direção a ela por baixo da água. Em pouco tempo colocou a cabeça para fora. A menina suspirou em alívio. Ele realmente não batia muito bem da cabeça!
- Você podia ter se machucado! - Brigou com ele como uma mãe que repreende seu filho por fazer algo perigoso.
- Eu sempre fiz isso e nunca me machuquei - respondeu, sorrindo. - Por que você não tenta?
- Eu? De jeito nenhum! - falou se afastando da beirada.
- A água está muito refrescante.
- Não vou pular da árvore.
- Tudo bem. É só entrar andando mesmo.
July olhou para o chão e ficou pensativa. Estava a poucos centímetros da água. O fundo do lago tinha uma areia fina e branca. Era muito convidativo, mas ela estava com medo. Nunca viu tanta água assim em sua vida e não sabia o que fazer lá dentro.
- Vamos, eu te ajudo. - Estendeu a mão na direção dela.
A garota olhou para ele. Tinha um olhar de ternura e parecia saber o que se passava pela cabeça dela.
A menina se aproximou devagar e quando sentiu a água fresca molhar seu sapato, sorriu. Então ela teve uma ideia: arrancou aquele sapato horroroso de seu pé e o colocou no canto embaixo da árvore, depois voltou ao lago e entrou sem os incômodos sapatos. Agora sim sentiu a água diretamente em sua pele e foi a melhor sensação que já teve. Foi se aproximando mais de Adriel, que ainda tinha a mão estendida na direção dela. Conforme se aproximava, a água subia mais pelo seu corpo. Agora já tinha ela em seus joelhos. O garoto estava mais para dentro do lago e tinha a água em seu peito.
Quando começou a pegar em suas coxas, ela parou.
- Algum problema?
- Acho que não vou passar daqui.
- Por que?
- Tenho medo - disse, sincera.
- Medo de que? Eu estou aqui e bem. - Adriel sorriu.
- Mas você é mais alto do que eu - falou fazendo careta e o garoto riu.
- Mesmo assim você consegue ficar aqui sem se afogar.
- O que é afogar?
- Deixa pra lá. Venha, vou te ajudar.
- Mas... Se a água me cobrir a cabeça?
- Isso não vai acontecer.
- Como você sabe?
- Porque aqui não está tão fundo para isso - respondeu com calma. Qualquer um já teria se irritado com o jeito que July estava e falava. Parecia uma criança medrosa e insegura.
- Então tudo bem.
Demorou um pouco, mas ela finalmente se mexeu de seu lugar e foi caminhando lentamente pela água para perto de Adriel. Ele esperava com toda a paciência do mundo.
A água subia cada vez mais pelo corpo dela e o medo aumentava junto. Sentiu molhar sua barriga e estremeceu, mas não foi uma sensação ruim, pelo contrário, refrescou todo seu corpo. Se não estivesse com tanto medo, aproveitaria mais o momento.
Parou de repente e olhou o loiro com pavor. Achava que não conseguiria passar de onde estava, a água já estava em seu peito enquanto em Adriel ela via bem mais abaixo do que isso. Ele chegou um pouco para perto dela, pois não seria tão bom ela chegar onde a água batia no peito dele.
- Eu não consigo... - Começou a andar para trás querendo voltar, mas tropeçou em seu próprio pé e acabou afundando.
Aconteceu muito rápido, viu tudo ficar embaçado e sentiu a água invadir seus pulmões. Estava totalmente debaixo da água e se debatia querendo respirar. Sentiu um par de mãos a segurarem com firmeza e logo estava fora da água tossindo sem parar, mesmo assim continuou se debatendo pelo desespero.
- Ei, fica calma - pediu, mas ela continuou tossindo e se debatendo. - July me escute...
Ela não conseguia nem escutar, estava apavorada. Não queria ter aquela sensação nunca mais!
- July! - falou um pouco mais alto e ela parou de se mexer. Já tinha passado a crise de tosse e ela respirava rapidamente e tinha os olhos arregalados.
Só depois percebeu que estava sendo segurada por ele e de uma maneira bem esquisita. Era como se ela fosse uma criança pequena e bem leve. Adriel tinha as mãos embaixo dos braços dela e a erguia do chão fazendo ela ficar da sua altura. Mas não era a água que fazia ela ficar mais leve, pois estava batendo na cintura do garoto e nas pernas de July. Ele a levantava como se realmente não pesasse nada.
- Está tudo bem. Você está salva.
- O que aconteceu?
- Você estava se afogando.
- Isso é se afogar... Não é legal...
O garoto riu.
- Está se sentindo bem?
- Não. Quero pisar em terra firme - resmungou.
- Tudo bem. Vou te levar até lá.
A menina olhou para a beirada do lago.
- Você confia em mim?
July ficou um tempo olhando os olhos dele. Podia ser loucura ou coisa da sua cabeça, mas com essa pergunta, pareceu que estava falando com o tigre branco, como em seu sonho. Achou que até a voz era a mesma.
- July?
- Não deixe eu me afogar de novo.
- Isso não vai acontecer. - Se aproximou e cochichou: - Aqui é raso.
- Não tem graça - disse emburrada.
O menino deu uma risadinha.
- Vamos sair. Daqui a pouco é noite. - Começou a andar pelo lago e só a colocou no chão quando a água batia em sua canela. Assim se sentiria mais segura.
O loiro saiu do lago e olhou para trás. July estava pensativa. Foi tão estranha a sensação que teve com a pergunta dele...
- Vamos?
- Sim.