Capítulo 4 Quarto

Andaram pelo caminho até que July pôde ver umas casinhas bem pequenas. Todas do mesmo tamanho. Pareciam cabanas. Olhando de longe, podia dizer que tinha apenas um cômodo, mas à medida que foram se aproximando, percebeu que eram maiores do que achou. Era uma vila e não cidade, pelo menos para a garota. Olhava cada canto do lugar, queria registrar tudo, não sabia se ficaria muito tempo naquela terra e queria aproveitar. Só dispensava se afogar.

Cada casinha era de uma cor diferente: amarelas, azuis, verdes, roxas, laranja, marrom. Mas todas do mesmo tamanho e formato. Era até bonito de ver. O chão era de terra e tinha uns lampiões na pequena estrada (já começava a escurecer e as tochas estavam acesas).

- Aqui é interessante.

- É a nossa cidade.

- Pra mim é uma vila.

- Eu disse que a população era pequena.

- Mas não imaginei tanto.

- Não gostou?

- Eu amei! - falou sorrindo e não tirou os olhos das casas.

- Que bom. Aqui é o melhor lugar para se viver.

- Você nasceu aqui?

- Quase isso...

- Por que você é tão misterioso?

Adriel sorriu e não respondeu.

- Como pintaram essas madeiras das casas?

- Não pintaram.

- Não? Mas como são coloridas assim?

- As árvores que foram usadas tinham essas cores.

- Roxas?

- Sim. Todas que você vê.

- Isso não é possível, é?

- Te disse que aqui era tudo diferente de seu mundo.

Enquanto conversavam, seguiam em frente. Na verdade, July o acompanhava, pois não conhecia nada ali.

Na última casa de cor amarela, apareceu uma garota de cabelos compridos, era loira como Adriel e bem branquinha também. Assim que o viu, veio em sua direção com uma expressão nada bonita.

- Onde você esteve? - perguntou com as mãos na cintura. - Tem ideia do quanto te procuramos? Eu espero que você não tenha feito coisa errada, Adriel! Eu te pego!

O garoto fez um barulho com a garganta para ela parar de falar e apontou para July.

A loira olhou a menina e ficou uns instantes em silêncio. July já estava sem graça de tanto que a menina a encarava.

- O que significa isso?

- Vamos pelo menos entrar?

- Conte primeiro onde você achou!

- Vamos falar em outro lugar, Safira!

- Vem comigo! - falou autoritária e virou as costas a eles.

- O que está acontecendo? - July perguntou.

- Vou te explicar. Só vamos logo antes que ela dê chilique.

Seguiram a menina enfezada. Ela andava em passos largos e rápido demais para July acompanhar. A menina teve que dar uma corridinha. A loira parou no fundo da pequena casa amarela e respirou fundo antes de virar de frente para os dois. Ela ficou um tempo encarando July e depois seus olhos se moveram para Adriel.

- Explique.

- Bem... Ontem quando fui dar uma volta pela floresta, algo estranho aconteceu.

- O que? - Cruzou os braços.

- Uma luz brilhou na minha frente e então vi um lugar completamente diferente daqui. O chão tinha uma cor esquisita... Fiquei curioso e me aproximei, mas quando percebi, já não estava mais nesse mundo.

- Oh! - a loira falou, horrorizada.

- Então percebi que estava na Terra. Desconfiei pelas histórias que nos contaram e tive certeza quando encontrei algumas pessoas e elas me cercaram por ser diferente. Fugi delas, pois queriam me acorrentar.

- Eu não acredito! Por quê?

- Eu não sei. Então corri, corri e corri. Amanheceu o dia, mas não é como aqui. O sol de lá é muito laranja... Mas então outras pessoas me encontraram.

- Outras? - perguntou, apavorada.

- Sim. Mais parecidas com ela. - Apontou para July e a garota a olhou com desprezo.

- Como assim?

- Eram menores do que as outras que me pegaram.

- Você deve ter sido pego pelos soldados do Kirovs. Como conseguiu escapar? - July perguntou assustada e ignorou o olhar da loira zangada.

- Eu corri.

- Eles não atiraram em você?

- Ouvi umas coisas, mas não sei se é o que está dizendo. Agora voltando a história...

- Continue e não interrompa - a loira falou com July.

Que garota arrogante! Mas July já estava acostumada com isso. Só tinha que manter o controle...

- Eles me cercaram e fizeram muitas perguntas. Todas ao mesmo tempo e como eu sei pela lei que não devemos nos comunicar com... - Fez uma pequena pausa e continuou seu discurso. - As pessoas da Terra, não respondi. Então ela apareceu.

- E aí?

- Ela me ajudou a me livrar daquele interrogatório. Sei que pelo rumo da conversa, eu ia acabar sendo levado e preso, mas ela não permitiu. Me tirou do meio da multidão e me salvou.

- É verdade isso? - perguntou diretamente a July.

- Bem... É. Se eles o levassem para os soldados, iam matá-lo!

A garota deu uma risada seca e olhou para Adriel.

- Se eles conseguissem fazer isso, ia ser uma coisa boa para mim! Assim não ficaria mais me preocupando com ele!

- Que horror!

A loira encarou July quando disse isso.

- Por que ajudou ele?

- Porque iam matá-lo, já disse.

- E como ela veio parar aqui? - perguntou agora a ele.

- Um portal se abriu.

- O portal abriu na frente dela?

- Foi.

- Como abriu?

- Eu não sei. Simplesmente abriu e estamos aqui.

Os três ficaram em silêncio depois do que ele disse. A garota estava pensativa encarando July. Se eles estão confusos com tudo isso, imagina ela?

- Será que tem a ver com aquela história?

- Isso não passa de uma lenda, Adriel.

- Que história? - July se meteu na conversa deles.

- Você não tem que saber de nada! Nem é daqui.

- E daí? Eu estou aqui, não estou?

Adriel sorriu quando July perguntou de braços cruzados, já estava irritada com a loira.

- Quem você pensa que é?

- Não penso nada! Só não é educado falar das pessoas na frente delas! Muito menos em códigos! - falou, estressada.

A loira a olhou espantada.

- E quem disse que estamos falando de você?

- Ué, ele perguntou se não tem a ver com "a história". Não sei que história é essa, mas se um portal se abre e eu estou aqui e ele fala disso, logo se pensa que falam de mim.

Um pequeno silêncio se fez no ambiente enquanto July encarava a garota de cara feia e ela a olhava espantada. Agora as expressões inverteram.

- Você está certa. Mas a história da qual ele fala é apenas uma lenda.

- Como é a história?

- Tem certeza que o portal abriu sozinho, Adriel? - perguntou irritada.

- Claro que sim.

- Conte a sua amiga então a história, assim ela deve parar de reclamar!

- Oh puxa! Desde que nos encontramos que você não fez outra coisa a não ser reclamar! Agora vai falar de mim?

- Tudo bem, Safira, entre e beba um copo de água. Vai te fazer bem - Adriel falou ao ver o olhar de raiva dela.

A loira se afastou deles e entrou na pequena casa. Mas antes de entrar, fez uma reverência na frente da porta. É louca mesmo!

July olhou para o garoto. Tinha os braços cruzados e a cara amarrada. Ela sempre foi uma garota que não controlava bem suas atitudes e sempre foi um problema para os pais com isso.

- Sua namorada é uma chata!

Adriel caiu na gargalhada.

- E não tem graça!

- Ela não é minha namorada.

- Seja o que for, é uma chata!

- Eu sei. Ela é meio temperamental, mas...

- Meio? - interrompeu o que ele ia dizer. - Ela é totalmente temperamental e chata!

- Você se acostuma.

- Acho que não. Por que ela falou daquele jeito com você?

Adriel deu de ombros.

- Coisa de irmã mais velha.

- Oh! Irmã?

- Sim.

- Pensei que ela tinha sua idade.

- É bem mais velha.

- Quantos anos?

- Muitos - respondeu rindo.

- Qual a graça?

- Vou te dar um copo de água, você está muito nervosa.

- Por que não responde minhas perguntas? - perguntou, histérica.

- Puxa como ela está irritada! Já deu água para ela?

July olhou para o lado na hora em que ouviu a voz. Um garoto alto e magro estava ao lado dela. Era só um pouco menor do que o Adriel. Tinha cabelos castanhos e olhos da mesma cor.

- Vou dar água a ela. Espere aqui um minuto - disse Adriel e se afastou dela.

- Mas como assim esperar?

Ele nem escutou e entrou na casa, não antes de fazer uma reverência na porta. Mas que diabos era aquilo?

- Você é uma terráquea, não é?

- Falando assim me sinto um E.T. - resmungou e o garoto riu.

- Mora na Terra?

- Sim.

- Então é terráquea! - Riu do próprio comentário.

Os dois escutaram um barulho perto da casa e olharam para trás. Um tigre vinha na direção deles. Era enorme como nunca se imaginou. Nas quatro patas era bem maior do que ela. July se sentiu apavorada. Parecia que não ia desviar o caminho, era para onde estavam que ele ia.

Começou a andar de costas e quando teve certeza de que ele ia para o mesmo lugar que estava, saiu correndo como louca. Foi tão rápido que só ouviu a voz do garoto:

- Adriel, sua amiga!

July se aproximou da pequena casa e quando chegou perto da porta, algo bizarro aconteceu.

Ela sumiu e começou a se transformar em outra coisa. July deu uns passos para trás sentindo medo. As madeiras da porta se contorceram e ganharam forma. Em pouco tempo no lugar da porta, tinha um rosto. Um rosto de madeira e parecia enfurecido. Adriel e Safira chegaram correndo ao ouvir o grito do outro garoto. Os dois ficaram olhando a cena.

O rosto encarava July e ela estava paralisada de medo.