Capítulo 5 Quinto

Ao ouvir o garoto falar, os dois saíram pela porta da frente e correram até onde estava July. O loiro ia entrar entre o "rosto" e a July, mas Safira o segurou.

- Espera - disse sem tirar os olhos dela.

O rosto ficou um tempo encarando July. O silêncio foi grande, a menina não sabia se corria ou esperava para ver o que ia acontecer e os outros ficaram parados olhando-a. Até queria correr, mas suas pernas não obedeceram.

- De onde você vem?

July arregalou os olhos quando o rosto perguntou e nem conseguiu responder.

- Não sabe falar?

- July responde - Adriel falou com ela.

- Da Terra... - respondeu.

- Da Terra! Como chegou aqui?

- Um portal abriu.

- Quem abriu?

- Eu não sei.

O rosto ficou em silêncio olhando a menina. Parecia que podia ler sua alma com os olhos.

- Você é muito especial, July.

- Por quê?

Foi possível ouvir a risadinha de Adriel. Ela sempre tinha que fazer perguntas sobre tudo!

- São poucos os humanos que entram neste mundo. Ainda mais da forma que você entrou.

- Você sabe dizer como aconteceu?

- Não exatamente.

- Se permite dizer... - Adriel se aproximou deles. - Ela tinha sonhos com esse mundo antes de vir aqui.

O rosto fez um movimento como se flutuasse e depois voltasse para o lugar que estava. Era como eles expressavam surpresa ou alegria.

- Espetacular! Espetacular! - disse, eufórico. - Já sabia de nossa existência?

- Eu sempre achei que era apenas sonho, mas ele apareceu e me disse que eram reais.

O rosto encarou Adriel como se lesse a alma dele também. Em pouco tempo sorriu olhando o menino.

- Sabe o que acho disso?

Adriel negou com a cabeça.

- Vai ser a melhor coisa que te aconteceu desde a criação do mundo.

O loiro sorriu e olhou para a menina. Ela tinha uma expressão completamente confusa e olhava o grande rosto até com um pouco de medo.

- Não tema, criança. Seu futuro é... Encantador...

- Você pode ver o futuro?

- Sim, mas nem sempre vejo por completo. Algo em você ainda é um mistério para mim.

- Você me assusta.

A risada foi alta e grave. Fez July se afastar um pouco.

- Aqui só rejeito quem não é bem-vindo.

- E eu sou?

- Oh sim! Muito bem-vinda. - Virou seu grande rosto em direção a Safira. - E claro que todos devemos tratar bem os convidados bem-vindos.

A menina concordou com a cabeça.

- Eu preciso mesmo acordar... - resmungou.

- Acha que está sonhando?

- Olhando aquele imenso tigre sentado bem ali. - Apontou para trás. - Sim, acho.

Agora todos riram do comentário. Achou que até o tigre pareceu se divertir.

- Ele não vai te fazer mal.

- Como você sabe?

- Se fosse fazer, já tinha feito e você está na casa dele.

- Casa dele? - Olhou para trás e viu o tigre levantando de seu lugar. Pisava no chão sem fazer qualquer ruído. July não tirava os olhos dele. Apesar de ser enorme, ela não podia negar, tinha uma beleza esplêndida! Ele parou quando chegou em frente a ela.

July se sentia uma pequena formiguinha. Ficava com a cabeça completamente virada para cima para poder ver o rosto dele.

Então seus olhos se arregalaram. O tigre começava a diminuir de tamanho e ganhar nova forma. Em pouco tempo já não era mais tigre e sim um garoto. Parecia o outro que chamou ela de terráquea. Cabelos e olhos castanhos, porém maior do que ele e um pouco mais forte também. Sorria ao ver a cara de pavor de July. E por falar nela, no momento em que ele já não era mais tigre, caiu para trás num profundo desmaio de emoção.

Adriel e Theodor se aproximaram dela para ajudar.

- Humanos são fracos, grande e sábio Radik - falou o garoto que antes era tigre.

- Não diga isso, garoto. Você pode se surpreender. - Ao dizer isso fechou os olhos e voltou a ser a porta da casa.

- Ela morreu? - Theodor perguntou olhando Adriel.

- Eu acho que não. - Checou o pulso dela. - Está viva.

- Ela só desmaiou seus idiotas! - Safira falou, irritada. - Vamos entrar logo. Pegue sua amiguinha e traga para dentro, Adriel.

O garoto obedeceu e pegou July em seus braços. Todos entraram na casa. Adriel colocou a menina onde sua irmã mandou e os garotos saíram. Safira era a única garota dentro da casa e July estava toda molhada.

- Ela é bonitinha.

Assim que Theodor disse isso, recebeu uma almofada na cara.

- É só uma humana.

- E o que você entende de humanos, Kenup? - Adriel perguntou um tanto irritado e puxou a almofada que jogou na cara de Theodor.

Kenup sempre foi um cara metido, que se acha superior a tudo e a todos. Qualquer detalhe que fizesse ele estar por cima de alguém era lucro. Já Theodor era um garoto sensível e amoroso. Procurava se dar bem com todos e gostava sempre de ajudar.

- O suficiente para saber que são fracos.

- Não vão começar a discutir de novo, não é? Somos uma família... - Theodor falou quando os dois trocaram olhares ameaçadores.

- Ele nunca vai ser meu irmão! - falaram ao mesmo tempo e Theodor suspirou chateado. Já tinha tentado de tudo para fazer os dois se entenderem, mas eram muito cabeças duras para aceitar qualquer opinião se não a deles mesmos.

- Bom, querendo ou não, vocês são irmãos.

Os dois torceram o nariz quando escutaram isso.

Antes que pudessem recomeçar a discussão, Safira apareceu onde eles estavam.

- Como ela está? - perguntou Adriel.

- Acho que está bem.

- Não acordou?

- Não.

- Acho melhor ficar de olho nela - falou, preocupado.

- Por que tanto interesse na humana? - Cruzou os braços.

- Ela veio comigo e está aqui porque eu falei de seus sonhos... Me sinto responsável.

- Só isso? - Cerrou os olhos em total desconfiança.

- Só.

- Vou tentar acordá-la. - Voltou para onde estava.

- O que será que o Radik quis dizer com "ela é especial"? - perguntou Theodor.

- Eu não sei.

- Será que tem a ver com a história?

- Isso é uma lenda, Theodor! Uma lenda!

- Fica na sua, Kenup! Nós dois estamos conversando - Adriel o repreendeu.

- Já vai começar... - Theodor resmungou.

- Pois falo quando eu quiser! Não preciso da sua permissão para me impor!

- Só que nem todos querem saber sua opinião!

- Eu não ligo! Falo mesmo assim.

- Então fale sozinho!

- Parem com isso... - pediu Theodor, mas era como se ele nem estivesse ali.

- Sozinho? - Deu uma risada cínica. - Eu não falo sozinho.

- Eu acredito que ela tenha a ver com a história sim, Theodor. Por que qual explicação teria para ela vir para cá? E ainda sem alguém ter aberto o portal... - Ignorou o garoto e olhou na direção de Theodor.

- Alguém não poderia ter aberto daqui?

- Quem?

- Estão me ouvindo? - Kenup perguntou, nervoso.

- Eu não faço ideia, mas sei que algo envolve ela sim.

- Estou tão curioso com isso! - revelou Theodor.

- Eu também.

Kenup deu um soco na mesa ao perceber que estava sendo ignorado. O que mais o irritava na vida era ser ignorado ou que não o vissem.

- Estou falando com vocês, droga!

- Acalme-se, Kenup - Theodor suplicou.

- Acalme-se o caramba! Estou falando com vocês e fingem que não estou aqui!

- Te disse para falar sozinho - respondeu Adriel.

- E você? O grande e poderoso tigre branco! - falou com deboche. - Até parece que merece ser um dos alfas!

- Com essa arrogância toda, você acha que tem direito a isso? - perguntou com o rosto sério.

Ninguém respondeu. Adriel olhou de um para o outro e então virou para trás. Se tinha expressão de raiva ou qualquer outra coisa por estar discutindo, ela sumiu. Ele ficou totalmente sem saber o que dizer ou fazer.

July estava parada ao lado de Safira e escutou a conversa deles.