Ele tinha juízes no bolso e pagava subornos para financiar serviços municipais e centros de ajuda humanitária. Embora seu coração fosse tão grande quanto um micróbio em um vírus, sua cortina de fumaça era tão profunda e densa que todos pensavam que ele era Deus. Eu não me importava com o quão corrupto ele era. Se me desse dinheiro, eu aceitaria. - Não é o que todos precisam? - Ele perguntou com sua forma melancólica de dispensar a todos. - Ouça, eu tenho outros compradores. Posso liberar o espaço, não significa nada para mim, mas você parecia precisar. Seu prazo expirou ontem. Sei que você é um homem ocupado, por isso trouxe os contratos comigo. Agora, se não quer nosso serviço de total anonimato, nem pense no assunto novamente. Tenho vários compradores interessados. Eu também sabia jogar duro, ninguém passava por cima de mim desse jeito. - Ora, não vamos ficar nervosos sem motivo. Vou assiná-los essa noite. Ele deu um tapinha no meu ombro e seguiu em frente. - Você vai assinar agora ou não vai assinar mais - disse eu calmamente e em voz baixa, mas sabia que havia sido ouvido. Meus olhos se moveram apenas por um momento para ver se minha doce Virginia tinha visto o drama acontecendo. Certamente, seus olhos estavam acompanhando tudo. Boa garota. Assim que tivesse resolvido meu problema com JoBob, ela seria a próxima. JoBob se virou com uma expressão de ódio, mas sabia que eu estava com a vantagem. - Encontro você na sala de conferências - ele sibilou. Sem mais delongas, fui pegar o contrato e levei para a pequena sala ao lado do saguão principal. Como o local era uma pousada pitoresca, a sala estava cheia de pinturas a óleo à beira-mar e motivos de cor azul e branco brilhante. Tudo parecia tão alegre em meio ao tom nefasto de nossas negociações. Eu sabia muito bem que ele estaria escondendo dinheiro de empreendimentos comerciais secretos, talvez até contrabando, já que os apartamentos no Brasil faziam parte do pacote. Tudo sobre o nosso negócio era sombrio, e um homem que estava prestes a se candidatar à presidência não poderia ter esse tipo de sombra sobre a cabeça. Ele queria o mais alto nível de segurança impenetrável. - O que diabos está tentando fazer? - Ele entrou sendo tão idiota quanto eu sabia que ele era. - Negócios. Sou um homem de negócios e não fico de palhaçada por aí. Já você... Eu entreguei o contrato para ele marcado com pequenas abas adesivas que delineavam onde ele precisava assinar. - Eu queria negociar mais - ele bufou, sabendo que era uma ideia ridícula naquele momento do jogo. - Nada disso. Esse é o contrato. É pegar ou largar. Ele resmungou, mas não disse mais nada. Em minutos, aquela provação acabou e seu comportamento ficou instantaneamente mais agradável. - Gosto de você, Davis. Você e eu somos feitos do mesmo aço! Ele me bateu com força no ombro. - Gosto de você também, Rails, mas não somos farinha do mesmo saco. Por isso, manterei discrição a qualquer custo enquanto estiver pagando minha empresa para guardar seja lá o que estiver escondendo. Não quero a polícia federal ou o serviço secreto se metendo onde não deve. Encarei seu rosto avermelhado e inchado com um olhar duro e treinado. - Eu muito menos, pode acreditar. E tudo estava acabado. Fiquei feliz quando ele foi embora, pois agora poderia levar Virginia para minha cama essa noite. Capítulo 3 OFÉLIA Observei Asher Davis dispensar a mulher que trouxera e depois sair com JoBob Rails. Definitivamente havia drama acontecendo aquela noite. Queria muito ficar e assistir a tudo, mas suspeitei que seria o próximo alvo de Asher e, como sua garota havia ido embora, fiquei mais vulnerável. Eu amava observar pessoas. Havia tantos políticos poderosos na sala, todos competindo por um lugar no tabuleiro. Fiquei de lado por mais alguns minutos, querendo ver a ação acontecer. Fiz notas mentais sobre o campo do jogo político para a próxima eleição. O que pude extrair de conversas aqui e ali foram assuntos importantes, como economia, salários e relações comerciais internacionais fracassadas. Os outros sons da noite eram resmungos amargos de Lisa Horn. A sua cruzada pelos direitos das mulheres e pelo empoderamento, um grito de guerra bem antiquado, estava sendo rejeitado. Mas até que ela conseguia esquentar um pouco as coisas enquanto se mantinha sempre nos santuários políticos masculinos. A maioria das pessoas ali não tinham nada além de coisas odiosas a fazer. Eu queria que o país soubesse exatamente quem estava dizendo o quê, já que Lisa Horn era uma queridinha dos eleitores americanos. Estava tão focada na tarefa que baixei a guarda por um momento para ouvir um debate acalorado. Quando senti a presença de outra pessoa ao meu lado, meu coração quase caiu do peito. - Bebendo sozinha? Eu reconheceria aquele ronronar sensual em qualquer lugar, mesmo após ouvi-lo por apenas alguns segundos. Eu me virei para ele e entrei em um modo feroz e agressivo. Sedução seria perigoso com esse cara, então o olhei com uma cara que dizia que minha vagina tinha dentes e que eu não tinha medo de usá-los. - Quer compartilhar da minha taça? Meu comentário o fez rir. - Obrigado, eu tenho a minha. Então, já está pronta para colher os melhores furos de reportagem? Há muito que eu possa oferecer. Ele se encostou na parede, me prendendo no canto com eficiência. - Sim. Até tenho meus favoritos. Dei a ele um sorriso amarelo. - Mesmo? Conte mais. Você não parece ter conversado muito essa noite. Ele se inclinou, certo de que havia me pegado na mentira. - Há um bar de degustação aqui, sabia? É incrível, você pode escrever o nome dos seus favoritos em um papelzinho. Os papéis são sorteados e o vencedor ganha uma caixa do seu vinho preferido. Você devia dar uma olhada. Me fazendo de boba, aproveitei a oportunidade para escapar por debaixo do braço dele. Ele me agarrou levemente. - Não sei onde fica. Que tal me mostrar? - É logo ali. Acenei com a cabeça para a mesa, me soltei e saí da sala de jantar. Corri por dois lances de escada até chegar ao santuário do meu quarto. Eu senti que ele estava me seguindo, mas não ousei olhar para trás. Quase derrubei as chaves que haviam me dado na recepção enquanto tentava abrir a porta. Quem ainda usa chaves? Segura em meu quarto, finalmente respirei aliviada. Ouvi passos no corredor parando em minha porta, então, fiquei em silêncio, esperando que ninguém mais pudesse entrar. Felizmente, ficou tudo bem. Após o que pareceu uma eternidade, os passos continuaram pelo corredor. Conferi se o quarto estava bem fechado e me preparei para passar o resto da noite no quarto. Uma garrafa de cada um dos vinhos que eles ofereceram lá embaixo apareceu na minha cômoda. Oito garrafas de vinho, eu estava no céu. Havia também uma enorme cesta de presentes com queijos, biscoitos artesanais, azeitonas, tapenades, pastas, chocolate... Caramba! Valeu a pena ser perseguida por um bilionário. Meu único problema foi que eu não consegui um furo. Vi vários políticos, acompanhei partes de conversas tentadoras, mas nada suficientemente bom para uma história. Eu precisava de algo melhor. Eu esperava pegar JoBob fazendo algo escandaloso, mas ele estava sempre tão cercado de pessoas que eu não conseguia chegar perto o suficiente. Também não havia muito que eu pudesse fazer trancada no meu quarto. Aquele maldito Asher Davis me tornou uma prisioneira. Decidi trocar de roupa e tentar mais uma vez. Eu prendi meu cabelo curto, tornando minha aparência mais inacessível, coloquei uma calça e uma jaqueta. Com uma camisa abotoada até o pescoço, achei que teria uma chance melhor de me misturar sem chamar atenção demais.