- Casada? - Eu a interrompo apontando para a aliança. O caderninho quase cai da mão dela. Presencio um pingo de aflição junto com rubor no rosto delicado. Talvez seja porque eu não estou deixando-a falar e nem vou deixar que se enverede por outro assunto, uma rota de fuga, enquanto eu não souber com quem estou lidando. Ela olha para a aliança no dedo como se só então lembrasse dela ali. - Não. É um anel de compromisso, eu namoro. Hoje em dia não se costuma usar alianças de namoro, mas meu namorado tem esses costumes românticos. - Ela explica. Namoro. Menos mal. Eu me contento. - Ele não mora aqui por perto, não é mesmo? Vocês não se veem regulamente. - Jogo a isca. - Claro que não. Ryan... Meu namorado se chama Ryan. - Ela esclarece e continua: - Mora bem perto de mim. A gente se encontra quase todo dia. Encontram-se sempre? Agora estou intrigado. Inclino-me para frente e fixo meus olhos nos dela. Hora de usar a voz de terapeuta. - Srta. Cooper, sou terapeuta e cuido de problemas amorosos e sexuais de mulheres, o fato é que agora estou completamente confuso. Não parecer ser uma mulher... bem, de imediato, achei que não tivesse experiência sexual. Agora eu toquei na ferida dela. Vejo surpresa e depois indignação passando nos olhos claros, que, por um momento, parecem quase verdes. Fica me olhando por algum tempo sem responder. Por fim, abaixa os olhos e tira os óculos. - Primeiramente, não creio que uma pessoa seja capaz de saber se outra transa ou não apenas olhando para a cara, segundo, não vim para me consultar, Dr. Graham. Vim para fazer meu serviço. A minha vida íntima com meu namorado não te diz respeito. Uau! Isso foi um soco simbólico? Não conseguiu me nocautear. - Talvez se você viesse em uma consulta experimental sua vida seria do meu interesse. Eu posso ajudá-la em qualquer problema que estiver passando no relacionamento. Desde timidez e falta de desejo à intolerância com fantasias que os homens têm. - Não sei onde o senhor quer chegar. - Ela desafia, curvando o pescoço de lado. Eu sei onde quero chegar. Há um letreiro em neon brilhando na testa dela escrito: " Desafio". E eu adoro desafios. - Pelas suas expressões e aparência, parece ser uma mulher centrada, e bem provavelmente, tímida na cama. Já disse a seu namorado do que gosta? Já perguntou a ele do que ele gosta? Como, onde, em que circunstâncias, onde ele gosta de apalpar e onde gosta de ser apalpado? - Eu não vou discutir sobre isso. Além do mais, chega a soar machista. Então é apenas o homem que precisa de prazer na cama? As mulheres são apenas objetos como em filmes pornôs? - Ela assume um ar meio revoltado, meio intrigado. Filmes pornôs. Ela não sabe o que diz. - Está totalmente enganada, Srta. Cooper. Quando o sexo não é mais casual e o casal entra em um relacionamento sério, passa a ser de grande necessidade que o casal se conheça. Você conhecendo os desejos dele e ele os seus. Na cama, satisfaça e fique satisfeita. Isso eu ensino a minhas pacientes. Sou totalmente contra machismo e feminismo extremista, e não gosto de ver mulheres como objetos. Isso abrange também os filmes eróticos. Ou você acha que aquelas atrizes são amarradas e obrigadas a trepar em frente a câmera? Elas estão lá por que gostam e sentem tanto prazer quanto o homem. Termino meu discurso e fico olhando ela absorver minhas palavras. Marianne pensa e agora dá a tréplica sem muita ênfase. - Mas é um estereótipo machista. Mulheres não assistem pornôs. Os filmes são feitos exclusivamente para homens. A danada conseguiu desviar o foco da vida íntima dela e está querendo debater sobre pornografia como se debate política ou religião. Decido dar corda para ela, vou deixá-la à vontade e ver se ela consegue se enforcar sozinha. - Em parte está correta. Mulheres precisam de muito mais que apenas um vídeo erótico para ter um bom orgasmo e não estou falando que precisam de um homem. Mas usar a imaginação é muito mais prazeroso para elas do que ver sexo explícito num vídeo. - Ela abre a boca para falar mas levanto minha mão. - Entretanto, mulheres gostam e sentem-se excitadas ao ver um vídeo pornô. Apenas por causa da sociedade não admitem. Ela permanece calada me olhando. Ela já teria assistido algum vídeo pornô? - Já assistiu a algum vídeo erótico, Srta. Cooper? - Cruzo meus dedos sobre a mesa esperando uma resposta dela. - Claro que não. - A voz como um grasnar, como se isso fosse um insulto. - Por que o espanto? É algo normal. Casais usam para apimentar a relação. - Não meu namorado e eu. - Ela levanta- se irritada. - Vim aqui para tratarmos de negócios, se não quer meus serviços, então nossa conversa acaba aqui. Interiormente eu bato palmas para ela. Forte e decidida, mulher intrigante. Está toda presa em uma casca. Eu tenho que ajudá-la a sair disso tudo ou não conseguirei mais colocar a cabeça no travesseiro para uma noite sossegada. Como eu sou altruísta. - Tudo bem. - Levanto-me também. Dou a volta na mesa e fico de frente para ela descansando as mãos nos bolsos da minha calça. Ela olha meus sapatos italianos e sobe os olhos pelas minhas pernas, tronco e rosto. Para, por milésimos de segundo no meu peitoral suculento, tenho consciência da minha gostosura. Isso tudo ela faz quase na velocidade da luz, mas eu sou especialista em conseguir desvendar e ler o que uma mulher sente. Sei que ela está me despindo com os olhos, nem tudo está perdido. Decido mantê-la por perto. É melhor aceitar os serviços dela. - Vou pedir a Eva para te dar algumas fotos e plantas de todo esse andar. - Não quer dar uma olhada no portfólio? Precisa escolher cores, texturas... - Faça um projeto, procure por móveis, tecidos, texturas, tudo o que precisar e me mostre depois. - Claro. - Ela anui. Volto a minha mesa e pego um cartão de visita onde se lê: Dr. Sawyer Graham Psicoterapia e psicanálise sexual - Quando a reforma estiver pronta, repense sobre a minha proposta. - Digo e minha voz é novamente séria, de terapeuta. Ela pega o cartãozinho e o olha. - Deixe- me ajudá-la. Tenho certeza de que o relacionamento com seu namorado alcançará proporções surpreendentes. - Mesmo se eu quisesse, Dr. Graham, não posso pagar. Se eu um dia precisar, procurarei alguém nas páginas amarelas da lista telefônica. - Marianne diz entre um sorriso brincalhão, dá um tapinha amigável no meu braço. Porém, quando vê que não estou rindo, desfaz o sorriso imediatamente. Não estou rindo para você, baby. Não vê que estou contrariado? Ela fica séria e me estende o cartãozinho de volta. - Por isso, eu dou uma primeira consulta grátis, experimental. - Não pego o cartão de volta. - Se você gostar, pode marcar outra e os preços aumentam gradativamente até chegar ao total. Fique com o cartão. Pense nisso, faça pelo homem que você ama. Uau! Até eu estou me convencendo com minhas próprias palavras. O que um safado patife não faz para levar uma garota para a cama? É apenas isso que eu quero dela: sexo. Muito sexo que fará a gente suar, ofegar e tremer. TRÊS MARIANNE Não consegui trabalhar o resto do dia, não consegui analisar as plantas que Eva me deu e nem pesquisar modelos para redecorar o consultório. Tive que ir para casa, sob protestos de Alan. Não conseguia parar de pensar no doutor Graham. Na sua beleza, na segurança das suas palavras. Como ele poderia saber? Eu transei uma vez na vida, foi horrível, tenho pânico até hoje só de lembrar, mas não achei que minha falta de diversão na cama fosse tão visível. Eu me sentei, rígida, no meu sofá vermelho na sala, olhando para a TV desligada.