Não sei não, Rachel, ainda tenho as minhas ressalvas sobre trabalhar em um clube de sexo. Sei que você vai dizer, que é um trabalho como outro qualquer, mas não foi para isso que me formei. - Ela me analisa, calada. Odeio quando ela faz isso. - Fala logo, porque sei que vai dizer algo. - Estou tentando te ajudar, Alysson. Vamos fazer o seguinte: você aceita a vaga, e se não der certo, te ajudo a procurar outra coisa. - Você faria isso? - Claro que sim. Mas sei que vai gostar de trabalhar no clube, e você só tem um mês para pagar a primeira parcela da casa e cancelar o leilão.
Ela tem razão mais uma vez, preciso parar de tentar me convencer, que meu emprego dos sonhos cairá em meu colo do nada. - Está bem, Rachel, eu aceito a vaga. Porém, apenas como garçonete. Não estou preparada para tirar a roupa para nenhum pervertido. - Não sabe o que está perdendo. Os pervertidos são podres de ricos. - Ela ri e segura minhas mãos. - Vai dar tudo certo, Aly, você vai ver. - Espero que sim. Esta pode ser a última chance que tenho de um dia sonhar em estar sentada no jardim daquela casa linda. Cuidar das cerejeiras que minha avó tanto amava, e ter a companhia da minha própria família. - Você é minha família, Aly. - Eu sei, mas até você, um dia, terá a sua. Sobrevivi a primeira semana no clube como garçonete. O trabalho é cansativo, mas me viro bem. Enquanto me arrumo para mais um dia de trabalho, escuto as meninas conversando no vestiário. Kate e Sara são acompanhantes e sempre que tem oportunidade, adoram transcorrer suas aventuras com os clientes VIP do clube. E agora é um desses dias. Descobri o quanto elas ganham para passar a noite com eles e devo dizer que o valor é considerável. Resolveria com mais rapidez os meus problemas e eu não teria que contar gorjetas todas as noites para pagar o básico. O salário que receberei mal paga a primeira parcela, e ainda terei as próximas, e além delas, tenho minhas dívidas pessoais. O pouco que ainda me resta, acaba no máximo em mais uma semana. Não posso deixar Rachel pagar nossas despesas, sozinha. E por falar nela... - Oi, Aly, tudo bem? - Ela larga a bolsa em cima da penteadeira. - Tudo. Não te vi chegar ontem. - Acabei ficando mais tempo com o cliente. - E isso é bom, não? Ela me olha. - Que cara é essa? - Pergunto e puxo uma cadeira, fazendo com que se sente. - Nada. Está tudo bem - ela diz. - Só estou cansada, as aulas têm sido puxadas. - Tem certeza? - Ela anda misteriosa e acredito que tem a ver com o tal cliente que resolveu bater ponto no clube. Algumas garotas gostam de fofocar e acabo escutando. O que entendi é que Rachel tem um cliente que só quer ser atendido por ela, e não aceita mais nenhuma das meninas, então ela se tornou exclusividade. Isso deve ser comum. - Tenho sim! - Ela começa a tirar sua roupa da bolsa. - Fiquei sabendo que alguns clientes andam perguntando por você. - Não quero cogitar essa possibilidade, mas nos últimos dias, devido a minha situação, tem se tornado uma opção assustadora. Abigail a gerente do Clube, anda me sondando, e ontem me fez a proposta. Ela quer que eu aceite sair com alguns dos clientes. Depois de ouvir as meninas conversando sobre o dinheiro que entra, além das gratificações, confesso que me sinto mais propensa a aceitar. - Abigail andou conversando comigo a respeito - digo e vou até o armário buscar minha maquiagem. - E o que decidiu? Vai aceitar? - Ela vem até mim e para ao meu lado. - Aly, é uma ótima oportunidade. Sei que está com medo, mas posso garantir ser seguro. - Ela coloca a mão em meu braço. - Abigail, já me disse tudo preciso saber. - Volto até a penteadeira e ela me acompanha. - Então, por que não aceita? - Ela segura minha mão. - Amiga, essa oportunidade pode resolver um pouco dos seus problemas e te deixar respirar. Logo poderá sair daqui e fazer o que quiser da sua vida. Lembra? Um meio para um fim. - Sim, eu sei. Mas não é tão simples, Rachel, eu nunca me imaginei fazendo algo do tipo - suspiro. - Acredite, eu mais do que ninguém sei o quanto é complicado, mas eu fazia isso, ou era "adeus, faculdade" e morar em Nova York. Então você só precisa saber, se quer ou não perder a casa dos seus avós, e o que está disposta a fazer para que isso não aconteça. Para ter força para o que pretendo fazer - se é que posso fazer -, eu me pego a todo instante pensando na solução dos meus problemas. A dívida da casa dos meus avós vence, em alguns dias. O que consegui como garçonete é o suficiente para não deixar a casa ir a leilão, porém, já fui informada pelo banco que as parcelas seguintes serão um pouco maiores que a primeira por conta dos juros. Minha cabeça está um caos. Como em três meses consegui ficar nessa situação? - Você tem razão. Eu não posso e não quero perder aquela casa, é a única lembrança que tenho deles. - Me levanto determinada a não deixar que tirem isso de mim. - Então o que vai fazer? - ela me pergunta apreensiva. - Vou aceitar a proposta da Abigail. Ela me abraça e sorri. - Vai dar tudo certo, amiga. - Espero que sim. Não quero me arrepender. Ao descer do avião, ligo para Richard. Ele ficou de me buscar assim que chegasse ao aeroporto e marcamos de ir direto para a empresa. Pego minha única mala. Toda a minha mudança deve chegar na próxima semana. Quando chego à saída, busco o celular para ligar para ele, mas antes que eu disque ele surge, apressado. Meu amigo não está com a cara boa, então me mantenho em silêncio, entretanto, não dura mais do que cinco minutos. - Como foram as demissões? - resolvo puxar assunto. - Como pensa que foi, James? Demitimos quase metade da empresa, pessoas que dependiam de seus trabalhos, com família para sustentar, então eu que te pergunto, como você acredita que foi? - Seu tom é seco e me arrependo na hora de ter perguntado. - Desculpe, Richard. Sei que deve ter sido complicado, afinal é você que está à frente da empresa, mas prometo a você que vou resolver. - Espero que sim, James, eu não gostaria de perder o meu emprego também, e muito menos ver mais pessoas serem demitidas. - Isso não vai acontecer, prometo. Assim que resolvermos, vamos tentar trazê-los de volta. Não sei quanto tempo isso vai demorar, mas espero conseguir. - Ele me olha e não diz mais nada. Seguimos pelas ruas movimentadas, o trânsito pesado da hora do rush nos impede de andar mais rápido. A temperatura está agradável. Pegamos a Pine Street e depois de uns cinco minutos ainda no trânsito chegamos a Grant. Minha empresa fica em um prédio comercial na Av. Liberty, escolha do meu pai, anos atrás. Entramos na garagem do subsolo do prédio. Richard estaciona em uma das vagas destinadas à diretoria, descemos e seguimos para o elevador. Alcançamos o último andar, onde fica localizada a presidência. A estrutura da empresa quase não mudou em um ano. A Grant ainda possui mais quatro andares logo abaixo de nós, onde fica os recursos humanos, financeiro e os gerentes. O andar está completamente vazio, acredito que somente eu e Richard ficaremos aqui agora, já que as assistentes também foram dispensadas, e como se soubesse no que estou pensando, diz: