Capítulo 4 4. Mikaela Rodriguez

A semana passou ligeira, já era sexta-feira e tudo ia muito bem, atendi muitos clientes novos e estava ficando com minha agenda cheia, sinal do meu bom trabalho, graças a Deus! A turma café como apelidei são ótimas companhias, deixaram a semana mais leve e divertida.

Júlia enfim conheceu o Ferir e os dois trocaram várias experiências e truques, não que o Ferit precise - pois ele trabalha desde os dezessete e hoje com quase trinta e oito faz palestras e dá aula, pois ele é o melhor do estado.- E agora conhecendo o seu trabalho de perto vejo o porque Júlia é uma admiradora, seu trabalho é fantástico.

Isaac e Pedro estão se dando super bem, como irmãos por assim dizer, pois não se desgrudam mais na escola e já marcaram uma noite de jogos na casa do Ferir, pois ele e Ricardo também vão participar desse "corujão" como eles chamam. Já a minha pessoa vai curtir um happy hour com Júlia e Felipe.

Guardei o carro na garagem, hoje vou usar o uber quero aproveitar sem moderação essa noite, subi para o meu quarto para separar a roupa antes de tomar um banho. Separei um conjunto de lingerie de renda na cor vinho para combinar com o cropped e saia da mesma cor. Entrei no banheiro, fiz minha depilação à frio enquanto hidratava o meu cabelo, tomei banho, passei um creme no corpo, vesti a lingerie e fui me maquiar.

Estava terminando de passar o delineador quando escutei um barulho de vidro quebrando, coloquei o roupão abri a porta do quarto para descer ouvi uma voz familiar e congelei.

-Dona Mikaela, sou eu o Guilherme não desça.- falou desesperado - Eu fiz besteira Dona Mikaela e preciso me esconder. Fique onde a Senhora está, de preferência se esconda.

Fechei a porta passando a chave, conhecia Guilherme desde quando me mudei para essa casa com Romero, ele sempre teve a lavagem de carros do lado da minha casa, sempre foi um rapaz tranquilo e nunca tinha feito algo errado até esse momento. Nessas horas me arrependo de não ter um cachorro bem grande como Isaac queria, peguei meu celular, abri o roupeiro, tirei a mala de dentro pus ela debaixo da cama amassando ela para me esconder lá no roupeiro. Com o celular na mão enviei uma mensagem para Júlia e Isaac pois fiquei com medo de fazer uma ligação e denunciar meu esconderijo.

Eu - Socorro, a casa foi invadida! Estou escondida no roupeiro... chama a polícia pf, não estou brincando.

Julia - Como assim??? Cadê o Isaac???

Eu - Está com Pedro na casa de Ferit.

Eu - Guilherme invadiu a casa, ele mandou eu me esconder.

As lágrimas começaram a rolar pois fiquei nervosa tentando imaginar o que esse rapaz fez de tão errado além de entrar na minha casa pela porta dos fundos.

Comecei a ouvir som de vozes abafadas vindo do andar de baixo, e depois gritos desesperados e de dor.

-Eu estou sozinho aqui, a dona saiu faz tempo..... Ai... ai... Eu juro... Só vim para cá porque não tinha ninguém em casa.

Tampei a boca com as mãos para não emitir o som do grito que está se formando na minha garganta me arranhando para sair com o tamanho do desespero que se forma dentro mim,me encolhi mais ainda com o fato de ter mais pessoas dentro da minha casa, pessoas que não conheço e que nem sei ao certo o que estão fazendo ali. Meu celular começa a vibrar e o zunido me faz dar um sobressalto, apavorada desligo a ligação de um número desconhecido - Vê isso é hora do presídio me ligar, devia atender e perguntar como faço para me manter viva numa situação dessas - ponho o celular no silencioso, ouço passos e batidas de porta enquanto tento controlar minha respiração.

As vozes continuam abafadas lá embaixo enquanto alguém tenta entrar no meu quarto, ouço a porta sendo forçada e chutada umas duas vezes antes de ouvir o som de sirenes e freadas de pneus. A pessoa desiste de mim e correu escada abaixo enquanto tiros são trocados pelo que me pareceu horas ou talvez foi segundos até haver um silêncio mortal por uma eternidade ou não, com o pavor que tomou conta mim estou presa num choque o que só consigo sentir as lágrimas que escorrem em minha pernas devido a minha posição, o escuro nunca me deu medo mas a falta dos sentidos e com a audição mais aguçada por causa da curiosidade bem que dizem que a curiosidade matou o gato, posso não ser um gato mas sinto que tive um trevo com o medo, certo que vou ter que trocar a calcinha.

A porta do roupeiro é aberta e a luminosidade atrapalha minha vista fecho mais meu olhos pelo desconforto e ao mesmo tempo pelo medo.- de boa pelo c... não passa uma agulha- o pensamento de que vou morrer começam a surgir assim que sinto braços me envolverem como se eu fosse uma criança, sendo levada para fora de seus esconderijo.

Um cheiro maravilhoso e conhecido se faz presente, mas não tive coragem de abrir os olhos para ver meu atroz, penso que não me despedi de meu filho, nem dei um último adeus aos meus pais somente apavorei Júlia.

-Xiu... já passou, estou aqui com você.... Xiu... já passou... - ouço uma voz sussurrada tentando me acalmar, acho que meu cérebro quebrou com o medo já estou até imaginando o gostoso do Ferit.

Vou abrindo meus olhos devagar e por causa das lágrimas vou vendo tudo enfumaçado, ao poucos a visão vai voltando ao normal e meu corpo vai cedendo, começo a respirar mais fundo me acalmando um pouco, então noto que não estou mais dentro do roupeiro e sim no colo de um anjo gostoso, com o queixo quadrado e tenso, com lábios em uma linha fina de tão comprimidos, com um olhar tão expressivo onde posso ver uma vulnerabilidade e cabelos bagunçados como se as mãos tivessem passado por eles muitas vezes, - em resumo estou no colo de Ferit - respiro fundo seu perfume amadeirado, (acho tão lindo que nos livros as mocinhas conheçam tão bem sobre notas de perfumes eu só sei se o cheiro é doce, cítrico ou amadeirado) me aconchego em seu peito fungando um pouco e contornando com os dedos sua tatuagem de rosa até parar de temer. Começo a contornar outra em seus ombros e sinto ele relaxar também, passo para o ramo de oliveira em seu pescoço, o sinto engolindo a seco , nossos olhos se encontram e me sinto hipnotizada.

-Já podem descer. Como ela está? - a bolha de hipnose é estourada por uma policial que está parada à nossa frente.

-A crise já passou, e ela não está ferida. Nós vamos pegar algumas roupas para ela e já descemos.- avisou ele como se fosse dono da Porra toda.

-Você está bem para ficar sozinha um pouco? Só vou pegar umas coisas para Isaac, tudo bem? Posso deixar a porta aberta.- diz ele me colocando em pé e olhando nos meus olhos procurando por uma reação negativa.- É melhor eu te ajudar, onde tem uma mala?

-Embaixo da cama. - Falo num sussurrar de palavras ainda tentando saber o que aconteceu.

Ele pega a mala e abre todas as portas do meu roupeiro pegou praticamente todas elas, indo para o banheiro voltando e pegando mais uma coisas minha penteadeira e bidé. - acho que minha mala virou a bolsa da Nanny McPhee, de tanta coisa que colocou dentro.

-Aqui foi tudo. Se ficar algo, pegamos depois. - Diz ele pegando pela minha mão e me guiando para fora do quarto.

-Onde estamos indo? - Pergunto saindo do meu estado catatónico.

-Para a minha casa, você e Isaac vão ficar comigo por uns dias, eu acho. - falou dando os ombros

Já no quarto do meu filho abriu todos os armários em busca de uma mala, apontei para a parte de cima do roupeiro quando olhou para mim.

-Por que vamos ficar com você? Posso ir para o sítio dos meus pais ou ficar com Júlia. - retruco como uma criança birrenta.

-Porque realmente quero que fique comigo enquanto a polícia resolve tudo. - suspirou abaixando os ombros em rendição.

-Tá bom. - é tudo o que respondo.

Com as duas malas em mãos vamos descendo a escada, e nada do que passei ou imaginei que nas horas anteriores me preparou para a cena que vi. Minha sala estava destruída, com furos de bala e sangue, não quis focar muito nos estragos e passei rápido pela saída.

Do lado de fora encontro Júlia sendo consolada por Felipe, Isaac andando de um lado para o outro, Pedro e Ricardo parados olha a entrada da casa, fora carros de polícia fechando a rua os moradores olhando toda a bagunça, - típica cena de filme, se eu não quisesse acalmar minha família me sentiria uma atriz muito famosa.- corro para Júlia que me abraça apertado e meu filho nos envolve em um abraço coletivo.

-Senhora Mikaela, posso falar um pouco você? - fala um homem bem-apessoado - Sou o Delegado, prazer me chamo Maicon Almeida.

-Sim, claro prazer... Não sei muito o que aconteceu.

-Apenas me relate o que você viveu dentro de casa.

Conto para ele tudo desde a chegada de Guilherme de forma furtiva, a troca de mensagem, o que escutei e onde estava escondida. Descobri que Guilherme devia para traficantes ao qual mandavam seus homens para cobrar a dívida, eram cinco homens dentro da minha casa contando com o vizinho caloteiro que tentou se esconder na minha casa, três foram presos, um está em estado grave e Guilherme foi morto antes da polícia invadir.

Com muito custo Felipe conseguiu convencer minha irmã que seu apartamento é muito pequeno para nós quatro, já que minha casa vai ficar interditada por ser uma cena de crime, depois de ficar um pouco e comigo na casa de Ferit até ter a certeza que estou bem. Pedro vai mostrar a Isaac onde ele irá dormir.

-Aceita, é para relaxar? - Ferit estende uma taça de vinho.

-Preciso muito! Obrigado.

-Como você está agora?

-Perplexa, moro nesse bairro a dez anos, conheço meus vizinhos ou melhor pensei que conhecia e nunca imaginei que isso ia acontecer comigo. - falei passando as mãos na cabeça de forma meio exasperada. - Deus! Meus pais vão ter um treco quando souberem.

-Então não vamos falar. - brincou para aliviar a conversa.

-Vem, vou mostrar onde você vai dormir. - pegou na minha mão.

Foi um pouco difícil pegar no sono, fiquei pensando em um monte de e se... E se eu tivesse descido para confrontar Guilherme, e se a porta não tivesse fechada, e se eu fosse encontrada... em todos esses "e ses", eu tinha morrido e deixado meu filho órfã. Com esses pensamentos adormeci, tive pesadelos e acordei, resumindo tive uma noite de merda. Então acordei às quatro da madrugada, tomei um banho pus uma short de malha e uma resgata, prendi meu cabelo em um choque e fui rumo a cozinha pé por pé.

Ontem não prestei atenção na casa de Ferit, já hoje deixei minha curiosidade tomar conta, era uma casa ampla com decoração minimalista com algumas folhagens e móveis em tom escuro contrastando com os tons da parede. Ainda na minha peregrinação curiosa achei cozinha que segue o mesmo estilo com uma porta de vidro que leva a um deck com mesa para oito pessoas, quintal com piscina e uma cascata ao fundo e um quiosque gourmet.

Achei um tapetinho e levei para perto da cascata e fui fazer minha meditação e yoga já que não tinha mais condições de dormir. Fiz meus trinta minutos de meditação, peguei o celular, coloquei a playlist do Josh White e com a música Spirit Resurrect comecei minha yin-yoga que consiste em vários movimentos lentos.

-Não conseguiu dormir?- sua voz soou baixa e rouca.

Estava na posição do bebé feliz que consiste em ficar deitada de costas com as pernas encolhidas segurando os tornozelos - parece mais um frango assado- elevei um pouco a cabeça olhando entre as minhas pernas arregaçadas estava o meu anfitrião com uma xícara de café em mãos, sem camisa, pés descalços e cuecas samba-canção. -Nossa senhora das mulheres necessitadas eu preciso desse pacote.- Com o peitoral largo e tatuado, aqueles gominhos que convidam minha língua para brincar na verdade todo ele chama, suas coxas são grossa e eu tenho que me concentrar estou babando nesse monumento mas a vontade de traçar todas as tatuagens com a língua é grande.

-Eu... eu... eh.... Parae! - Gaguejo enquanto tento sentar em flor de lótus

Mikaela se concentra é só o pai do amigo do seu filho, que lhe ofereceu um teto por uns dias.

-Não consegui dormir, minha mente pensava em um monte de bobagem.

-Você sempre faz essas coisas quando não consegue dormir? -Ele aponta para mim se referindo ao exercício.

-Sim e não, na verdade faço todo dia pela manhã e quando preciso relaxar.

-Hum interesse.

-O que? - pergunto

            
            

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