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24/09/2015 – Day 10 (E o dia em que tudo deu errado...)
Eu estou com vontade de passar esse dia em branco...
Sabe aqueles dias em que literalmente nada acontece? Pois é, hoje não é um dia desses.
Hoje é um daqueles dias em que você agradeceria se não tivesse saído da cama.
Por que digo isso?
Meu ônibus quebrou, eu quase cheguei atrasado na loja, tive que passar por uma favela para chegar, e ainda por cima quase tive que brigar com alguns maloqueiros...
Mas eu estava quase errado. Ainda cheguei faltando uma hora e meia para abrir a loja, e consegui cochilar por uma hora. Isso foi a benção do dia, porque descansar nesse calor é quase impossível...
Ultimamente não tem como pensar em qualquer outra coisa além de calor... As pessoas andando de máscara nas ruas estão me dando agoniando! Ainda mais que cada impressora daqui da loja (são três) possui um núcleo térmico, que alcança fácil uns 150°C, sem contar a estufa onde guardo o papel e os três computadores ligados.
Ou seja, não preciso de um apocalipse.
Já trabalho em um inferno, mesmo...
Mas pelo menos aquele tal de Cão Negro não abriu mais nenhum log... Ainda...
De qualquer forma, O jeito é trabalhar, já que pelo menos nos últimos dias da semana nada acontece, e esperar a hora de voltar para casa e ter a chance de um sono tranquilo...
Day 10.5
Nunca mais na minha vida digo que algo não pode piorar...
É meia-noite, e eu só cheguei em casa agora. Por quê?
Bem... Lembram dos cães?
É só lembrar do que aconteceu comigo umas noites atrás...
Havia cães tranquilos, e cães não tão tranquilos no caminho de casa hoje. Mas nenhum deles era exatamente um cachorro...
Eu desci do ônibus, atravessei a rua, e já notei que algo não estava certo ali.
Havia um furgão na parte mais escura da rua, totalmente preto, com um símbolo estranho em alguma cor que parecia vermelho, completamente parado.
Mas não estava necessariamente na frente de alguma casa. Parecia estar esperando por algo ou alguém.
Parei na esquina, quase atrás de um muro, acendi um cigarro, e aproveitei para diminuir o volume do meu fone a zero de novo, e espero que isso não se torne hábito, pois eu prezo muito a minha música. E só então, voltei a andar na direção de casa, passando pelo furgão...
A coisa boa dos cães tranquilos, é que eles sempre desviam o olhar quando você olha para eles, e isso significa, no sentido figurado, que eles não fazem nada quando você olha.
Isso me permitiu dar uma bela olhada no logotipo do furgão.
INSTACARGO
Dei um suspiro de cansaço e frustração. Esses filhos da mãe me deixaram com o coração na boca!
Mas bem... Ao menos não tinha nada a ver com militares ou aquele Cão Negro... Ou era o que eu pensava, até dobrar a esquina e entrar na rua do presídio...
E ser recebido com um joelho no meu estômago.
O atacante entendia de muay thai, por que aquele golpe tirou boa parte do meu oxigênio.
Mas graças ao furgão lá no começo da rua, parte de mim já estava preparado para algo assim, então me fiz preparar, e como uma certa vez em que um alguém bem grande e forte tentou me matar, cruzei os braços sobre o estômago em posição defensiva, me protegendo da maior parte do impacto no último instante.
Claramente a pessoa não esperava essa recepção, mas a figura era insistente.
Envolveu meu pescoço com um dos braços e tentou me dar um mata-leão, que eu tentei o máximo que pude impedir, mas falhei miseravelmente. Até que o combate se desenrolou de alguma forma que não consegui entender, e fomos parar no chão, enquanto eu estava de costas sobre quem me atacava, e seus braços se soltaram do meu pescoço.
Aproveitei a oportunidade e cravei meu cotovelo nas costelas da figura, me arrependendo no exato momento, pois ele parecia usar algum tipo de armadura, que fez com que meu golpe doesse mais em mim do que em meu oponente, mas rezei para que ele tenha sentido tanto quanto eu.
Não sei se foi coisa da minha cabeça, mas no meio dos flashes da luta, eu podia jurar que havia mais gente assistindo. Gente que não era do bairro... Gente vestida da mesma forma que a pessoa que estava me atacando...
Mas isso não era importante no momento. Então só me levantei e saí correndo, arrebentando meu coturno mais do que já estava arrebentado, a toda velocidade de volta para casa. Virei a esquina na quadra de casa, ouvindo os passos em meu encalço, e não consegui fazer muita coisa a não ser pular o muro aos tropeços, me escondendo sob o maracujazeiro que crescia sobre a parede da frente, e cobria a janela da sala.
'Ele continuou correndo naquela direção' Ouvi uma voz, estranhamente familiar, porém distorcida pela frequência de rádio de um walkietalkie, seguida de mais passos, rápidos dessa vez, de um pequeno grupo, na direção em que a rua virava para voltar ao caminho por onde eu vim...
Quando o som finalmente morreu, entrei o mais silenciosamente que pude, sem acender as luzes nem fazer ruído algum.
Liguei o note com o brilho mínimo na tela e é o que vocês estão lendo agora...
Por que essas merdas estão acontecendo comigo?!
O que está acontecendo com o mundo?!?