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25/09/2015 – Day 11
Exatamente 16:04 de uma Sexta-feira fresca, finalmente. tive sérios problemas em sair de casa, principalmente por causa de ontem...
Fiquei durante metade do caminho até o ponto de ônibus olhando para os lados e para trás, procurando qualquer pessoa que pudesse estar me seguindo, ou qualquer vulto que tentasse passar despercebido pelo canto do meu olho... Nem consegui ouvir música até estar cem por cento seguro de que não havia nenhuma ameaça em potencial dentro do bus...
Quase não prestei atenção nas pessoas ao redor hoje...
Pelo menos não necessariamente. Já que a cada lugar em que eu descia, meus olhos buscavam algo que tivesse qualquer familiaridade com noite passada...
Essa sensação ainda está longe de ir embora, e tenho certeza de que se eu baixar a guarda, algo muito pior pode acontecer, por isso agora carrego um pequeno taser comigo, só para o caso de alguém tentar bancar o espertinho novamente. Não quero chamar mais tanta atenção como aquele dia no ônibus. Quanto mais penso naquilo e lembro da entrada naquele blog, mais chego à conclusão de que minha intervenção foi um erro.
Enfim... Ao menos minha tarde melhorou absurdamente quando cheguei à loja...
Logo após paranoicamente checar se ninguém havia me seguido, me assustei ao abrir a porta da loja e quase pisar num envelope em branco... Fui até a recepção da faculdade e perguntei quem havia deixado aquilo lá, mas ninguém parecia ter notado nada.
Curioso, porém cauteloso, chequei o conteúdo sob a luz de uma lâmpada, no que só conseguia enxergar linhas e palavras... Então decidi abrir o envelope. Eis que encontro um poema que há muito não ouvia, e que também me deixou curioso para saber quem poderia ter deixado aquilo ali.
Um poema sobre amor.
Que seja eterno enquanto dure...
Quem será que deixou isso aqui...?
Day 11.5
Eu disse que as coisas iriam piorar muito antes de melhorar...
Isso se voltar a melhorar.
Pois bem... Eu nunca me senti tão impotente na minha vida.
Realmente quis fazer alguma coisa quando aquele cara passou do meu lado no bus enquanto eu voltava pra casa... Eu estava sentado, ouvindo música, conversando com a Sandra e uma amiga, Ana. Quando sem qualquer aviso, ele apareceu vindo da última fileira de bancos do ônibus (eu não estava tão longe), vestindo um moletom preto e uma bermuda colorida. Estava com o rosto coberto por um boné e pelo gorro do moletom.
Ele chegou bem perto de um cara que n estava nada longe de mim, falou alguma coisa para ele, da qual eu só consegui diferir um 'Não tem?', então olhou para a mulher sentada de frente para mim, pegou o celular dela, e se preparou para sair pela porta que se abria.
Foi tudo rápido demais, e eu me preparei para fazer alguma coisa, quando divisei na mão que ele escondia no bolso da blusa uma agulha de pistola (agulha é aquela parte do cano onde o projétil a ser disparado fica "estocado". É mais proeminente em pistolas do modelo Glock ou modelos automáticos da Taurus, entre algumas outras), então a adrenalina golpeou meu coração como um punho fechado...
Se eu fizesse qualquer coisa, eu seria o herói morto daquele ditado... Então o resto da minha viagem se resumiu a simplesmente olhar pela janela, para as pessoas com suas máscaras e guarda-chuvas pela rua, pensando na merda que é se sentir impotente...
Agora é 23:13, e eu estou em casa depois de ter notado algumas sombras estranhas onde não deveria haver nenhuma. Mas como nenhuma delas avançasse ou tentasse cruzar meu caminho, segui meu rumo como em qualquer outro dia normal.
Há poucos minutos ouvi algo que pareceu uma saraivada de tiros como as daquela noite, só que encoberta pelo som dos trovões. Não tardei a apagar a luz novamente e diminuir o brilho da tela. Mas agora vou dormir. Esse dia foi cansativo demais para uma sexta-feira comum...
Isso só prova que os tempos comuns estão com os dias contados...
Day 12/13 (Fim de semana completo)
Depois da noite de sexta, todo o resto foi um borrão...
Provavelmente porque o porre foi tão homérico, que daqui para diante cantarão músicas sobre tal momento (ou não). Mas valeu a pena, pois ao menos assim fora possível não pensar em tantas pessoas andando de máscara, outras tossindo. Talvez por estar chovendo, mesmo sem estar fazendo tanto frio, nem ser época de gripe ou qualquer coisa parecida...
Mas posso jurar que no meio da bebedeira vi uma mulher tirando a máscara e tossindo sangue em um lenço...
Depois disso, os drinks começaram a fazer efeito muito mais rápido do que eu mesmo gostaria.
E a farra estava tão boa lá no parque Barigui, que eu não me preocupei nem com o quanto o Matsuri estava vazio de pessoas que eu conhecia no sábado. Entretanto, uma outra sensação engraçada tomava conta de mim no meio de tudo aquilo.
Eu sentia estar perto.
De algo ou alguém... Mas não sabia definir direito o que era.
Talvez fosse a proximidade estranha daqueles vultos escuros atrás das árvores, observando qualquer coisa com muita atenção, ou talvez a lembrança da carta que deixaram na loja antes de eu chegar... Eu sei que tudo estava confuso demais para estreitar em pensamentos.
Ao menos agora, às 23:50 desse domingo chuvoso, com uma Lua de sangue invisível por entre esse céu lotado de nuvens, depois do porre e da ressaca, É um tanto mais fácil exprimir tudo, mesmo que seja pouco.
Deve haver algum protocolo especial para as emissoras de TV, que dita um nível certo de alarme em que eles ainda podem noticiar sobre algo.
Provavelmente, seja o que for que estiver acontecendo, a situação deve ter atingido esse nível. E talvez tenha até ultrapassado, já que não há mais qualquer notícia sobre a doença ou sobre quaisquer mortes que ela pode ter causado.
Os problemas com os cães não continuaram, pois eu continuo descendo naquele outro ponto, mas as coisas ainda acontecem no presídio. Volta e meia, durante a madrugada consigo ouvir os tiros, mas desta vez é possível ouvir alguns gritos antes de as balas começarem a voar...
Só consigo entender que a população carcerária daquela prisão já deve ter sido reduzida a menos da metade, e eu não sei o quanto isso pode ser considerado um problema...
Não vejo mais fogueiras e nem ouço o crepitar das chamas, mas em cada um desses dois dias que saí para desanuviar minha mente, foi possível ver os militares retirando aqueles mesmos sacos pretos de dentro da prisão. Eles nem mais se preocupam em não expor o sangue que pinga de um saco furado ou outro.
Tudo está cheirando tão mal que daqui a pouco não vou me surpreender se os soldados começarem a tentar "realocar" os próprios moradores daqui do bairro...
Eu achei que zumbis viessem a existir mais rápido, se for o caso. Mas estou com medo de passar por problemas bem maiores antes de ter de enfrentar esse fim do mundo...
Bem que costumam dizer que deve-se preocupar mais com os vivos do que com os mortos...
Day 14
Quando uma coisa está boa em algum lugar, pode ter certeza que alguma merda muito grande está acontecendo do lado oposto...
Eu descobri isso quando aprendi o que era o Efeito Borboleta (quando uma borboleta bate as asas em algum lugar, um furacão acontece do outro lado do mundo... Ou algo assim).
Mas eu ENTENDI isso de verdade só hoje, quando eu lembrei, de alguma forma, o quão ridículo, na verdade, era pensar que tudo o que estava acontecendo se resumia apenas ao que rolava ao meu redor.
Okay, ao meu redor não se aplica apenas à minha casa, mas tudo o que compreende Curitiba. Porém, é muito mais fácil esquecer disso e simplesmente olhar para frente...
Acabei de ligar para a Ana e avisá-la que provavelmente o inferno vai abrir mais cedo, e exatamente aonde ela mora, e que ela deveria me encontrar logo que pudesse, se quisesse ter alguma chance (Não... isso não vale para o resto de vocês... Por isso estou escrevendo isso, para que vocês aprendam aqui, caso alguém encontre esses diários e os leia. Mas bancar o herói NÃO é uma boa, nem faz bem à saúde) ...
Meu mundo ainda não está em chamas, mas do jeito que tudo está, só vou precisar de um fósforo.
Alguns comboios militares estão indo e vindo aqui e ali, e isso está fazendo minha cabeça voar a mil por hora. Não duvido que vá haver uma barricada logo na entrada do meu bairro e muitas perguntas a serem respondidas.
É como se nosso mundo tivesse mudado completamente da noite para o dia, e isso está cheirando cada vez pior.