- Aguarde um momento, por favor - diz ela ao telefone. - Senhora, o eletricista chefe não está disponível agora.
- Entendo. Peça para ele vir à minha sala assim que chegar - responde Clarice antes de sair da sala e retomar seu passeio pela empresa.
A secretária atende ao pedido, e Clarice deixa o assunto de lado por enquanto. Ela segue até o andar dos advogados, onde encontra seu filho Nikolas, abraçando-o carinhosamente.
- Mamãe, o que a traz aqui?
- Vim te convidar para almoçar comigo, meu amor.
- Ótimo, estou mesmo com fome. Só um momento - diz Nikolas, dirigindo-se à secretária. - Você separou os currículos que pedi?
- Sim, senhor.
- Por favor, entre em contato com cada um e agende uma entrevista. Vou entrevistá-los um por um.
Clarice e Nikolas saem da empresa de mãos dadas. O afeto pela família a faz desejar tê-los sempre por perto. Aos 42 anos, divorciada, não teve relacionamentos sérios desde então. Apesar de ainda amar o ex-marido, sabe que ele seguiu em frente. Ruan Rocha, seu ex-marido, é a única exceção.
Enquanto caminham até um carro de aplicativo, um homem os observa ao passar por eles. Natan nota o amigo de mãos dadas com uma das mulheres mais bonitas que já viu, mas presume que ela seja a companheira do amigo, então desiste de olhar e entra na empresa.
Sem querer atrasar-se, Natan, o eletricista, chega à sala da CEO.
- Boa tarde, sou o eletricista, Natan. Fui chamado pela CEO.
- Sinto muito, mas a senhora Clarice acabou de sair para almoçar. Ela voltará em uma hora - disse a secretária.
- Está bem, volto depois.
Natan fica preocupado com o motivo de ter sido chamado pela CEO, afinal, seus superiores são subordinados a ela. Ele coloca a mão no queixo enquanto reflete se será demitido. Este é o melhor trabalho que conseguiu em anos. Divorciado e pagando aluguel, enfrentou questões judiciais pela pensão da filha.
Não se nega a pagar a pensão, mas é difícil atender às exigências da ex-esposa. Agora, com um salário três vezes maior do que imaginava, consegue pagar uma pensão mais substancial.
Em seus trinta e dois anos, jamais imaginou enfrentar tantos problemas legais. Quase foi preso por atrasar a pensão durante quatro meses. Na época, estava desempregado, passou por dificuldades financeiras quase tendo que sair da casa que pagava aluguel sem ter para onde ir, e a situação parecia piorar na época.
Foi quando seu amigo, Nikolas, o empregou na empresa de seu avô, o que foi como uma luz no fim do túnel. Naquele mesmo mês, conseguiu quitar a maioria de suas dívidas.
Enquanto refletia sobre sua vida, nem havia percebido que passou uma hora e meia. Com certeza, a CEO já havia retornado do almoço. Antes de ir à sala dela, decidiu vestir seu uniforme de eletricista, já que precisaria ir ao último andar depois da conversa, se não fosse dispensado.
Ao sair do vestiário, caminha novamente até a sala da CEO, pensando em como ela deve ser. Nunca a viu, mas segundo Nikolas, é a mãe dele. Supõe que seja uma senhora, apenas espera não ser recebido com grosseria, já que teve sua cota de pessoas tentando prejudicá-lo nos últimos anos.
- Entre - escuta a voz suave de uma mulher após bater na porta.
Suspirando fundo, ele abre a porta e entra, pedindo licença. Fica surpreso ao ver a mesma mulher que saiu do prédio de mãos dadas com seu amigo.
Clarice franze a testa ao ver o homem de uniforme de eletricista na sua frente e pergunta sem o olhar diretamente:
- Quem é você?
Natan fica sem palavras, a voz dela parece música para seus ouvidos, mesmo usando um tom sério.
- Eu... Sou Natan, o eletricista. Disseram que precisava falar comigo.
- Ah, sim. Sente-se - ela diz, apontando para a cadeira, fazendo ele observar as unhas dela, que são bem cuidadas, e então senta, observando-a ainda mais de perto.
Clarice termina de assinar alguns documentos e os afasta para conversar com Natan.
- Você é o responsável pela parte elétrica do prédio, certo? - diz ainda sem o olhar diretamente. - Seu nome?
- Sim, sou o responsável. Meu nome é Natan.
- Certo. Acredito que você não está desempenhando seu trabalho de maneira adequada, Natan.
- O que? - expressou, preocupado e com receio.
- O prédio tem um gerador, e ficamos alguns momentos sem luz, isso não pode acontecer. Quero que descubra por que o gerador não ligou imediatamente - disse, olhando para ele rapidamente antes de desviar o olhar para o computador. - Pode se retirar.
Clarice volta a focar em seu trabalho diante do computador, deixando Natan perplexo com a forma abrupta como foi tratado. Sem ter alternativa, ele se levanta, pede licença e deixa a sala.
A bela mulher, agora identificada como a mãe de seu amigo, não demonstra qualquer disposição para uma conversa que poderia esclarecer a situação. Isso aumenta ainda mais a apreensão de Natan. O incidente com o gerador, que já estava na empresa desde antes de ele começar a trabalhar, pode ser interpretado como motivo para sua demissão.
- Droga... - murmura ele, dirigindo-se até a cobertura para verificar um dos painéis de energia solar do prédio.
Chegando na cobertura observa os painéis de energia solar, mas não concentrar. A mãe de Nikolas, seu amigo, parece difícil de se dobrar. Então o jeito é trabalhar dia e noite, reunir uma boa equipe fazendo cada um desempenhar uma função para resolver o problema o mais rápido possível.
Se conseguir fazer do jeito como está pensando, continuará em seu emprego e a bela CEO não terá mais nada contra ele.
Natan sorri de seus próprios pensamentos. A quem quer enganar? Não quer apenas manter o emprego, tem algo a mais. Deseja chamar atenção da CEO, principalmente agora que sabe que ela não é uma namorada do amigo e sim a mãe dele.
Não seria certo pensar assim dela por conta do parentesco, mas não tem como evitar. É a mulher mais linda que já viu na vida.