O cheiro a queimado ainda pairava no ar quando abri os olhos, o corpo a doer por todo o lado.
Vi o meu marido, Pedro, ao meu lado, a sorrir para o telemóvel.
Não era um sorriso de alívio por me ver acordada.
Era de divertimento.
Perguntei o que tinha acontecido ao nosso restaurante, o sonho de uma vida.
Ele, impaciente, disse que tinha pegado fogo.
Lembrei-me de o ter empurrado para a saída antes do colapso.
Então, uma videochamada: a minha cunhada Sofia, deitada numa cama, com o meu pai a cuidar dela.
Pedro, carinhoso, disse: "És a minha irmã. Claro que te ia salvar primeiro."
Salvar primeiro.
Eu, que o havia salvado, fui abandonada à morte.
Pedi o divórcio, e ele respondeu: "Não penses que vais ficar com um cêntimo."
Dois dias depois, saí do hospital e o meu pai, cego pela lealdade, defendeu-o.
Cheguei ao meu apartamento: vazio.
Ele tinha levado tudo, até as joias da minha mãe, dadas à irmã.
O meu próprio pai defendeu-o, dizendo que ele "estava sob pressão".
Como podia o homem que eu amava ser tão cruel?
Como o meu pai podia defender o roubo das memórias da minha mãe?
A dor da traição era insuportável.
Até que o Tiago, o chef, me ligou.
"Eu vi o Pedro mexer nas válvulas do gás antes do incêndio."
O meu coração parou. Não foi um acidente. Foi deliberado.
Ele tentou matar-me por dinheiro do seguro.
Casei-me com um monstro.
Mas o jogo virou.
Eu ia virar-me e certificar-me de que ele pagava por tudo o que fez.