Eu, Sofia, a chef que transformou o restaurante de Marcos num sucesso, dei-lhe tudo: talento, amor, e anos da minha vida.
Mas acordei num hospital, a cabeça a latejar, para ouvir a voz dele, do homem que eu amava, a planear roubar-me um rim para a sua amante, Lorena.
Cada palavra era uma facada: a década de enganos, o aborto forçado, a exploração do meu trabalho, a sedução, o plano para me despojar de tudo.
Ele mentiu descaradamente sobre uma "complicação gástrica", e depois, com uma arrogância inacreditável, propôs-me casamento, só para me abandonar de imediato pela Lorena, a sua prioridade.
Nem o meu sangue, que o salvou de um acidente, o despertou.
Ele continuava a ver-me como um objeto descartável, pedindo as minhas receitas e as chaves do meu carro para a amante, enquanto eu as ouvia planear a minha humilhação final e a sua própria fortuna.
A dor física era um mero eco da traição que me destruía por dentro. A humilhação era esmagadora.
Mas a Sofia ingénua, a vítima que eu fora, estava morta.
Com uma raiva fria e uma determinação gelada, peguei no telemóvel.
"Tiago Albuquerque? Preciso de uma proposta. Em Lisboa. Quero sair daqui."
Do outro lado da linha, a sua voz calma prometeu: "Uma nova vida."