Seus olhos verdes, frios e calculistas, são um reflexo do que ele se tornou: um predador em um mundo de presas. Ele se recosta na cadeira de couro escuro, os dedos longos e bem cuidados cruzados sobre o peito, enquanto um leve sorriso se forma em seus lábios. A dor se tornou sua aliada, e a ambição, seu combustível.
"Mais um dia, mais uma oportunidade," ele pensa, olhando pela janela em direção ao horizonte cinzento de Boston. "O que mais posso conquistar hoje?"
Na mente de Lorenzo, as lembranças da infância dançam como sombras. Ele se recorda das noites em que seu pai, Augustus, transformava a casa em um palco de terror. O som de gritos e vidros quebrando ecoa em sua memória. A imagem de sua mãe, Eleanor, uma talentosa pianista que um dia iluminou a casa com suas melodias, agora apenas uma sombra de si mesma, assombra seu pensamento.
"O amor é uma fraqueza mortal," ele se lembra de ter aprendido, enquanto observava sua mãe ser empurrada escada abaixo, seu pequeno corpo tremendo ao ver o sangue formar um halo escarlate ao redor de seus cabelos dourados.
"É assim que se molda um homem," ele reflete, enquanto um criado entra na sala, interrompendo seu devaneio. O homem, um servidor de longa data chamado Thomas, ajusta a gravata e se aproxima cautelosamente.
"Senhor Blackwood, o senhor pediu para ser informado quando a restauradora de arte chegasse," Thomas diz, sua voz baixa e respeitosa.
"Sim, Thomas, e ela já chegou?" Lorenzo pergunta, seu tom quase indiferente, mas a expectativa brilha em seus olhos.
"Sim, senhor. Ela está na galeria principal, avaliando as obras," Thomas responde, os olhos desviando para o chão, evitando o contato visual. "Devo levá-la até aqui?"
"Não, deixe-a trabalhar. Quero vê-la em ação," Lorenzo diz, um sorriso sutil se formando em seus lábios. "Mas mantenha os olhos abertos. Não quero que nada perturbe a minha coleção."
Thomas assente, percebendo o ar de controle que emana de Lorenzo. Ele se retira, e Lorenzo volta sua atenção para a galeria, onde Beatrice Winters, a restauradora, está examinando suas pinturas.
*"Uma alma luminosa," ele pensa, observando-a sem ser visto. "Como uma mariposa atraída pela chama."* O cabelo cor de cobre de Beatrice brilha sob a luz suave que entra pelas janelas, e Lorenzo sente um impulso sombrio de capturá-la, de moldá-la à sua imagem.
"Parece que a arte ainda tem seus defensores," ele murmura para si mesmo, enquanto a vê tocar delicadamente uma tela com as pontas dos dedos. "Mas eu sou o verdadeiro artista aqui, e ela será minha próxima obra-prima."
Lorenzo se levanta, movendo-se lentamente em direção à galeria. A cada passo, o desejo de controle e dominação cresce dentro dele. Ele sabe que Beatrice é diferente de suas outras funcionárias; há uma fragilidade e uma força nela que o atraem e o aterrorizam ao mesmo tempo.
Quando ele entra na galeria, Beatrice se vira, seus olhos âmbar se fixando nos dele. "Boa tarde, senhor Blackwood," ela diz, sua voz suave e melodiosa, como se estivesse tocando uma nota musical delicada.
"Beatrice," Lorenzo responde, sua voz baixa e sedutora. "Como está a avaliação das minhas obras? Espero que não esteja se decepcionando com o estado delas."
Ela esboça um sorriso tímido. "Na verdade, estou impressionada. Há uma beleza trágica aqui, mesmo nas pinturas desgastadas. Cada uma delas conta uma história."
"Histórias... sempre há histórias," Lorenzo murmura, sua mente girando em torno de uma ideia. "E eu sou o contador delas."
"Vou fazer o meu melhor para restaurá-las," Beatrice continua, a paixão em sua voz ressoando nas paredes da galeria. "Essas obras merecem uma segunda chance."
"E você também, Beatrice," Lorenzo diz, um tom de predador em suas palavras. "Você merece um lugar especial na minha coleção."
Ela o observa, intrigada, sem perceber as camadas de manipulação em suas palavras. É apenas um elogio," ela pensa, mas algo na intensidade dos olhos dele a faz hesitar.
Lorenzo se aproxima mais, sua presença dominante preenchendo o espaço entre eles. "Você tem um talento raro. Não é apenas uma restauradora de arte, é uma artista por direito próprio. Eu vejo isso em você."
"Obrigada, senhor Blackwood. Isso significa muito vindo de você," Beatrice responde, um rubor de orgulho subindo em suas bochechas.
"Mas, por favor, não se esqueça de que na arte, assim como na vida, há sempre um custo," ele conclui, a frieza em sua voz fazendo com que um arrepio percorra a coluna de Beatrice.
Lorenzo se afasta, observando-a com um sorriso satisfeito. "Sim, Beatrice. Você será minha próxima presa. E eu vou saborear cada momento dessa caça."
Na mente de Lorenzo, um plano começa a se formar. Ele sabe que Beatrice é a combinação perfeita de beleza e vulnerabilidade, e ele está prestes a torná-la parte de seu mundo sombrio. Com cada interação, ele vai lentamente tecendo uma rede de manipulação ao seu redor.
"Thomas!" Lorenzo chama, e o criado aparece rapidamente. "Certifique-se de que Beatrice tenha tudo o que precisa para seu trabalho. Quero que ela se sinta... confortável aqui."
"Sim, senhor," Thomas responde, notando a intensidade nos olhos de Lorenzo. "Cuidarei disso imediatamente."
Enquanto Lorenzo observa Thomas se afastar, sua mente se enche de pensamentos sombrios."Ela não sabe o que a aguarda. Vou fazer dela uma verdadeira obra de arte."
O dia avança, e Lorenzo passa o tempo planejando suas próximas jogadas. Ele a observa de longe, enquanto ela se dedica à restauração, perdida em seu trabalho. Cada toque, cada movimento dela, é uma dança que Lorenzo quer controlar.
"Ela é tão ingênua," ele pensa, um sorriso cruel se formando em seus lábios. "Ela acredita que está aqui para salvar a arte, mas na verdade, é ela quem estará sendo salva... ou destruída."
Conforme o crepúsculo se aproxima, a luz do dia se transforma em sombras profundas, refletindo o que se passa na mente de Lorenzo. Ele se recosta em sua cadeira, satisfeito com o primeiro passo de seu plano. "A caça começou," ele pensa.
Enquanto isso, Beatrice se perde na beleza das pinturas, sem perceber que a verdadeira arte que Lorenzo está prestes a criar é a de sua própria destruição. E assim, na mansão Blackwood, o jogo de sedução e manipulação se desenrola, com um predador e sua presa dançando em uma valsa sombria, onde as sombras são mais profundas do que os olhos podem ver.