Eu achava que meu namorado, Dênis, era meu príncipe encantado, a única pessoa que me enxergava em uma família que me tratava como uma intrusa. Eu estava enganada.
Ele e seu melhor amigo, Ethan, me drogaram, tiraram fotos íntimas e vazaram para a faculdade inteira para destruir minha reputação e me forçar a sair de suas vidas.
Minha própria mãe, mais preocupada com sua posição social, me chamou de vagabunda e me abandonou. Então, Ethan mandou seus capangas me encurralarem em um beco. Eles me humilharam, me agrediram e, na confusão, fui esfaqueada e deixada para morrer.
Deitada em uma cama de hospital, ouvi a verdade. O pedido de desculpas fingido de Dênis era uma mentira; ele estava me deixando por seu "verdadeiro amor", Érika. O único arrependimento de Ethan era que eu não tinha morrido. "Você está sozinha", ele zombou. "Ninguém vai te proteger mais."
Ele estava certo. Eu estava sozinha. Mas quando voltei para casa para pegar minhas coisas, descobri que a última coisa preciosa que eu possuía - o bracelete de jade da minha avó - havia sido roubado.
Aquele foi o momento em que algo dentro de mim finalmente quebrou. Ou talvez, foi o momento em que eu finalmente fui reconstruída. Eles me queriam fora? Tudo bem. Mas eu não iria simplesmente desaparecer. Eu faria com que pagassem por cada lágrima.
Capítulo 1
Ponto de Vista de Dênis Sampaio:
"Você tem certeza disso, Ethan?" Minha voz era baixa, quase um sussurro contra o zumbido do caro sistema de ventilação no escritório particular de Ethan. O cheiro de couro envelhecido e fumaça de charuto pairava no ar, um lembrete constante da imensa riqueza dos Rezende.
Ethan apenas se recostou em sua poltrona de luxo. Ele girou o líquido âmbar em seu copo, sem nem mesmo olhar para mim. Seu olhar estava fixo nas luzes da cidade que se espalhavam do lado de fora da janela panorâmica. Ele amava essa vista. Fazia com que ele se sentisse poderoso, invencível.
Ele tomou um gole lento. O gelo tilintou suavemente contra o vidro. Um gesto sutil, quase imperceptível, mas que me deu um arrepio na espinha. Era um movimento calculado, como tudo que ele fazia.
"Certeza sobre o quê?" Seu tom era lânguido, desdenhoso. Ele não precisava perguntar. Nós dois sabíamos exatamente o que era "isso".
"A Joana", eu disse, o nome soando estranho na minha língua, contaminado. "O plano. É... radical demais."
Ethan finalmente se virou, um brilho predatório em seus olhos. Ele pousou o copo com um baque suave. "Radical? Você acha isso radical, Dênis? Ela é uma intrusa. Uma sanguessuga. Minha mãe se matou por causa da mãe daquela mulher. E a Joana, ela simplesmente existe aqui, ocupando espaço, tentando se encaixar no nosso mundo."
Ele se inclinou para frente, sua voz baixando, mas ganhando uma ponta de agressividade. "Precisamos nos livrar dela. Permanentemente. E não apenas da casa, mas de nossas vidas. Desta faculdade. De qualquer memória de que ela já pertenceu a este lugar."
O plano dele era simples, brutal. Drogar a Joana, tirar fotos íntimas, vazá-las. Foi projetado para despedaçá-la, para humilhá-la publicamente, para fazê-la desaparecer. "Isso vai forçá-la a deixar a família", ele continuou, um sorriso cruel brincando em seus lábios. "Vai abrir caminho para a Érika. Para nós."
Um nó se formou no meu estômago. "Mas e se... e se ela não aguentar? E se ela não apenas for embora, mas desmoronar completamente?"
Ethan zombou. Ele se levantou da cadeira e caminhou até mim, parando a poucos centímetros de distância. Seus olhos perfuraram os meus. Eram frios, desprovidos de qualquer calor. "Desmoronar? Esse é o objetivo, não é? Ela precisa entender o lugar dela. Ela precisa entender que não pertence a este lugar."
Ele riu, um som curto e agudo que irritou meus nervos. "Ou é outra coisa, Dênis? Você está realmente ficando mole? Está realmente começando a sentir algo pela sua pequena estudante de artes?"
"Não!" A negação saiu antes que eu pudesse pensar. Meu rosto ficou quente. "Claro que não. Não seja ridículo."
Tentei recuperar a compostura. "Eu só acho... que precisamos ter cuidado. Com as consequências. A família Rezende, seu pai especialmente, ele é sensível com as aparências."
Ethan acenou com a mão, desdenhoso. "As aparências serão cuidadas. A Dora vai cuidar disso. Ela sempre cuida." Ele fez uma pausa, seu olhar se estreitando. "Mas você, Dênis. Você tem passado muito tempo com ela. Levando-a para aquelas galerias de arte. Você a olha de um jeito diferente."
"Estou apenas interpretando o papel, Ethan", insisti, forçando um encolher de ombros casual. Era uma mentira, uma desculpa frágil que eu esperava que ele engolisse. "Você sabe como é. Ela é... conveniente. Uma distração temporária. Mas ela não é nada mais do que isso."
Eu precisava fazê-lo acreditar em mim. Precisava convencer a mim mesmo. "Ela é totalmente insignificante. Ingênua. Patética, na verdade. Ela se agarra a cada migalha de atenção como um cachorro faminto."
Minha voz ficou mais fria, mais dura. "Ela não vale nada sério. Não vale um segundo de pensamento real. Especialmente agora."
Lembrei-me de Érika, de sua risada, de seu rosto. O retorno dela era iminente. A verdadeira razão para tudo isso.
"A Érika está voltando", eu disse, minha voz suavizando involuntariamente. "Em breve. Não podemos ter a Joana no cenário quando ela voltar. A Érika merece coisa melhor do que ver... aquilo."
Ethan sorriu de lado, um lampejo de compreensão em seus olhos. "Ah. O 'verdadeiro amor' retorna. Então, você vê as coisas do meu jeito agora, não é? Não há tempo a perder com alguém como a Joana quando nossa Érika está finalmente voltando para casa."
Meu peito se apertou, uma estranha mistura de alívio e desconforto. Érika. Minha Érika. Ela era a única. Sempre foi. Joana era apenas um desvio, um erro que eu precisava consertar.
"Exatamente", eu disse, fingindo confiança. "Érika. Ela é a única que importa."