Harrison Hendrix
Acordei com o cheiro do uísque e dos cigarros da noite anterior, Lilla, a prostituta que sempre me atendia nas horas de solidão, não estava mais em lugar algum. Engraçado por que não me lembro de quando ela foi embora, mas estou grato por ela saber que não era um convite para passar a noite. Nunca é. Ainda estou nu e isso, junto ao par de preservativos usados no lixo, são os indícios de que completei a minha tarefa.
Atravesso o quarto até o banheiro, e 30 minutos depois estou pronto para mais um dia de merda que me espera no escritório no qual eu não estive nos últimos dois meses. Vou até a cozinha e - Mas que porra!!! - a exclamação saiu sem que eu percebesse, ao descer as escadas e passar pela sala vejo a bagunça do lugar. A minha vida estava um inferno, isso afetou um pouco o meu autocontrole, o que geralmente era algo do qual eu me orgulhava. Mas, tudo mudou, quando há 63 dias, uma carreira sólida e reverenciada foi por água abaixo por que algum filho da puta resolveu dizer o meu nome em voz alta.
Eu não sou um santo, longe disso, mas mantive minha cota dos 10 mandamentos quase intacta, e o mandamento sobre não matar, esse foi o mais violado, mas eu tinha a permissão do governo em "quase" todas às vezes.
O que estou tentando dizer aqui é: eu nunca roubei.
Dirigi meu Firebird 68 pelas ruas de Washington DC. até o J. Edgar Hoover sentindo que estava voltando a vida lentamente. Cada rua era familiar e imutável, não que estivesse sentindo falta do prédio, mas passei mais de 15 anos como agente do FBI e essa foi a minha casa, minha esposa, e parte substancial da minha vida depois de deixar exército, agora tudo estava desmoronando e eu nem estava autorizado a investigar o maldito crime do qual me acusaram.
Tudo parecia novo e velho ao mesmo tempo, eu estive aqui milhares de vezes e ainda assim, parece a primeira vez. O elevador está cheio de outros agentes, vestidos como se fossem a mesma pessoa, cinza e preto são predominantes e se confundem com o metal da caixa que para em cada andar que passamos desde o quarto até finalmente chegar ao décimo sexto.
Um grande espaço aberto com mesas espaçadas demais para manter uma conversa amigável, a cada espaço, duas mesas, dois agentes, pares de pessoas que fazem um trabalho quase mecânico. Não eu.
- Bom dia, agente - Falei com a voz forte de costume e Colton Morris me encarou por cima do ombro quando ele ouviu as minhas palavras, seu sorriso cínico de sempre me deu as boas-vindas, e ele se levantou de sua mesa para apertar a minha mão e fazer uma pergunta tão idiota quanto ele - Então a suspensão acabou? - Dei de ombros - Não podem me afastar para sempre sem provar que roubei aquela maldita cocaína, não é mesmo? Então aqui estou eu. - Eu claramente não estava muito feliz, mas estava o suficiente para não ser o desgraçado filho da puta que trata todo mundo feito lixo.
Quando estava olhando em volta, recebi alguns olhares, divididos entre pena e nojo, engraçado era que isso não era exatamente uma novidade. Recebi muitos olhares ao longo da minha carreira e eles nem sempre eram amigáveis, daqueles que me conhecem bem, eu não esperava uma repreensão. E daqueles que não me conhecem o suficiente estou pouco me fodendo para o que estão pensando. Eles não pagam as minhas contas, então podem ir para o inferno, mas havia mais alguém, na mesa do canto. A mesa mais perto da porta, entenda-se "o pior lugar de todos".
Senti seus olhos me seguindo desde o momento em que saí do elevador, ela não me conhece, pelo menos eu me lembraria se conhecesse porque a maldita mulher ali no canto é linda. A única cujos olhos me dizem é algo diferente dos demais. Parece raiva e algo como se estivesse tomando coragem para vir até mim.
- Quem é a recruta? - Perguntei tirando os olhos dela e encarando meu amigo. Colton, que era sempre cínico e sem filtro, de repente ficou sério. Ele estava na unidade antidrogas desde que comecei, era um homem de meia-idade que fazia o trabalho bem, dois divórcios, dois filhos adultos com quem quase não tem contato, muitos anos de FBI e eu nunca o vi ficar sério - Sophia Hayes, a filha... - finalmente entendi por que ele estava sério - Fernando? - Então é por isso que ela está me olhando assim, ela é a filha do Fernando Hayes - É, quem diria que ele faria algo bem na vida, a filha é uma beleza. - Agora ele voltou ao normal. Fernando Hayes, um grande filho da puta. E eu não me importo de falar mal dos mortos, mas ele era o que de pior a unidade da polícia antinarcóticos formou e colocou nas ruas.
Vindo para o FBI depois de fazer um grande trabalho no combate às drogas nas ruas de Chicago, ele sempre deixou que seu ego erroneamente inflado dominasse sua personalidade fraca. Eu não odiava o homem, entendia que ele era o produto do meio, construído a partir de tudo que viu durante a carreira, mas isso não é motivo para ser um bastardo idiota e sem noção.
- Ela não tirou os olhos de você desde que chegou - Colton continuou falando e sendo ele mesmo, mas eu só estava pensando em que porra a filha do meu parceiro morto estava fazendo na minha unidade antidrogas. - Quando ela chegou? - Colton não pensou muito quando respondeu com toda a história que sabia - Ela apareceu aqui dois dias depois da sua suspensão. Estava na fazenda em Virginia quando o pai morreu e não demorou para chegar aqui. Ele não sabia que ela estava em treinamento, falta um mês para se formar, mas ela já foi trazida para unidade. Mesmo que não tenha recebido nenhuma atribuição ainda.
- Bem, não é como se não tivesse uma vaga. - Encarei a moça, seus grandes olhos amendoados estavam firmes em minha direção, os longos cabelos ondulados e bem presos em um rabo de cavalo a fazia parecer muito mais uma estudante do que uma agente, seu rosto era jovem e seu corpo pequeno, mas parecia tão firme e delicado ao mesmo tempo. Engoli um nó na garganta e me repreendi por dar ouvidos ao meu amigo, o desgraçado ao menos sabia fazer filhos.
Enquanto eu tentava me controlar. Arthur Braxton, meu chefe e responsável pela minha suspensão, apareceu na porta da própria sala e com dois dedos virados para cima, apontando-os para mim, em um gesto que eu me recuso a não ver como algo sexualmente vulgar. Chamou com um olhar sério no seu rosto magro e pouco gentil. - Acho que posso obter algumas respostas desse filho da puta. - Levantei e deixei Colton rindo da minha cara, algo estava errado e eu saberia em breve que de alguma forma eu ainda estava fodido.