Para me forçar a ceder, ele mandou bandidos invadirem o quarto do meu pai idoso na casa de repouso, ameaçando-o em uma videochamada ao vivo.
Mais tarde, no velório do nosso filho, ele defendeu Karina enquanto ela tirava selfies com o caixão e tocava música pop. Ele a ajudou a mostrar um vídeo manipulado para a multidão, me pintando como uma mãe negligente e obcecada pela carreira.
Os presentes jogaram bebida em mim enquanto meu marido protegia sua amante. No dia seguinte, descobri a verdade. Meu pai, depois de ser chantageado por aqueles mesmos bandidos, tirou a própria vida para me proteger.
Meu marido não apenas encobriu um assassinato; ele causou outro. Ele achou que tinha vencido, que havia destruído todas as provas e me quebrado completamente.
Mas ele se esqueceu de uma coisa. O smartwatch com GPS no pulso do nosso filho. Ele gravou tudo - não apenas sua morte, mas cada palavra cruel e provocadora que Karina sussurrou enquanto o deixava morrer.
Capítulo 1
O jato particular pousou suavemente, um leve solavanco na pista do aeroporto em São Paulo.
Alina Vasconcelos soltou o cinto de segurança, sua mente já mudando da fusão bem-sucedida em Tóquio para seu filho de seis anos, Léo.
Ela pegou o celular, sorrindo para a foto na tela de bloqueio. Era Léo, com o rosto sujo de sorvete de chocolate, exibindo um sorriso cheio de dentes, inocente. Ela estava fora há quatro dias. Pareciam quatro anos.
Seu marido, Bernardo Moraes, a esperava no terminal particular. Ele não estava sorrindo. Seu rosto era uma máscara pálida e tensa. Um pavor gelado percorreu Alina, afugentando o calor de sua volta para casa.
"Bê? O que foi? Onde está o Léo?"
Ele não respondeu. Apenas pegou a mala de mão dela e a conduziu até o carro. O silêncio no sedã preto era pesado, sufocante.
"Bernardo, você está me assustando. Me diga o que aconteceu."
Ele finalmente olhou para ela, seus olhos vazios. "Houve um acidente, Alina."
"Um acidente? O Léo está bem? Ele está no hospital?"
"Ele se foi", disse Bernardo, a voz gélida, sem qualquer emoção. "O Léo se foi."
As palavras não faziam sentido. Eram apenas sons, pairando no ar. Se foi? Léo não podia ter ido embora. Ela tinha acabado de comprar para ele um novo aeromodelo, aquele que ele queria, guardado em segurança em sua bagagem.
"Não", ela sussurrou. "Isso não tem graça, Bê. Pare com isso."
Ele não parou. Tirou o celular do bolso e apertou o play em um vídeo. A data e a hora mostravam a tarde de ontem. Era a câmera veicular do carro deles. O sol forte entrava pelo para-brisa. A câmera estava apontada para o banco de trás, onde Léo estava preso em sua cadeirinha. Ele se abanava com as mãos, seu rostinho vermelho.
"Tá quente, Karina", disse a vozinha de Léo.
A porta do motorista se abriu e Karina Alves, a nova estagiária da empresa, se inclinou para dentro. Ela era jovem, bonita, com um sorriso radiante que agora parecia doentiamente falso.
"Vou ser super rápida, Léo", disse Karina. "Só vou entrar na loja por um minutinho. Seja um bom menino."
Ela fechou a porta. A trava clicou. O vídeo continuou. Um minuto se passou. Depois cinco. Depois dez. A temperatura no painel subia. 38. 42. 45 graus. Léo começou a chorar, seus pedidos pela mamãe suaves no início, depois se tornando frenéticos. Ele lutava contra o cinto. O carro era um forno. O vídeo era um filme mudo de seus momentos finais e aterrorizantes.
Alina gritou, um som gutural, animalesco, de pura agonia. Ela se lançou para o telefone, querendo fazer aquilo parar, mas Bernardo o afastou.
"Ela o deixou", Alina engasgou, as lágrimas finalmente escorrendo por seu rosto. "Ela o trancou no carro e o deixou para morrer."
"Estamos indo para a delegacia agora", disse Bernardo, com a voz firme. Ele até estendeu a mão e apertou a dela. "Eu te prometo, Alina. Ela vai pagar por isso."
Uma fagulha de esperança brilhou em meio à sua dor. Ele era seu marido. Ele era o pai de Léo. Claro que ele queria justiça. Ela assentiu, agarrando a mão dele como se fosse uma tábua de salvação enquanto ele entrava na Marginal.
Eles dirigiram por vinte minutos. Alina olhava pela janela, sua mente uma névoa entorpecida de dor. Então ela percebeu que não estavam indo em direção à delegacia central. Estavam nos arredores da cidade.
"Bê, para onde estamos indo?"
Ele não respondeu. Apenas parou o carro em uma via de acesso deserta. Com um bipe suave, as portas do carro se trancaram. Ele se virou para ela, sua expressão indecifrável.
Então, ele ligou o aquecedor. No máximo.
O ar quente e seco jorrou das saídas de ar, sufocando-a instantaneamente. Era o mesmo calor do vídeo. O mesmo calor sufocante e mortal.
"Bê, o que você está fazendo? Desliga isso!"
"Me dê seu celular, Alina. E a senha."
Ela o encarou, confusa. "O quê? Por quê?"
"A filmagem da câmera é enviada automaticamente para um servidor na nuvem", disse ele, com a voz calma, racional. "Preciso da sua senha para fazer o login e apagar."
O mundo girou. "Apagar? Bernardo, isso é a prova! É a única coisa que prova o que aquele monstro fez com o nosso filho!"
"Karina não é um monstro", disse ele, a voz endurecendo. "Ela é uma garota de vinte anos que cometeu um erro. Um erro terrível, sim. Mas não podemos arruinar a vida inteira dela, o futuro dela, por causa disso."
"O futuro dela?", Alina gritou, a voz rachando. "E o futuro do Léo? Ele tinha seis anos! Ela assassinou nosso filho!"
O calor estava se tornando insuportável. O suor brotava em sua testa e seus pulmões ardiam a cada respiração. Ela se sentia tonta, desorientada. O homem sentado ao lado dela era um estranho.
"Eu preciso da senha, Alina", ele repetiu, a voz baixa e ameaçadora. "Não torne isso mais difícil do que precisa ser."
Ela balançou a cabeça, a teimosia surgindo em meio à sua dor. "Nunca."
Seu rosto se contorceu em um rosnado. "Você se acha forte, não é? Sempre se achou."
Ele engatou a marcha e voltou para a estrada, dirigindo a uma velocidade aterrorizante. Alina sentiu uma onda de náusea. O calor estava embaçando as bordas de sua visão. Ela viu a placa da Casa de Repouso Villa Serena.
O lar do seu pai.
"O que você está fazendo?", ela ofegou, o coração batendo forte contra as costelas.
"Você ama seu pai, não ama?", disse Bernardo, um sorriso cruel brincando em seus lábios. "Um velho gentil e amável. Com um coração muito fraco."
Ele entrou no estacionamento e pegou seu próprio celular. Fez uma ligação. "Eles estão aqui. Vão agora."
Ele virou o celular para ela, mostrando uma transmissão de vídeo ao vivo. Era de uma câmera apontada para a porta do quarto de seu pai. Dois homens grandes e brutais, de macacão, estavam usando um pé de cabra para forçar a porta.
"Não", Alina sussurrou, o corpo gelando apesar do calor sufocante. "Bernardo, por favor. Não faça isso."
A porta se estilhaçou. Os homens invadiram o quarto. A câmera mudou para um ângulo de dentro do cômodo. Seu pai, Júlio, frágil e confuso, estava sentado na cama. Os homens o agarraram.
"Me dê a senha, Alina", disse Bernardo suavemente, sua voz um sussurro venenoso contra o som do grito de pânico de seu pai vindo do telefone. "Ou a próxima coisa que você vai planejar é outro funeral."
Lágrimas de fúria e desamparo absoluto escorriam por seu rosto. Ela olhou do homem monstruoso que era seu marido para a imagem de seu pai aterrorizado na tela do celular. Ela estava encurralada.
"A senha", ela engasgou, a voz mal um sussurro. "É o aniversário do Léo."