O cheiro a desinfetante no hospital era sufocante.
Eu estava sentada num banco frio, o meu coração ainda marcado pela perda do nosso bebé.
De repente, o meu telefone vibrou: o meu avô não estava bem, precisava de ir ao hospital central.
Mas Pedro, o meu marido, barrou-me o caminho, com uma frieza que nunca lhe vira.
"Não podes ir. A Inês precisa de uma transfusão. Tu tens o mesmo tipo de sangue que ela."
A sua irmã Inês, grávida, tinha acabado de cair das escadas.
"O teu avô é velho, é normal. A Inês é jovem! E está grávida!"
Grávida.
Lembrei-me do nosso bebé, que perdemos há um mês.
Pouco depois, a notícia do feto da Inês não ter sobrevivido caiu como uma bomba.
E então, o Pedro virou-se para mim, com os olhos vermelhos de raiva: "Estás feliz agora? A culpa é tua!"
Acusou-me, ali, no corredor do hospital, diante de todos.
Como podia ele culpar-me por algo que nem sequer vi?
Como podia ele escolher sempre a sua família, até mesmo a sua irmã que eu mal via, em detrimento do meu luto, do meu próprio avô a morrer?
O meu coração partiu-se não só pela dor do meu avô, mas pela crueldade daquele homem.
As últimas palavras do meu avô, já na cama de morte, ressoaram: "Lia, promete-me... sê feliz. Deixa esse homem. Tu mereces mais."
Foi então que soube. Eu ia deixá-lo. E ia lutar pela minha liberdade.
Mas o que eu não sabia era o quão podre a verdade por trás da "família perfeita" do Pedro seria.
Uma verdade que faria tremer os alicerces do tribunal e exporia um segredo incestuoso e doentio.
Estava na hora de a verdadeira Lia, não a criada submissa, se levantar.