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A outra mulher

A outra mulher

img Romance
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Sinopse

Fugindo de um passado que ameaça alcançá-la, Clara Vasconcelos parte de uma cidade do interior rumo a uma região mais remota, onde a poeira vermelha cobre segredos e a solidão oferece refúgio. Um modesto anúncio de jornal oferece o que parece ser a chance perfeita: um trabalho simples, longe de olhares curiosos. Mas ao chegar à Fazenda Boa Esperança, Clara percebe que a realidade é bem diferente do que imaginava. O homem que a espera não quer apenas ajuda com a casa e a filha pequena. Ele exige presença, silêncio e entrega - e não está disposto a negociar. Envolta por campos vastos, cavalos bravos e uma família marcada pela perda, Clara se vê obrigada a tomar uma decisão. Agora, ela terá que usar de astúcia e coragem para virar o jogo... ou se perder de vez.

Capítulo 1 A ideia

Os dedos trêmulos de *Clara Vasconcelos* lutavam com os botões puídos do vestido marrom que tirara de uma velha mala esquecida - deixada para trás por algum inquilino apressado que passara uma noite e nunca mais voltou. A pensão da tia Lurdes estava cheia de rastros assim: sapatos desparelhados, livros sem dono, e roupas abandonadas que agora serviam de disfarce.

O tecido era grosso, encardido nas costuras e vários números maior, mas servia. E naquele momento, isso era mais que suficiente. Clara precisava parecer outra. Esconder a mulher ferida, a fugitiva, a irmã mais velha tentando proteger o que restava da própria família.

A dor na costela voltou quando abaixou-se para calçar as sandálias - também resgatadas do fundo do armário comunitário. Mordeu o lábio até o gosto metálico se misturar à lembrança da noite anterior, e então respirou fundo. Nada podia atrasá-la.

No bolso, o anúncio do jornal:

"Homem do interior procura esposa. Precisa de ajuda com criança pequena. Oferece teto, comida, e estabilidade."

Era tudo que ela precisava: um novo nome, um novo endereço, e algum tempo sem ser reconhecida.

Na cama, com as pernas finas encolhidas sob o lençol desbotado, Lia, sua irmã de nove anos, observava em silêncio. Os olhos grandes pareciam conter mais maturidade do que qualquer criança deveria carregar. Abraçava a boneca costurada com pano de prato como quem abraça um porto seguro.

- Vai voltar? - Lia sussurrou, quase sem mexer os lábios.

Clara hesitou. Queria dizer que sim. Queria prometer. Mas o mundo já havia quebrado promessas demais para elas duas.

- Eu volto. Assim que puder.

Ajeitou o cabelo com as mãos, puxou a alça da sacola no ombro e se aproximou da irmã. Beijou sua testa com força contida.

- Fica com a tia Lurdes. Ajuda ela na cozinha, promete?

Lia assentiu em silêncio, e Clara saiu. Cada passo era uma despedida. Mas também um começo.

Na estação, ninguém perguntaria seu nome. No interior, ninguém conhecia seu rosto.

Agora, ela era só uma mulher em busca de abrigo.

Mesmo que tivesse que mentir para conseguir.

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