Quando acordei, o cheiro a desinfetante e uma dor excruciante no tornozelo lembraram-me do acidente.
O meu noivo, Pedro, estava ao lado da cama, aparentemente a cuidar de mim, mas o seu olhar era frio.
"Acordaste?" a sua voz sem emoção cortava o ar.
Em vez de preocupação, ele acusou-me de ser uma "grande deceção", de colocar a vida da minha mãe em risco e de adiar o nosso casamento, manchando a "reputação da sua família."
Eu, que quase morri, era a culpada.
A minha mãe, Clara, parecia estar a recuperar, mas a sua afeição por Pedro era inabalável, vendo-o como o genro perfeito.
Dois dias depois, veio a notícia devastadora: o cancro da minha mãe regressara, mais agressivo.
Foi aí que Pedro jogou a sua cartada final.
"Eu pagarei pelo melhor tratamento, não importa o custo," disse ele, um sorriso triunfante nos lábios, enquanto a minha mãe se agarrava a ele como a um salvador.
Eu estava encurralada.
O meu sacrifício era a única esperança para a minha mãe.
Eu vendera a minha alma para a salvar.
"Eu caso contigo," disse, a minha voz vazia, "mas com uma condição."
Ele sabia que tinha vencido.
Perguntei-me: Como podia ele ser tão cruel?
Como a minha própria mãe podia estar tão cega pelo seu "anjo"?
Eu não tinha escolha, a não ser tornar-me a sua "esposa troféu" numa gaiola dourada.
Mas, no dia do casamento, enquanto ele sussurrava "Agora és minha. Para sempre," algo quebrou dentro de mim.
A raiva, fria e calculista, tomou conta.
Eu casaria com ele, mas eu também encontraria uma forma de sair.
E levaria a minha mãe comigo.
A vida no luxo era uma prisão.
Monitorizou os meus gastos, as minhas chamadas, as minhas saídas.
Mas, em segredo, comecei a planear.
Não, eu não pertencia a ninguém.
E a minha vingança seria a liberdade.