A poção queimava minha garganta, um fogo líquido, prometendo o fim da dor e de tudo.
Mas a dor que me consumia não vinha da doença rara e agressiva que me fora diagnosticada, e sim da traição mais cruel.
Meu marido, Duque Pedro, prometeu mover céus e terras pela Flor da Lua, minha única cura.
Ele a encontrou, a preço de fortuna, mas não para mim.
A flor foi para Clara, minha irmã de criação, que reclamava de um resfriado persistente, enquanto eu definhava.
"Clara é tão frágil, Ana", Pedro me disse, desviando o olhar, "Você é forte, vai superar isso."
Forte. Essa palavra me soou como um insulto enquanto meu coração se estraçalhava.
Eu, que construí um império de confeitarias, que administrava a casa do duque e lhe dei um filho, era forte o suficiente para ser deixada para morrer.
Com a morte iminente, uma calma fria me invadiu. Por que lutei tanto? Por que meu sacrifício nunca foi suficiente para eles?
Eles queriam minha generosidade? Eu lhes daria tudo o que sempre desejaram.
Minhas confeitarias "Doce Ana" foram para Clara, aceitas com sorrisos gananciosos dos meus pais.
Minhas joias de família, minhas terras ancestrais, tudo entreguei, observando a cobiça dançar nos olhos de Clara e a aprovação silenciosa de Pedro.
E a facada final: Pedro exigiu que Clara viesse morar conosco.
"Ela é a nova dona das confeitarias, ela precisa estar perto", ele disse, e na sequência, estendeu-me os papéis do divórcio.
Assinei. Assinei meu fim.
A visão escureceu, a última coisa que ouvi foi a voz irritada de Pedro: "Pare com o drama, Ana! Pensei que tinha amadurecido."
Quando acordei, o cheiro do perfume de Clara já impregnava meu quarto.
A poção que tomei mascarava minha morte, tornando-me, para eles, "saudável" .
Ninguém via a morte se aproximando. Ninguém choraria.
Entendi então: minha rendição era a vingança.
Eles pegaram tudo, mas não sabiam que eu lhes entregava um presente fatal.