A primeira coisa que ouvi ao chegar em casa não foi o habitual "Bem-vinda de volta" de Pedro, meu namorado há quatro anos.
Foi um sussurro apaixonado vindo do nosso quarto, a voz dele carregada de uma ternura que eu raramente recebia.
"Não se preocupe, Sofia, eu vou cuidar de você. Não vou deixar que ela te machuque. Isso também será uma redenção pelos males que ela fez ao longo dos anos."
Parei no corredor, o corpo gelado, percebendo que ele falava com uma foto da minha irmã, Sofia.
Naquele instante, os quatro anos de relacionamento desmoronaram, cada beijo, abraço e promessa se revelaram uma farsa elaborada.
Ele nunca me amou; sempre amou Sofia.
E que males eu precisava redimir? Eu não fazia a menor ideia, apenas senti uma raiva fria me consumir, substituindo a dor.
Desde que meu pai, Carlos, trouxe Ana e Sofia para casa após a morte da minha mãe, fui relegada a uma existência de sombra e desprezo, aceitando tudo em silêncio.
Para a sociedade, éramos uma família perfeita, mas fui constantemente humilhada e subjugada.
Eu não entendia por que me odiavam tanto, ou por que meu pai, que um dia me amou, me tratava com tanta indiferença.
Por que só eu era o lembrete de um passado que ele queria esquecer?
A ficha finalmente caiu: se a vida deles era uma peça de teatro, eu seria a diretora da cena final.
Peguei meu celular, o coração batendo descontroladamente, e rolei a lista de contatos até encontrar um nome que eu não discava há anos: Gabriel Silva. O noivo arranjado de Sofia.
Respirei fundo e forcei minha voz a sair firme: "Sr. Silva, você disse uma vez que esperaria por mim. Essa promessa ainda vale?"
Houve um silêncio denso e, depois de uma eternidade, ele respondeu com uma única palavra: "Sim."