A música na igreja parou de repente, e o silêncio que se seguiu era um velho conhecido.
Pela décima primeira vez, Sofia não apareceu no altar.
Lá estava eu, Ricardo, suando frio sob os olhares de pena, a humilhação amarga na boca. Meus pais, no primeiro banco, misturavam preocupação e raiva.
Nenhuma mensagem dela, nenhuma ligação. Só o silêncio que gritava o nome de Gabriel.
Saí da igreja, ignorando a todos, correndo para o carro, com as mãos brancas no volante.
A dor e a raiva explodiram quando a encontrei em casa, ainda de noiva, com o rosto manchado de lágrimas, o celular na mão.
"O que aconteceu?", perguntei, mesmo sabendo a resposta.
Ela levantou a cabeça, os olhos me fuzilando.
"O que aconteceu? O Gabriel passou mal, Ricardo! Ele teve uma crise, ele precisava de mim!"
A voz dela era alta, cheia de acusação, como se a culpa fosse minha.
"De novo, Sofia? No dia do nosso casamento? Na hora do nosso casamento?"
"Você não entende! Ele não tem ninguém! A doença dele é crônica, ele podia ter morrido! Você só pensa em você, no seu maldito casamento!"
Cada palavra dela era um soco no estômago. Sete anos, onze tentativas de casamento. Eu sempre a coloquei em primeiro lugar, recusei propostas de trabalho incríveis, aguentava a presença constante de Gabriel.
Mas, de repente, o anjo se transformou em demônio.
A dor era física, uma pontada aguda no peito que me deixou sem ar. Dirigi até o bar mais próximo, um lugar escuro e sujo que combinava com o meu estado de espírito.
Pedi um uísque, depois outro, e mais outro.
Tirei uma foto do meu copo, com a aliança que nunca usaria ao lado, e postei nos stories: a imagem crua da minha derrota.
O celular vibrou: era uma mensagem de Sofia.
"Você pode apagar isso, por favor? As pessoas estão me ligando, perguntando o que aconteceu. Você está tentando me humilhar? "
A mensagem dela não tinha um pingo de preocupação comigo.
"Não."
E foi ali, no fundo daquele copo de uísque, que percebi que Sofia não me amava, e talvez nunca tivesse amado.
Eu era apenas uma conveniência, um porto seguro.
Mas o feitiço estava quebrado.
Desta vez, algo fundamental havia mudado.