O cheiro de papel novo e tinta fresca preenchia o cartório.
Minhas mãos tremiam, não de felicidade, mas com o eco de uma dor passada.
Estava prestes a assinar o documento que selaria meu destino, unindo-me a Pedro, o homem que, em minha vida anterior, me torturou até a morte.
Ele assistiu enquanto meus três filhos, bebês indefesos, morriam pelas suas mãos.
Tudo por causa de Sofia, sua prima, que se afogou no dia do nosso casamento, e pela qual ele me culpou.
Eu o encarei, o coração aos pulos.
Ele também havia renascido.
E sorriu aquele sorriso manipulador.
"Eu vou me casar com minha prima primeiro para salvá-la."
"Depois de sete dias, vou me divorciar e me casar com você."
A dor não vinha mais do amuleto da minha tribo, mas da traição e do ódio que ele me causava.
Ele me queria como um prêmio, uma posse garantida, sem remorso algum pelos nossos filhos mortos.
Enquanto ele se virava, confiante, eu toquei o amuleto em meu peito, liberando seu poder.
Em no máximo três dias, Lucas, o homem que sempre me amou, me encontraria.
Eles me jogaram para dentro como um saco de batatas.
Horas depois, Pedro reapareceu, furioso.
"Você foi até lá para estragar tudo?" ele rosnou.
Ele me empurrou para o quarto e trancou a porta.
Eu ouvia tudo além da porta: risadas, sussurros, os sons de Pedro e Sofia se amando na 'nossa' cama.
Foi então que notei a imperceptível marca no pescoço dela.
Sofia também renascera.
Uma calma mortal me invadiu.
Peguei um vaso de cerâmica pesado e o quebrei na cabeça de Pedro.
Ele caiu, atordoado.
Ouvi Sofia gritar, fingindo dor, dizendo que a ataquei.
Pedro me arrastou para a porta do porão.
"Você queria ver o rio, Luana? Você sentia falta da água?"
Ele me atirou escada abaixo, em uma prisão de água, na escuridão.
O calor do amuleto se intensificou.
Eles estavam perto.
Minha liberdade, minha vingança, estavam perto.
A porta do porão se abriu, revelando Lucas.
"Luana", ele disse, sua voz um trovão.
Ele tirou o próprio casaco e o colocou sobre meus ombros.
"Viemos te buscar", ele disse.
"Vamos para casa."