Durante cinco anos, acreditei que meu casamento com Fábio era uma fortaleza. Para o mundo, ele era um homem frio, mas para mim, era tudo.
Até que descobri a verdade: eu era apenas um escudo para ele proteger seu verdadeiro amor, Priscila.
Ele não só me traiu, como também roubou a agência que construí do zero e a entregou para ela.
O golpe final foi descobrir que ele sacrificou nosso filho para salvá-la de uma falsa emergência.
Meu mundo desabou. O homem que eu amava não só me traiu, como também era o assassino do nosso bebê.
Então, no meu aniversário, fiz um último pedido: um passeio de balão ao amanhecer.
Enquanto o balão subia, enviei um e-mail agendado com todos os seus segredos.
Depois, sem hesitar, atirei no balão.
Minha morte seria seu julgamento final.
Capítulo 1
Eu estava a terminar os últimos preparativos para a minha partida, cada movimento meu era calculado e frio, ecoando a decisão que tinha tomado. Não havia volta atrás. A linha telefónica ficou muda quando desliguei a chamada, o clique final parecia selar não apenas uma conversa, mas todo o meu passado. Arrumei os pertences, um por um, na gaveta oculta onde ninguém os procuraria. No ar, um cheiro familiar pairava, uma mistura de perfume caro e promessas quebradas. Era o cheiro dele. Eu levantei a cabeça por instinto, o coração batendo pesado no peito. Ele entrou na sala, o frio da noite ainda agarrado ao seu casaco, um lembrete do mundo exterior onde a verdade se escondia.
Os seus braços envolveram-me por trás, um abraço que outrora me confortava, mas agora me aprisionava. O calor do seu corpo contra o meu era uma farsa, um contraste cruel com o gelo que se instalara na minha alma. "Ainda acordada?", a sua voz grave e sedutora sussurrou no meu ouvido. Essa voz, que me fazia derreter, agora era apenas um eco oco. Inventei uma desculpa qualquer, algo sobre as insónias e o trabalho, forçando um sorriso no rosto. Mantive a voz firme, quase alegre, como se a felicidade ainda fosse um luxo que eu podia dar-me ao luxo de fingir. Ele beijou o topo da minha cabeça, um gesto de carinho que costumava derreter o meu coração, mas agora apenas o endurecia. "Estás a trabalhar demais, meu amor", disse, a preocupação na sua voz parecia genuína. "Devo arranjar-te um consultor de bem-estar. Não quero que te esgotes."
Nos últimos cinco anos, o personagem masculino principal tinha sido o meu mundo. Ele cozinhava para mim, cantava canções de embalar quando eu não conseguia dormir, e o mundo inteiro o via como um homem frio, menos para mim. Eu acreditava que o nosso amor seria eterno, uma fortaleza impenetável contra as adversidades. Mas a verdade era uma arma, lenta e dolorosa, que me estava a rasgar por dentro: o nosso casamento era apenas um escudo, uma fachada para proteger outra mulher, a personagem feminina secundária.
Ele mencionou casualmente que ia visitar a sua parente, os seus dedos escovando o meu cabelo numa carícia leve. "Ah, e a personagem feminina secundária está grávida", acrescentou, como se fosse uma notícia banal. "E assumiu a gestão daquela agência. Deveríamos ir felicitá-la." As minhas veias gelaram. Aquela agência? "Não te canses, querida. Fica em casa e descansa", ele continuou, indiferente à minha súbita rigidez. "Eu levo o nosso presente e volto cedo para te fazer companhia."
O meu sangue pareceu congelar. Aquela agência era a minha vida, a minha criação. Lutei para me manter calma, a voz um sussurro rouco. "Aquela agência... Eu construí-a do zero. Todos os prémios, todos os reconhecimentos... eram meus." Ele interrompeu-me com um sorriso terno, mas os seus olhos eram de aço. "Sei, meu anjo. Mas a personagem feminina secundária precisa de algo para a animar, e com a gravidez, ela está frágil. Não quero ver-te tão sobrecarregada. É para o teu bem." Eu baixei os olhos, incapaz de esconder a dor que me consumia. Ele via o meu trabalho como um brinquedo, a minha ambição como uma carga. E ele nunca entenderia.
"A propósito, o teu presente de aniversário está quase pronto", disse ele, beijando a minha testa. "Estás tão pálida. Mandei o mordomo encher o quarto com as tuas flores preferidas. Rosas brancas e lilases. Adoras o cheiro, não adoras?" O meu coração deu um salto, a gargalhada presa na garganta. Rosas brancas e lilases, o cheiro que me causava uma alergia terrível. Ele tinha esquecido. Ou talvez, ele nunca soubera. A sua memória não era a minha, mas a dela. As rosas brancas eram as flores preferidas da personagem feminina secundária, segundo os arquivos secretos que eu tinha descoberto.
Forcei um sorriso. "Não preciso de flores, meu amor. O meu desejo de aniversário é simples: quero que estejas comigo. Juntos, como antes." Ele sorriu, o seu rosto iluminado pela minha aparente simplicidade. "Claro, meu anjo. O que quiseres."
Naquela noite, eu virei-me na cama, incapaz de dormir. Os braços dele envolviam-me com uma força possessiva, mas o vazio entre nós era um abismo. Quando tentei afastar-me, algo caiu do bolso do seu casaco. Peguei-o, a mão a tremer. Era um batom, um tom único de cereja selvagem, o favorito da personagem feminina secundária, que ela descrevera uma vez como "a cor da paixão proibida". A paixão proibida que ele estava a viver. O choque foi tão avassalador que eu mal podia respirar. Aquele batom, feito sob medida para ela, era a prova final. Eu estava desiludida. E a decisão foi tomada.