A discussão acalorada de seus pais prosseguiu por um longo tempo, escondida no final da escada, Chloe ouviu parte da conversa.
- Não é seguro deixar que eles a levem até a escola, Harold! Eu disse a você o que eu vi e ouvi! – mamãe dizia alto.
- Você perdeu completamente a razão! Eu já te falei inúmeras vezes que os Lenoxx não tem nada a ver com aquilo. Supor esse tipo de coisa sobre pessoas que conhecemos há tantos anos é ultrajante, Francis! – papai respondeu.
Os passos deles ecoavam pelo assoalho de madeira, pouco antes de seguirem em direção a escada.
Chloe correu para o seu quarto, seus cabelos loiros estavam presos com laços cor de rosa, e o uniforme escolar estava um pouco amassado, mas fora isso, continuava arrumada como sua mãe a deixou poucos minutos atrás. Pegando a mochila, ela esperou que eles chegassem.
Não queria deixar Holly sozinha hoje de novo, ela poderia se sentir sozinha por mais nova e estar no jardim de infância. Mas desde que seus pais discutiram na semana passada, mamãe não deixava que ela fosse para a escola com os Lenoxx, os vizinhos que eram os pais de Holly, e amigos de longa data de seus pais.
A porta se abriu e seu pai entrou, com um sorriso meio ensaiado.
- Está pronta, querida? – ele perguntou.
- Sim, papai. – Chloe respondeu, pegando a mão dele e o seguindo escada abaixo.
No hall de entrada, sua mãe entregou o lanche, e a beijou carinhosamente, e disse.
- Chloe, se perceber qualquer coisa estranha com a tia Diana e o tio Albert, você deve contar a mamãe e o papai imediatamente, entendeu?
- Então eu vou com a Holly hoje?
Francis, sua mãe olhou para seu pai com uma expressão atormentada, e esperou, como se pedisse que ele mudasse de ideia. Mas seu pai, Harold, a beijou na bochecha e disse.
- Sua mãe só está muito sensível hoje, querida. Não fica assustada. Hoje você vai com a Holly para a escola. – ele abriu a porta, e Chloe olhou para trás.
O rosto de sua mãe estava apreensivo, e mesmo acenando com um sorriso, lágrimas escapavam de seus olhos.
- Eu te amo, querida. – ela disse.
Abrindo a porta do carro dos Lenoxx, seu pai deu-lhe mais um beijo, e em seguida o carro se colocou em movimento. Se voltando para Holly em sua cadeira de segurança, Chloe esqueceu completamente as preocupações da mãe, e como uma criança feliz começou a brincar com a sua amiguinha.
O carro seguia viagem tranquilamente, enquanto os adultos falavam de coisas que ela não entendia. Até que um barulho ensurdecedor e o baque seco cortou o ar, aniquilando a paz de seus ocupantes.
Por muito tempo, a única coisa que Chloe conseguia ouvir, era um som de apito alto, e depois foi notando o choro de uma criança. Tudo estava escuro, e ela se perguntou onde estava o sol. Seu pequeno coração disparou de uma maneira que ela achou que ele explodiria, mas não sabia por que isso estava acontecendo.
"Mamãe!" ela chamou em sua mente, sentindo um medo frio se apoderar de seu corpo infantil. "Mamãe, eu não sei onde estou! Me ajuda!"
Chloe gritava em seus pensamentos, mas nada mudava. Algo frio envolveu sua pele, e foi pressionando seus ossos, e de repente ficou impossível respirar. E nesse momento, ela se lembrou do olhar angustiado de sua mãe na porta de casa, como se temesse por ela.
A imensidão gelada e fria a envolveu. O choro de criança, o som enlouquecedor desapareceu, e tudo sumiu. Era assim que acontecia quando as pessoas morriam?
Ela não sabia.
Mas agora não veria mais o rosto corado de sua mãe enquanto dançava com seu pai depois do jantar. Não ouviria mais a risada de Holly e nem faria uma festa de aniversário com tema de jardim de fadas. Ela não estava mais nesse mundo.
Ou pelo menos foi isso o que pensou.
Então quando abriu os olhos novamente, a claridade das lâmpadas de led quase a cegaram. Chloe engoliu em seco, e sentiu que sua garganta parecia esmagada de tão dolorida, seus olhos ardiam e ela mal conseguia focar em algum ponto daquele lugar que era claro e muito iluminado.
Até que uma voz familiar, a fez chorar imediatamente.
- Chloe? Oh meu Deus! – a voz de seu pai parecia quase irreal.
Um toque suave em sua mão a fez olhar para o lado, onde uma figura se erguia. Quando finalmente conseguiu vê-lo, ela quase não reconheceu seu pai.
Engolindo em seco, ela quis falar, perguntar o que aconteceu com ele, mas nada saiu.
- Não tente falar, querida. Eu já chamei o médico. – ele chorava, e beijava a mão pequena entre as dele. – O papai está aqui Chloe, ninguém vai te machucar, eu não vou te deixar sozinha.
A aparecia de seu pai a preocupava, mas a ausência de sua mãe, começou a deixa-la ainda mais inquieta. Os médicos chegaram rápido, e seu pai teve que se afastar para que a examinassem.
Eles falavam com uma voz baixa e pareciam evitar mover seu corpo. Ao afastarem o lençol que a cobria, Chloe percebeu o motivo. Uma de suas pernas estava presa em uma gaiola de metal, hastes de ferro adentravam sua carne e seu pé estava cheio de ataduras brancas em um ângulo estranho.
O grito estrangulado fez o sangue eclodir em sua garganta, e naquele momento em que tentavam conte-la, ela soube que sua vida nunca mais seria a mesma.