A porta se abriu com um estrondo, revelando Helena, ex-namorada do meu marido Ricardo, com o rosto ensopado em lágrimas falsas.
Ricardo entrou logo atrás, tenso e frio, e a voz dele era uma lâmina cortante: "Precisamos conversar, Sofia. Isabela morreu. Foi um acidente de carro. E a culpa é sua."
Minhas entranhas se contorceram. "O quê? Como assim, a culpa é minha? É uma mentira!"
Helena, então, me acusou venenosamente: "Eu vi o seu carro! Você estava distraída, Sofia. Você matou a minha filha!"
Com a minha barriga de oito meses comprovando que eu estava em casa o dia inteiro, eu sabia que era uma mentira absurda, mas Ricardo acreditou nela, ou fingiu acreditar.
Ele apontou para o nosso filho em meu ventre: "Você vai tirar isso. Nós vamos tirar isso."
O ar me faltou. "Você enlouqueceu? Este é o nosso filho!"
Mas ele estava determinado em sua monstruosidade: "Você tirou a filha de Helena, vai dar a ela uma nova. Vamos clonar Isabela, e você será a barriga de aluguel."
Naquela noite, fui amarrada à maca, sedada, sentindo a picada da agulha enquanto meu bebê chutava em desespero.
A última coisa que vi foi o rosto impassível de Ricardo, dando o bisturi para seu assistente.
Acordei com um vazio abissal e doloroso, meu filho havia sido roubado de mim.
Dias depois, ainda dopada, o embrião anônimo de Isabela foi implantado em meu corpo violado, transformando-me em uma prisão para a cópia da filha da amante do meu marido.
Eu era uma incubadora humana, trancada no quarto de hóspedes, monitorada dia e noite por câmeras.
A dor e a raiva me consumiam.
Em uma tentativa desesperada de escapar, peguei um caco de vidro, mas Ricardo me impediu, me amarrando à cama, transformando-me em uma tumba viva.
A tortura da gravidez forçada, com Ricardo me tratando como um objeto, atingiu seu ápice quando ele me forçou a comer a papinha feita das roupinhas do meu filho.
Em um dia chuvoso, Helena, a arquiteta da minha miséria, revelou sua confissão horripilante, com os olhos brilhando em triunfo: "Não foi um acidente. Fui eu. Sacrifiquei minha própria filha para ter Ricardo de volta."
A raiva me impulsionou. Eu a ataquei, gritando toda a minha dor e fúria, mas uma pontada lancinante me atingiu.
O bebê estava vindo, cedo demais.
Ricardo estourou pela porta e Helena, a atriz consumada, encenou um show de choro e acusações, transformando-me na vilã.
Ele acreditou nela mais uma vez.
Na sala de cirurgia, com meu corpo já em colapso, Ricardo ordenou, com uma frieza cortante: "Conserve a criança, abandone o adulto."
Ele nem esperou a anestesia. O primeiro corte do bisturi me rasgou, mas a dor se desvaneceu, minha consciência flutuando para fora do corpo.
Eu estava morrendo, e senti um alívio terrível.
Mas o horror daquele momento foi ver meu corpo se sentar na maca, com os olhos vazios, sem vida, uma marionete.
Eu estava presa, uma alma sem corpo, forçada a assistir Ricardo me tratar como um brinquedo quebrado, cuidando de uma casca vazia.
Helena, em um acesso de raiva e ciúme, sufocou o clone da filha e me incriminou, colocando o bebê morto em meus braços.
Ricardo, para o meu terror, ia chamar a polícia, mas a semente da dúvida havia sido plantada. Ele percebeu a mentira.
Ele me levou para um neurologista, que revelou a verdade: eu estava em estado vegetativo persistente, uma casca vazia.
Helena confessou tudo, sua maldade revelada em cada palavra. Ela havia sacrificado a própria filha, e agora, ela estava desfigurada por Ricardo.
Ele se deitou ao meu lado, as lágrimas escorrendo em seu rosto: "O que eu fiz com você?"
Ele não chorava por mim, mas por ele mesmo, preso em sua própria dor.
Ele decidiu nos levar para a morte, juntos. No fogo purificador, eu o segurei.
A alma do nosso filho apareceu, nos unimos, e o fogo devorou tudo.