A voz do reitor era um eco distante, enquanto eu, a aluna mais promissora do ano, ocupava meu lugar de honra na primeira fila.
Mas eu não conseguia me concentrar em suas palavras; meus pensamentos estavam presos à data no telão: o dia da minha prova de admissão.
Era o dia em que tudo começou, e de alguma forma, eu estava de volta.
Na minha vida anterior, este dia marcou o auge da minha felicidade: Dra. Beatriz, a renomada pesquisadora, queria ser minha orientadora, e eu, cega pela admiração, a escolhi.
Foi o maior erro da minha vida.
A traição veio como uma onda: o rosto dela contorcido de ódio, a acusação de que eu havia arruinado a carreira de seu amado Pedro para que ele nunca a alcançasse.
Eles vazaram meu projeto de pesquisa, o trabalho da minha vida, e fui acusada de fraude, meu nome manchado, minha liberdade perdida.
Na prisão, a vingança dela continuou: forçada a trabalhar para dezenas de pesquisadores, meu cérebro explorado até a exaustão, alimentada por drogas para me manter funcional.
Morri sozinha, em uma cela fria, o nome de Beatriz sendo a última maldição em meus lábios.
E agora, aqui estava eu, viva, com a chance de fazer tudo diferente, mas o silêncio no auditório se tornou ensurdecedor quando o reitor me trouxe de volta à realidade.
"Laura, você pode escolher sua orientadora de tese agora."
Todos os olhos estavam em mim, esperando que eu declarasse o nome de Beatriz com orgulho.
Mas desta vez, eu me levantei e anunciei: "Gostaria de deixar ao acaso. Eu gostaria de tirar a sorte."
Um murmúrio percorreu o auditório; a confusão do reitor se transformou em espanto, a tradição desafiada.
"É a minha condição", insisti, "caso contrário, prefiro não escolher ninguém."
Minha firmeza os surpreendeu, e eles cederam. Peguei um papel da caixa: "Dra. Sofia."
O choque foi ainda maior; Sofia era a mais jovem, a mais exigente, ninguém a escolheria em sã consciência.
Mas o rosto pálido de Beatriz, com os lábios entreabertos em choque, revelou a maior satisfação.
Em sua fúria, ela se levantou abruptamente e desabou, a humilhação pública a atingiu em cheio.
Enquanto era socorrida, senti um vazio gelado onde antes havia admiração.
Adeus, Dra. Beatriz. Desta vez, eu terei minha redenção, e você, seu nada.