Então como, em nome de tudo, estava novamente dentro da mansão da família?
A sala de estar revelou-se diante dela impecável como sempre, com a luz solar atravessando a claraboia elevada e espalhando brilho dourado sobre o chão polido, enquanto um aroma sutil, talvez jasmim ou lírios, flutuava no ar.
De repente, tudo retornou com força.
Hoje era o dia em que Kevin Stanley apareceu com sua proposta ousada: unir as famílias por meio de dois casamentos.
Ela havia escolhido Theo Stanley, o neto mais novo, uma decisão que abriu caminho para a escuridão que tiraria sua vida.
Mas agora, desperta em meio à cena familiar, uma ideia gélida a atingiu - ela renasceu?
Se o destino lhe oferecia uma segunda chance, ela reescreveria cada escolha. Não seria mais a ingênua de antes, e todos que a feriram pagariam por completo.
A família Stanley reinava soberana no topo, com um império entrelaçado ao próprio tecido da cidade. Casar com alguém dessa linhagem era o sonho de muitos.
Ainda assim, os Stanley escolheram os Sullivan porque, décadas antes, o avô de Gracie, Danny Sullivan, servira no exército ao lado de Kevin.
Danny havia salvado a vida de Kevin, e este, em sinal de gratidão, prometeu unir suas famílias por meio do matrimônio.
Quando seus netos atingiram a idade apropriada, os Stanley decidiram cumprir a promessa, não importando as consequências.
Na época, os Sullivan enfrentavam declínio financeiro, e a proposta parecia uma dádiva impossível de recusar.
Uma sombra atravessou os olhos de Gracie. Na vida anterior, sua meia-irmã mais nova, Ellie Sullivan, escolheu primeiro e fisgou Brayden Stanley, herdeiro do império, pois tornar-se sua esposa significava adentrar um mundo de prestígio e poder.
No entanto, o coração desse homem já pertencia a outra mulher, e o casamento com uma Sullivan foi apenas um gesto obediente às exigências familiares.
Após a cerimônia, ele manteve Ellie à distância. Embora em público formassem o casal ideal, em casa, viviam separados.
Orgulhosa demais para admitir ser inferior a alguém, Ellie atacava às escondidas a mulher que Brayden amava, manipulando-o e tramando até conduzi-lo, passo a passo, à tragédia que o destruiu por dentro e por fora.
Mas, o destino também não foi bondoso com Ellie, que morreu no parto pouco tempo depois.
Gracie ergueu o queixo devagar, fitando Theo com firmeza silenciosa.
Ele piscou, surpreso, antes de abrir um sorriso gentil. Cada traço dele exalava sofisticação e elegância, impossível não se impressionar.
Ainda assim, um calafrio percorreu Gracie quando o medo se espalhou por sua espinha, já que ela sabia bem a crueldade que se escondia por trás dessa serenidade.
Fragmentos de sua vida passada invadiram sua mente, a deixando pálida. Instintivamente, ela baixou o olhar, incapaz de sustentar o contato visual.
"Senhor Sullivan, o que acha de deixarmos que as meninas escolham com quem desejam se casar?", sugeriu Kevin com uma risada afável.
Alan Sullivan, pai de Gracie, acompanhou com uma risada contida. "Ótima ideia."
Gracie mantinha a cabeça baixa, cravando as unhas nas palmas para se concentrar, ciente de que nem ela nem Ellie tinham poder de escolha, pois seu pai jamais rejeitaria uma união com os Stanley.
"Pai, eu escolho Theo", exclamou Ellie, rompendo o silêncio que pairava no ar.
Gracie prendeu a respiração - não havia sido assim da última vez! Por que Ellie escolhera diferente agora?
Jane Sullivan, mãe de Ellie, lhe lançou um olhar cortante e murmurou em tom firme: "Pense bem antes de falar."
Brayden herdaria toda a fortuna, enquanto Theo, apesar de brilhante, não mostrava interesse pelos negócios. Sendo assim, que futuro esse casamento poderia oferecer?
"Já está decidido", disse Ellie.
Com elegância, ela se levantou e encarou Theo num sorriso seguro, que ele retribuiu, embora os olhos dele repousassem sobre Gracie um breve instante antes de se afastarem.
Os lábios de Alan se comprimiram discretamente. Embora não aprovasse a escolha, ele não ousou contradizê-la.
"E você, Gracie?", ele perguntou.
Inspirando profundamente, Gracie levantou os olhos e apontou para Brayden.
Mantendo uma expressão fria, ele lhe lançou um olhar rápido antes de desviar a atenção para outro ponto.
Ao abaixar a mão, Gracie sentiu um olhar gélido sobre si, como uma lâmina que percorria sua pele.
Sentindo o coração acelerar, ela engoliu em seco.
Sua mente estava em turbilhão e o restante da conversa reduziu-se a ruído, com vozes que mal conseguia registrar.
Talvez essa segunda chance fosse apenas uma miragem cruel. No entanto, a dor nas palmas das mãos dizia o contrário, isso era real.
Ao final da conversa, todos se dirigiram para a sala de jantar.
Após o jantar, os Stanley se despediram.
Theo ainda ficou por um tempo, se despedindo com educação, sua voz serena e encantadora.
Brayden, por sua vez, não olhou nem para Gracie, nem para Ellie, apenas se virou e saiu.
Quando Theo desviou o olhar, a tensão abandonou o corpo de Gracie, e ela soltou um suspiro que não sabia estar segurando. Com isso, ela se ergueu e voltou para o quarto.
Ao passar pelo escritório, captou vozes abafadas, uma conversa que não deveria ter ouvido.
"Você perdeu a cabeça? Por que escolheu Theo? Brayden vai liderar o império, e Theo não terá qualquer chance!", Jane repreendia a filha.
Ellie e Gracie dividiam o mesmo pai, mas não a mesma mãe.
Quando a mãe de Gracie morreu, Alan se casou com Jane, que se mudou para a casa trazendo a filha, Ellie.
Desde então Gracie conviveu com o pai que traíra sua mãe e se sentia uma estranha em próprio lar.
"Mãe, você não entende!", exclamou Ellie, sua voz ecoando no corredor, frustrada. "Brayden ama outra mulher. Ele só aceitou esse casamento por obrigação. Não importa o que eu faça, ele só me ignora."
"Mas se casar com Theo é entregar todo o prestígio para Gracie!", rebateu Jane, alarmada.
Ellie soltou uma risada seca. "Ah, por favor. O que ela tem de especial? O coração de Brayden já tem dona. Gracie não conseguiria competir, nem que tentasse. Mesmo se casando com ele, a personalidade apagada dela nunca o conquistaria. Theo, por outro lado, é gentil, calmo, leal e dedicado a quem ama. E, para ser sincera, o sucessor ainda está longe de ser escolhido."
Com o olhar voltado para baixo, Gracie abriu a porta e se encostou suavemente ao batente, fitando o próprio pulso liso e intacto, sem qualquer sinal da cicatriz que, na vida anterior, marcava profundamente sua pele.
Theo era dedicado? Ellie não fazia ideia do quanto estava enganada.
Na verdade, esse homem era calculista, manipulador e perigosamente hábil em distorcer a mente alheia. Tudo o que ele havia conquistado antes fora construído às custas do sofrimento de Gracie.
Agora, ela prometeu a si mesma que, nesta vida, não permitiria que ninguém a ferisse daquela maneira novamente.