Capítulo 1 – O Rosto no Vento do Deserto
O deserto de Al-Nur era feito de silêncio e luz. E foi ali, entre as dunas douradas e os véus quentes do vento, que o príncipe Amir começou a sonhar.
Tinha apenas oito anos quando ela apareceu pela primeira vez. Não como uma visão comum, mas como um sussurro gravado na alma. Seus olhos fechavam-se à noite, e um rosto desconhecido emergia do escuro - tão nítido, tão real, que o pequeno herdeiro acordava em sobressalto, com o coração batendo como um tambor sagrado.
Era sempre o mesmo rosto. Uma jovem de traços suaves, cabelos como mar e tempestade, olhos que falavam sem dizer. Ela não sorria nem chorava. Apenas o olhava, como quem espera. Como quem pertence.
A obsessão começou ali.
Enquanto outras crianças brincavam nos jardins do palácio, Amir desenhava. Pediu a seu tutor que lhe ensinasse as linhas do retrato humano. E mesmo quando os adultos sorriam da sua seriedade precoce, ele seguia - folha após folha, caderno após caderno - tentando capturar aquela mulher que o visitava todas as noites.
Aos dez anos, já preenchia gavetas inteiras com o mesmo rosto. Era como se seu corpo vivesse ali, naquele reino árido e brilhante, mas sua alma pertencesse a algum lugar onde ela estivesse. Ele não sabia seu nome. Então a batizou em segredo, num sussurro entre as estrelas: Layla, "noite" em sua língua.
Layla passou a ser seu segredo mais profundo. Seu conforto. Sua tormenta.
E os anos correram, levando consigo a infância e trazendo a urgência da juventude. Aos dezessete anos, Amir, agora um jovem homem de postura firme e olhos de sombra, olhou para o céu do deserto e fez uma promessa silenciosa: ele a encontraria. Nem que tivesse que atravessar o mundo inteiro.
Foi o início da jornada.
Usando os recursos da Casa de Al-Fahim, contratou os melhores detetives, especialistas em identificação facial, investigadores privados. Não contou a ninguém sobre os sonhos, apenas dizia que procurava por uma mulher. "A mulher certa."
Visitou mais de vinte países. Esteve entre as ruelas estreitas de Fez, nas vielas coloridas de Jaipur, nas margens do Bósforo, nos cafés parisienses, nos monastérios da Grécia. Cada rosto que via era uma pergunta. Cada negativa, uma dor.
Mas Amir não desistia. A cada dia longe dela, desenhava. A cada noite sem sinal, dormia abraçado às versões antigas de seu amor imaginado.
Aos 23 anos, herdou os negócios da família. Tornou-se um dos empresários mais influentes do mundo árabe, uma figura reservada, fria aos olhos do mundo. Mas quem o visse à noite, ajoelhado diante de uma mesa com luz baixa, desenhando com as mãos manchadas de carvão, entenderia: aquele homem não vivia pelos tronos.
Ele vivia por ela.
Layla. A mulher dos seus sonhos. A ausência mais presente em sua vida.
E enquanto ele a procurava em cada multidão, em cada retrato, em cada esquina do planeta...
Do outro lado do oceano, sob o céu quente do Brasil, uma jovem chamada Luna começava a sentir que alguém a chamava em silêncio. Como um sopro vindo do deserto.
Mas ainda era cedo.
O destino, esse artesão de silêncios, ainda tecia os últimos fios antes de permitir que seus caminhos se cruzassem.