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O Alfa e a Criança da Lua

O Alfa e a Criança da Lua

img Lobisomem
img 15 Capítulo
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img Ana E Souza
5.0
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Sinopse

Quando a jovem Lyra, metade humana e metade Lycan, se perde em um território hostil, ela é salva pelo Alfa Zane. O que Zane não sabe é que Lyra é um lobo branco raro e, mais importante, sua companheira predestinada. Com 13 anos de diferença entre eles, Zane se vê em um dilema moral, dividido entre o desejo avassalador que ele sente e a ideia de que Lyra é muito jovem para ele. Agora, ele precisa lutar contra a própria natureza e o destino para proteger a única pessoa que seu lobo clama.

Capítulo 1 O Alfa Prematuro

POV Zane (17 anos)

O escritório da matilha cheirava a couro antigo, fumaça de lenha e responsabilidade. A sala era ampla, forrada por estantes que guardavam livros de estratégia, genealogias da Silver Claw e pergaminhos gastos que falavam de pactos com a própria deusa da Lua. Mas, para Zane, tudo aquilo parecia maior do que deveria. Maior do que ele gostaria de suportar.

Os mapas que cobriam a mesa eram testemunhas mudas da pressão que pesava sobre seus ombros. Desde que assumira o título de Alfa da Silver Claw, aos dezesseis anos, cada marca traçada no papel parecia ser um fardo gravado em sua carne.

Ainda era estranho pronunciar o título em pensamento. "Alfa". Quase soava como uma máscara, uma armadura emprestada de alguém que não era ele. O pai sempre dissera que ele seria grande, que herdaria não apenas a força, mas também a astúcia que corria no sangue dos Clayson. Só que Zane não esperava que a morte chegasse tão cedo, arrancando seus pais e o jogando na liderança da matilha antes que estivesse pronto.

Aos catorze, acompanhava o pai em reuniões, aprendia os protocolos, os códigos de conduta e as artimanhas da política entre Alfas. Mas nada o havia preparado para o silêncio cortante que vinha quando uma decisão final dependia apenas dele.

Naquele fim de tarde, desejava apenas um instante de normalidade. Gostaria de correr pela floresta com Tyler, seu melhor amigo, de rir das histórias exageradas do Gamma depois do treino, de simplesmente ser um jovem comum. Mas Alfa não tem esse luxo. Alfa não sonha: decide. Alfa não corre livre: carrega o peso de milhares de vidas.

E Zane sabia que impressionava. A altura de quase dois metros fazia dele uma muralha entre os guerreiros. O corpo musculoso era moldado pelo treino diário desde a infância. E os olhos azuis herdados da mãe refletiam uma frieza que ele, no fundo, não sentia - mas precisava exibir.

Para os anciões, ele era ao mesmo tempo promessa e ameaça.

Não era respeito o que via em seus olhares.

Era medo.

Medo de sua força.

Medo de sua juventude.

Medo de que fosse ainda maior do que o pai havia sido.

E talvez estivessem certos. Havia algo em seu sangue que queimava além da medida, algo que até mesmo Carson, o velho Beta, não sabia explicar. Uma energia que latejava sempre que a lua cheia surgia, um chamado selvagem que às vezes ele temia não conseguir controlar.

"Você nasceu para liderar, não para se esconder atrás deles."

A voz grave de Zander, seu lobo, ecoou em sua mente.

"Aceite o medo deles. É sinal de que sabem do que você é capaz."

Zane suspirou. - E se eu não quiser que me temam? - murmurou sozinho.

"Então vai aprender rápido que não há escolha. O respeito nasce do medo, e só depois vira lealdade."

Ele massageou as têmporas. A cada dia, a pressão do cargo parecia crescer, e a solidão era a pior parte.

Foi nesse momento que três batidas firmes ecoaram na porta.

Zane fechou os olhos, inspirando fundo. O cheiro de sândalo e ferro infiltrava-se pela fresta da madeira.

- Entre, Carson.

O Beta entrou. Quase tão imponente quanto o Alfa, com quase um metro e noventa, cabelos cor de areia já marcados de grisalho e olhos verdes que guardavam mais batalhas do que qualquer jovem poderia imaginar. Carson era o pai de Tyler, e, apesar da postura rígida, havia sempre algo paternal em sua presença.

- Alfa, temos um incidente na fronteira. - Sua voz carregava urgência.

Zane semicerrrou os olhos, exalando cansaço. - Renegados? O que fizeram dessa vez?

Carson balançou a cabeça, tenso. - Não são os Renegados. É outra coisa. Preciso que venha ver com os próprios olhos.

Se Carson hesitava, não era trivial.

A viagem até a fronteira foi rápida, mas cada passo no bosque fazia o peito de Zane pesar. O ar cheirava a gasolina, a ferro queimado e a sangue humano. Cheirava a tragédia.

Quando chegaram, o cenário parecia arrancado de um pesadelo.

Um carro destroçado jazia entre árvores partidas, fumaça ainda escapando do motor. O corpo de uma mulher humana estava estendido no chão, inerte, coberto de poeira e sangue. O cheiro doce e metálico da morte impregnava o ambiente.

Mas não foi nela que seus olhos se fixaram.

Ali, ao lado, um pequeno lobo branco se encolhia, tremendo.

O pelo cintilava como neve à luz da lua. Os olhos, de um violeta faiscante, eram selvagens e indomáveis. O cheiro que emanava era agridoce: medo infantil misturado a algo impossível de ignorar - mel e lavanda.

Um arrepio percorreu a espinha de Zane. Lobos brancos eram lenda. Eram raridade divina, dádivas da própria Deusa da Lua. A cada geração, quando um surgia, o destino da matilha mudava para sempre.

Ele lançou um olhar carregado a Carson. - É... um híbrido?

O Beta assentiu. - Sim, Alfa. Mas isso não é tudo. - Hesitou. - Quando a equipe Gamma a encontrou, a criança chamou pela mãe... e então se transformou.

Zane ficou imóvel. - Uma criança... transformou-se?

- Sim. Sem guia. Apenas o instinto. Desde então, está fora de controle. O instinto predatório tomou conta. Os guerreiros não ousam se aproximar.

Zane silenciou, a mente girando.

Nem Alfas conseguiam assumir a forma antes da puberdade. Nem guerreiros veteranos tinham tanto poder bruto.

E ali estava: uma criança completamente transformada.

"Ela é um sinal, Zane." A voz de Zander ecoou. "A Deusa colocou esse fardo em suas mãos. Não ignore."

Zane cerrou os punhos. - Carson... você me trouxe aqui para que eu imponha minha aura sobre ela?

- Sim, Alfa. Acreditamos que será menos perigoso que tentar contê-la à força.

A raiva cresceu em sua voz. - Você se esquece de que impor minha aura a alguém que não me jurou lealdade é uma tortura? Para que essa criança se submeta a mim, teria que me reconhecer como Alfa.

- O medo pode forçá-la a isso. - Carson mantinha o tom firme.

Zane ergueu o olhar para o pequeno lobo. Os olhos violeta faiscavam em desafio.

- Não é assim tão simples. Veja bem, Carson. Temos cinco Gammas de elite, um Beta e um Alfa diante dela. Guerreiros com cicatrizes e glória de batalhas. E ainda assim... ela não se curva.

O silêncio caiu pesado. Carson respirou fundo, cedendo. - Tem razão. Mas o que sugere?

Zane avançou alguns passos. Cada músculo do seu corpo gritava em alerta, mas ele manteve a calma. Ajoelhou-se no chão, diminuindo sua imponência, e falou baixo, como se conversasse com uma chama prestes a apagar:

- Eu sou Zane Clayson, Alfa da Silver Claw. Você está em meu território, pequena. Ninguém vai machucá-la.

Os olhos violeta se voltaram para o corpo da mulher caída. A dor refletida neles era tão pura que Zane sentiu o estômago revirar.

- É sua mãe, não é? - murmurou.

O pequeno corpo estremeceu. Um rosnado baixo escapou, os dentes ainda à mostra. O instinto dizia para atacar, mas a alma pedia socorro.

Zane estendeu a mão, não para impor autoridade, mas para oferecer calor. - Eu também perdi meus pais cedo. Sei como dói. Mas você não está sozinha. Respire... você é mais que o seu lobo.

Por um instante, os olhos violeta vacilaram. O rosnado diminuiu.

Então um estalo ecoou atrás. Um dos Gammas, nervoso, tropeçara em uma pedra.

O feitiço quebrou. O filhote de lobo branco virou-se num rompante, dentes à mostra.

- Saíam daqui! - rugiu Zane, sua aura explodindo como tempestade.

Os guerreiros recuaram imediatamente.

Zane voltou a olhar para a criança. - Só para mim. Olhe só para mim.

Os olhos dela tremeram, depois se fixaram nos dele.

Levou um tempo, um tempo tenso, mas ele finalmente conseguiu acalmar a criança. O corpo pequeno arfou, os músculos se retorceram, e, com um estalo seco dos ossos, a transformação se desfez.

Onde antes havia um lobo selvagem, agora jazia uma menina desmaiada.

Pequena. Frágil. Pele oliva, cabelos negros cacheados espalhados pelo chão, e traços tão inocentes que doíam.

Zane tirou a própria camisa e a envolveu, erguendo-a nos braços. O coração dele, que aprendera a ser de pedra desde cedo, doeu como nunca.

- Pequena tola corajosa... - sussurrou, apertando-a contra o peito.

Conectou-se mentalmente a Carson. "Tratem o corpo da mãe com honra. Nada ficará para trás. Ela merece respeito."

E caminhou de volta à matilha, com passos firmes.

A lua iluminava o caminho, fria e distante. Mas nos braços de Zane, o pequeno lobo branco dormia em paz.

E ele soube, no fundo da alma, que sua vida - e a de toda a Silver Claw - jamais seria a mesma.

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