Estou com os olhos fixos em um rastro recente de sangue, ouvi o som de passos atrás de si. Meus instintos me alertam, e eu viro com rapidez. Um lobo alto e musculoso surge das sombras – Lucien, o Alfa da alcatéia Sangue de Prata. Ele me observa com uma intensidade que me faz sentir como se fosse uma presa.
De repente, ele começa a se transformar em sua forma humana, em segundos vejo um homem nu na minha frente.
Lucien é um homem de presença avassaladora. Alto, com cerca de 1,90 m, ele possui ombros largos e músculos definidos que falam de sua força física e seu treinamento como alfa. Sua pele é bronzeada, com cicatrizes discretas que marcam batalhas passadas. Seus olhos são de um dourado intenso, quase hipnótico, que brilham ainda mais sob a luz da lua. Seu cabelo é escuro, geralmente penteado para trás de forma despreocupada, mas sempre impecável.
– Você está longe de casa, princesa. – Disse ele com um sorriso sombrio.
Percebo que estou olhando para um homem nu, então viro de costas para ele.
– Estou onde preciso estar. Os desaparecimentos não vão parar por si mesmos. – Respondi com a voz calma, mas firme.
Enquanto isso percebo que ele está procurando algo, então começo olhar ao redor e vejo que ele está procurando.
– Está ali! – Apontando para uma mochila.
Era normal lobos se transformarem, então muitas matilhas tinham o hábito de deixar mochilas com roupas e suprimentos na floresta.
– E você acha que eu vou deixar um membro da matilha da Lua Sangrenta vasculhando meu território sem minha permissão? Você é corajosa... ou imprudente? – Ele surge na minha frente e dá um passo em minha direção, suas presas são visíveis.
– Imprudente? Talvez. Corajosa? Sem dúvida. Não vou deixar os meus soldados pagarem o preço por algo que não fizeram. Eu vou descobrir a verdade. – Mantenho-me calma, com os olhos desafiadores.
– "A verdade..." - disse enquanto pensava. – Vou permitir que continue sua busca por 3 horas. Se eu te ver de novo nas minhas terras sem permissão, você irá se arrepender! - Passando a mão pelo cabelo, com olhos que gritavam perigo.
– Você vai se arrepender. Vou descobrir a verdade e trazer à tona o envolvimento do seu clã, e espero que pense neste momento quando tudo for exposto. - Me aproximo um pouco mais, com uma postura firme.
– Eu nunca me arrependo. Por agora, você tem a minha permissão para continuar sua investigação. Mas saiba, eu estou sempre observando. – Disse ele com um brilho frio nos olhos.
– Não há problema. Eu também estarei observando. – Disse com um olhar desafiador e um leve sorriso.
Eu deixei o local primeiro, porém conseguia sentir o olhar fulminante do Alfa do clã Sangue de Prata olhando para mim enquanto estava indo embora.
Após algumas horas procurando nas terras da matilha Sangue de Prata, perdi o rastro. Infelizmente, eu tinha chegado a um beco sem saída e não tinha mais tempo para procurar por mais pistas.
Entrei no meu carro, dirigi por mais ou menos 30 minutos e eu já estava no território da matilha Lua Sangrenta. Em alguns minutos, eu chegaria em casa.
Entrei pela porta dos fundos, eu não queria que minha mãe me visse nesse estado.
– Alina! – Ouvi a voz da minha mãe.
Vi que minha mãe adotiva estava andando em minha direção movimentando levemente aqueles lindos cabelos longos e prateados, com um brilho etéreo que os torna quase metálicos sob a luz da lua. Seu cabelo é liso e cai em ondas, seus olhos cinzas, seu rosto angelical com maçãs do rosto alta que a deixa com uma aparência marcante e graça imponente.
– Oi, mãe! Tudo bem? – Com uma saudação desengonçada.
– Alina, por que você está toda suja? - falava enquanto olhava para mim com as sobrancelhas arqueada.
– Nada de mais, mãe! Eu estava comandando um treinamento na selva hoje. – Sorri para ela me sentindo culpada por mentir.
– Tudo bem! Vá tomar um banho. Tem comida pronta na geladeira caso esteja com fome. – Respondeu minha mãe com um rosto impassível.
– Está bem. – Falei enquanto ia em direção a escada.
Enquanto estava subindo os degraus.
– Alina, eu espero que se vista de uma maneira elegante amanhã. – Olhava para mim com o olhar que quem não vai aceitar menos do que o perfeito.
– Sim, senhora. – Aceitando.
Após um banho revigorante, me deitei na cama, deixando o cansaço me envolver como um véu pesado.
*Será que devo usar um vestido amanhã? Não é algo que combine comigo, mas tenho certeza de que é o que minha mãe espera. No fim das contas, um único dia não vai me matar.*
***
O som de vozes altas ecoando pelos corredores me despertou abruptamente às seis da manhã. Suspirei, já sentindo a irritação crescer dentro de mim. Eu havia me esquecido do quanto detestava os preparativos para o baile "Lua de Marfim" – a correria incessante, o estresse palpável pairando no ar, os passos apressados que preenchiam a casa antes mesmo do sol nascer.
Minha mãe organiza esse baile a cada três anos, mantendo viva uma tradição que já dura muitas décadas. Antes dela, todas as Lunas que a precederam também realizavam esse evento, reunindo jovens solteiros de diferentes clãs na esperança de que encontrassem seus companheiros. Um ritual antigo, envolto em promessas e expectativas políticas.
Mas, para mim, era apenas mais um lembrete do papel que todos esperavam que eu desempenhasse.
– Alina!
A voz familiar invade meu quarto, mas eu me recuso a dar atenção.
– Alina! - Minha mãe me chama novamente, mais insistente desta vez.
Solto um suspiro exasperado e me viro na cama.
– Mãe, olhe o relógio... São 6h da manhã! – Resmungo, minha voz ainda carregada de sono.
– Exatamente! Você está atrasada! Precisa tomar banho e se arrumar antes do brunch às 11h.
Pisco algumas vezes, tentando processar suas palavras. Será que minha mãe realmente acha que preciso de cinco horas para me arrumar? O pensamento me arranca uma risada curta e descrente.
– Alguns alfas, betas e gamas chegaram com seus filhos de lugares distantes para o baile... – continua ela, ignorando minha reação enquanto puxa as cobertas de cima de mim. – Precisamos recepcioná-los adequadamente.
Reviro os olhos e me sento na cama, encarando-a com cansaço.
– Mãe, você tem plena consciência de que sou uma comandante humana liderando um exército de lobisomens, certo? – Minha voz carrega um tom de impaciência. – Não quero e não preciso passar a manhã sentada à mesa com filhos de alfas que se acham superiores só porque tem o gene lobisomem dominante e ativo.
O brilho nos olhos dela se apaga por um instante, e vejo seu semblante se entristecer. Um aperto discreto se forma no meu peito, mas me recuso a ceder.
– Mãe, eu sei que você ainda tem esperança de que um dia eu encontre um companheiro, me case e viva meu próprio "felizes para sempre" – suspiro, esfregando os olhos enquanto tento afastar o sono. - Mas sejamos realistas. As chances disso acontecer são mínimas. Meus pais biológicos eram lobisomens, mas eu... – minha voz vacila por um instante - Eu não tenho uma loba. Sou apenas humana.
Me endireito na cama, encarando-a com firmeza.
– Somente os lobisomens são abençoados pela Deusa com companheiros destinados. Então, por favor, não espere que eu participe desse brunch ou de qualquer outro evento social para conhecer os filhos mimados de alfas na esperança de encontrar meu companheiro.
Os olhos da minha mãe suavizam, mas sua expressão continua firme.
– Filha, eu não estou fazendo isso para te prejudicar. – Diz ela, sua voz carregada de emoção. – Sei que você é humana e tenho um orgulho imenso de você. Você se tornou uma comandante respeitada, liderando lobisomens com inteligência e estratégia, superando desafios que muitos achavam impossíveis. Isso é uma conquista sua, e eu admiro sua resiliência. – Afirmou com um tom de orgulho.
– Que bom que entende! – Murmuro, sentindo um breve alívio.
Mas então, ela respira fundo e continua:
– Ainda assim, filha, eu preciso fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que você encontre um companheiro. Você é a última sobrevivente do clã da sua família biológica... e nossa única filha. Sei que é um fardo pesado, mas infelizmente, você carrega o peso de dois clãs.
Meu peito se aperta, mas em vez de responder, simplesmente me levanto e sigo em direção ao banheiro.
– Tudo bem, mãe. – Digo antes de fechar a porta, encerrando a conversa antes de tomar meu banho.
Estou ouvindo a conversa e os risos durante o brunch, contando os minutos para que esta refeição interminável chegue ao fim. Não sou hábil na arte do fingimento e simplesmente não consigo demonstrar interesse pelos hobbies triviais ou pelas histórias de batalhas exageradas dos herdeiros.
Minha mãe me observava com olhos de águia, o que me arranca um sorriso. Será que ela se lembra de que já tenho 21 anos? Mas, no fundo, não me importo. Sempre fui amada incondicionalmente por ela, e sei que espera muito de mim. Apesar de nem sempre atender suas expectativas, ela nunca deixou de estar ao meu lado. O amor que sinto por ela é tão profundo quanto o dela por mim.
Finalmente, o brunch chega ao fim, e estamos a caminho de casa. Só de imaginar a movimentação frenética que nos espera, sinto uma vontade súbita de pedir ao meu pai que pare o carro, para que eu possa descer e encontrar um lugar tranquilo na cidade onde possa respirar. Mas, ao olhar pelo retrovisor, vejo minha mãe sentada no banco da frente, seu rosto sério e pensativo. Melhor não testar a paciência dela.
Assim que chegamos, deparo-me com a agitação já esperada. Pessoas circulam pelo jardim entre a casa e o salão de vidro, organizando os preparativos para o baile.
O salão, situado no coração do jardim, é imenso, capaz de acomodar até trezentos convidados sem esforço. Suas paredes e teto de vidro criam uma atmosfera mágica – durante o dia, a luz do sol se filtra pelos painéis transparentes, criando reflexos dourados pelo ambiente; à noite, a lua cheia paira sobre nós, brilhando imponente em meio à escuridão.
Ao entrar no meu quarto, meus olhos pousam imediatamente sobre a cama, onde um vestido deslumbrante me espera.
É preto, de frente única, feito de um tecido leve que desliza suavemente entre os dedos. O decote profundo nas costas se estende até a cintura, conferindo-lhe um ar sofisticado e irresistivelmente sensual. Ao lado, uma caixa com sandálias douradas de salto alto e um pequeno bilhete, escrito com a caligrafia impecável da minha mãe:
"O vestido é longo, então use salto! - Sua mãe."
Solto um suspiro, um sorriso discreto surgindo em meus lábios. Vestidos nunca foram meu estilo, mas esse... Esse me conquistou.
Depois de um banho revigorante, começo a me arrumar. Deixo meus cabelos brancos secarem naturalmente antes de finalizá-los com babyliss, criando ondas definidas que caem suavemente sobre meus ombros. A maquiagem é leve, em tons nudes, realçando meus traços sem exagero.
Meus olhos vermelhos encaram meu reflexo no espelho. No dia-a-dia, escondo-os atrás de lentes, já que meus cabelos brancos já chamam atenção o suficiente. Mas hoje... Hoje é uma ocasião especial. Não há razão para me esconder.
Ajusto o vestido ao corpo, sentindo o tecido deslizar contra minha pele. As sandálias douradas elevam minha postura, e, pela primeira vez em muito tempo, me permito apreciar minha própria imagem. Minha pele clara, levemente bronzeada, contrasta perfeitamente com o preto do tecido. Meu corpo, magro e tonificado, reflete os anos de treinamento incansável com a matilha.
Observo meu reflexo uma última vez e, pela primeira vez, não me vejo apenas como a comandante ou a última descendente do clã Lua Sangrenta. Esta noite, serei simplesmente... Eu.
Uma batida suave na porta me tira dos meus pensamentos, e então me lembro de que a tranquei para me vestir. Caminho até lá e destranco, encontrando meu pai do outro lado, com aquele rosto gentil e o sorriso largo que sempre me acolheu.
Meu pai é um homem de natureza amável, um verdadeiro porto seguro. Toda vez que vejo seu sorriso, sou transportada para os dias em que voltava da escola e o encontrava de braços abertos, sempre pronto para me receber. Esse pensamento aquece meu coração.
– Oi, pai! – cumprimento com um sorriso.
– Sua mãe pediu para lhe entregar isso. – ele estende a mão, revelando um par de brincos.
Observo as joias com atenção. São ovais, cada uma com uma grande pedra preta no centro, cercada por pequenas pedrinhas de diamantes que captam a luz de forma sutil, mas elegante.
– E também isto. – Ele tira o outro braço de trás das costas e me mostra uma bolsa clutch dourada.
Pego os acessórios com cuidado, sentindo o peso da escolha cuidadosa da minha mãe em cada detalhe.
– Sua mãe estará pronta em quinze minutos – ele avisa. – Então iremos todos juntos para o salão de vidro.
Assinto, lançando um último olhar ao meu reflexo no espelho. A noite está apenas começando.
Ao chegar no salão, noto que algumas pessoas já haviam chegado, e todos os olhares se voltam para mim, o que me faz sentir um desconforto crescente. Meu pai se aproxima e, com um sorriso carinhoso, sussurra:
– Você está linda, filha.
Em resposta, ofereço um sorriso tímido, tentando disfarçar a apreensão que sinto.
Após cumprimentarmos os presentes, minha mãe troca algumas palavras com o cerimonialista, enquanto meu pai é rapidamente cercado por seus conselheiros.
Já se passaram duas horas desde que a festa começou, e eu começo a me perguntar como escapar de todos esses olhares insistentes.
Então, algo acontece. Os olhares que antes estavam fixos em mim se desviam repentinamente, e, por instinto, sigo a direção de todos.
É quando vejo Lucien. Ele está deslumbrante em um terno preto com corte moderno, perfeitamente ajustado ao seu corpo. E, para minha surpresa, ele me observa com intensidade, percorrendo meu corpo de cima a baixo, antes de balançar a cabeça, um gesto silencioso de aprovação.
Rapidamente, uma onda de desconforto me invade, e me escondo atrás de outras pessoas, tentando desaparecer na multidão. Aproveito o momento para sair discretamente do salão.
*Por que eu fugi quando ele me olhou daquele jeito?*
A pergunta martela na minha mente enquanto caminho em direção ao banco no jardim, tentando organizar os pensamentos confusos.
– Alina! – Ouço uma voz familiar, cortando os meus pensamentos.
– Anthony? – Respondo, minha voz hesitante.
– Sim, sou eu! Quanto tempo! – Ele se aproxima com um sorriso amigável.
Estendo a mão para cumprimentá-lo, mas ele parece frustrado com o gesto e pega minha mão de forma descontraída.
– Nossa, quanto formalidade. – Ele ri, sua expressão relaxada.
Eu solto uma risada constrangida.
– Você sabe como é... Tudo pode gerar mal-entendidos quando se trata de lobisomens. – Respondo, tentando suavizar a situação.
– Sim, claro! – Ele sorri, um pouco envergonhado.
– Você viu que o Lucien veio? – Pergunta, mudando de assunto rapidamente.
- Sim, eu vi o Alfa Lucien. - Respondo enfatizando sua posição com respeito enquanto mantendo o olhar distante.
– É a primeira vez em nove anos que ele participa do baile do marfim... – ele continua, os olhos brilhando com curiosidade. - Não é surpreendente?
– Sim, é verdade. – Concordo, impressionada.
– Eu soube que ele se culpa pela morte da companheira e jurou não frequentar mais festas. Mas, pelo visto, ele não cumpriu o voto feito à falecida.
Eu não sabia o que responder a isso, quando uma voz fria, vinda das sombras, interrompe a conversa.
– Não há nada pior do que um homem que não sabe como se comportar. E você, ainda nem é um alfa, filhote, e já ousa fofocar sobre mim.
Vejo Lucien emergindo das sombras, seus olhos lançando um olhar fulminante. Um calafrio percorre minha espinha ao perceber o quão perigosa a situação se tornara.