Leila tentou esconder um sorriso. Por ela mesma, nem estaria aqui, mas sua amiga estava empenhada em arranjar para ela um 'homem', como se isso fosse resolver todos os problemas do mundo. Sim, ela sentia falta de ter um homem, mas não era tão grave quanto Freya imaginava. Ela ajeitou a frente do vestido e se deixou ser levada por Freya.
A brisa suave jogou seu cabelo no rosto e ela prendeu as mechas negras atrás das orelhas. Elas pararam na entrada de um jardim aberto, montado para a recepção do casamento. Freya a incentivou a avançar.
Uma banda ao vivo tocava em um palco improvisado enquanto se acomodavam atrás de uma das mesas redondas. "Solteirona," chamou Freya. "Seu Tinder ainda tá ativo?"
Leila revirou os olhos antes de responder. "Tá sim."
Estar solteira não era o fim do mundo, mas o que ela sabia? Freya pegou o celular, e ela fez o mesmo, por falta de coisa melhor pra fazer. O primeiro aplicativo que abriu foi o Tinder. Freya criou a conta para ela, e devia ser a usuária mais inativa do app. Seu perfil era sem graça, assim como a foto de exibição.
"Bom. Mantenha ativo." A empolgação de Freya não a contagiava. Desde que Freya encontrou um parceiro, transformou isso em uma missão também para Leila. "Tem homem interessante entre os convidados."
E Leila não estava nada interessada neles. Seus olhos examinavam o jardim enquanto Freya continuava mexendo no celular, provavelmente conversando com o marido. O lugar estava vazio, exceto por elas, a banda e os fornecedores preparando as refeições.
Não, espera. Havia mais uma pessoa. Um homem.
Ele estava com a cabeça abaixada, olhando para o celular, sua roupa cinza ajustada ao corpo. O homem deve ter percebido o olhar dela porque levantou a cabeça. Passou os dedos pelo cabelo, como se estivesse bravo com algo, e Leila corou. Ele era bonito.
Ele arqueou uma sobrancelha quando ela continuou olhando, e ela desviou o olhar. Suas bochechas aquecendo, ela pegou o celular e fingiu digitar algo.
Freya se levantou. "Preciso pegar algo lá fora." Leila sentiu os olhos do estranho em suas costas, mas não se virou. Freya ajustou o cabelo e o vestido. "Como estou?" Leila deu um sinal de positivo para sua melhor amiga. Como sempre, Freya estava deslumbrante. "Obrigada. Não vá a lugar nenhum."
Ela poderia tentar, mas Freya a submeteria a uma longa palestra sobre socialização. Um dos garçons deixou uma garrafa de vinho na mesa e Leila murmurou seu agradecimento.
Vozes baixas chegavam aos seus ouvidos, a banda trocou de música quando os noivos entraram. O homem sorriu para a esposa e ela respondeu com um sorriso. Leila não os conhecia. Eles eram amigos de Freya. Mais uma vez, sentiu aqueles olhos sobre ela e espiou sob os cílios para tentar ver.
Sobrancelhas grossas. Lábios cheios. Maxilar marcado. Nariz delicado. Cabelo curto que caía constantemente sobre a testa dele. Ela queria se aproximar dele e ajeitar o cabelo fora do rosto dele.
O mestre de cerimônias disse algo que Leila não ouviu porque estava concentrada naquele estranho, mas fez os convidados rirem. Os lábios do estranho se curvaram como se ele soubesse o efeito que causava nela. Suas bochechas esquentaram, ela voltou para o aplicativo Tinder, determinada a não dar ao estranho bonito a satisfação de encontrar seu olhar novamente.
Ela franziu a testa para a tela. Ela havia sido correspondida com alguém. Um Kelvin. Isso era estranho. Este era seu primeiro match em seis meses.
O perfil do cara era quase igual ao dela. Curto e sem graça. A foto de exibição não mostrava o rosto dele, mas o corpo, e ela babou. Seus dedos rapidamente apertaram o botão de aceitar e imediatamente uma mensagem dele apareceu.
Kelvin: Oi.
Tentada a responder imediatamente, ela abriu um aplicativo de jogo no celular em vez disso. Não queria dar a impressão de estar desesperada.
Alguém riu na multidão. O jardim já estava cheio e eles estavam brindando aos noivos. Leila pegou uma taça de vinho da bandeja de um garçom e brindou ao ar.
Onde estava sua melhor amiga?
Outra mensagem chegou de Kelvin. Ela não demorou para responder a esta.
Kelvin: Está ocupada?
Leila: Mais ou menos. Estou num casamento que minha melhor amiga me arrastou.
Kelvin: O mesmo aqui. No meu caso, perdi uma aposta, então tive que vir. Estou entediado até a morte. Casamentos não são minha praia, mas um homem solteiro não tem muita escolha nesses assuntos. Minha irmã está tentando me arranjar um encontro.
PS: Eu não perdi a aposta para o meu melhor amigo. Perdi para minha irmã. Estou aqui por ela.
Ela riu. Ele estava divagando, mas ela gostou.
Leila: Também estou entediada. Ai, meu Deus. Entendo você. Eu também não tive escolha. E agora minha melhor amiga sumiu. Viva eu. As vantagens de estar solteira. Queria poder ir embora.
Kelvin: Eu também. Posso ser sua passagem para sair da terra do tédio. O que você acha?
Enquanto mordia o lábio, ela fez que sim com a cabeça, como se ele pudesse vê-la.
Leila: Estou dentro. Estou na rua Corey. A moça triste em um vestido de seda preto e batom vermelho esperando seu príncipe encantado aparecer. Lol. Dá pra ouvir a música tocando na rua, mas se não ouvir, me avise que te dou as direções. Aqui está meu número. Ligue, não mande mensagem.
Empolgada de emoção, Leila deixou seu número. Pelo menos, Freya pararia de importuná-la por um minuto. Falando em melhores amigas, Freya estava demorando demais. Ela mandou uma mensagem e franziu a testa com a resposta.
"Surgiu um imprevisto. Volto já."
Mais um motivo para ela sair com este tal de Kelvin. A cadeira que Freya ocupava rangia, e ela olhou para cima para ver o estranho charmoso.
"Leilani." Sua boca se abriu. Como ele sabia o nome dela? Ele acenou com o celular e ela viu seu perfil do Tinder. Kelvin. O estranho charmoso era seu match no Tinder. "A moça triste esperando pelo príncipe encantado, lembra? Bem, estou aqui agora. Não fique mais triste." Leila riu. Esse papo soava muito melhor por mensagem. "O vermelho fica realmente ótimo em você, Leilani. Este lugar está ocupado?"
Ele se sentou antes que ela respondesse e ela reprimiu a vontade de revirar os olhos. De perto, ela pôde ver que seus olhos eram cinzentos e seus lábios mais carnudos do que pareciam de longe. Kelvin aceitou uma taça de vinho espumante da garçonete que se aproximou da mesa. Ele bebeu tudo de uma vez e pediu outra.
"Você não deveria beber tanto," Leila disse.
"Não deveria." Mas ele chamou um novo garçom e pediu sua terceira taça. "Mas estou."
"Dia difícil?" ela perguntou.
"É." Kelvin segurou a taça, tomando goles lentos. "Cadê sua melhor amiga?"
"Ela se foi."
Eles ficaram em silêncio por um tempo, ela mexendo na alça da bolsa. "Você quer ir embora?"
Não podia simplesmente sair com um estranho, então balançou a cabeça. Tinha parecido uma boa ideia convidá-lo pelo telefone. Ele estava acima das expectativas de Leila, mas Freya aprovaria.
"Acho que vou ficar aqui por um tempo."
Comidas e petiscos circulavam pelas mesas. Ela ficou com água na boca ao ver a delícia colocada na sua mesa. A banda tocava uma música lenta para combinar com o ambiente. Ela mergulhou nos seus petiscos, mas as refeições de Kelvin permaneciam intocadas.
"Já se perguntou por que as pessoas se casam?"
Muitas vezes. "Sim. É algo bonito."
Mas não tinha certeza se um dia iria vivenciar isso. Casamento e amor eram contos de fadas que não existiam para Leila. Ela deu um gole na taça de vinho do brinde e olhou bem para Kelvin. Ele massageava o queixo e inclinou a cabeça levemente para lhe dar uma piscadela.
Sentiu o calor subir pelo pescoço e soltou o cabelo para esconder o sinal do seu constrangimento.
"O que você acha do casamento?" ela perguntou.
"É legal." Seus dedos tamborilavam na mesa. Ele pegou um pedaço de maçã da bandeja de frutas e o devolveu. "Não me vejo casando."
Nem ela. "Por quê?"
Kelvin finalmente comeu a maçã e pegou outra fatia. Ela terminou o resto dos petiscos e ele empurrou os dele para ela. Seus lábios se abriram em um sorriso de gratidão e ele sorriu de volta.
"Não sei. Encontrar a pessoa certa é mais difícil do que parece. Meio que sinto falta dos velhos tempos quando os pais escolhiam os parceiros para os filhos."
"Você poderia trazer isso de volta," ela disse para animá-lo. Ele parecia melhor quando sorria ou dava um sorriso maroto. "Poderia encontrar um parceiro que você não conhece," ela provocou. "Era assim que funcionava."
Os métodos antigos eram terríveis. Crianças eram prometidas a pessoas que não conheciam. Para ela, isso era inaceitável. Os olhos de Kelvin se estreitaram com um sorriso.
"Quer que eu traga isso de volta?" O tom dele era tão leve quanto o dela, cheio de provocação e travessura.
"Claro. Por que não?" Leila terminou a bebida e estremeceu. Sentindo-se encorajada, disse: "Quem não quer casar com um estranho?"
Ele se endireitou na cadeira. "Então, se um estranho te pedir em casamento, você diria sim?" O sorriso dela sumiu. Ele estava levando a brincadeira a sério. Os olhos de Kelvin percorreram o jardim e ele coçou a nuca. Pela primeira vez desde que chegou, parecia nervoso. "Estou prestes a te pedir uma coisa louca, Srta. Leilani."
"Quão louca?"
"Muito louca." Ela inclinou a cabeça e o avaliou de cima a baixo, depois deu sinal para ele falar. "Case-se comigo, Leilani."
"O que?"
De todas as coisas loucas que ela ouvira o ano todo, essa era a mais louca. E o fato de ela estar pensando nisso a fazia parecer mais louca do que o homem que estava propondo casamento a uma total desconhecida.
"Case-se com este estranho."
* * *
NOTA AOS LEITORES: Obrigado por prestar atenção a este livro.