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img img Jovem Adulto img Um jogo sem regras

Sinopse

Em um mundo de violência e poder, uma jovem mulher se ergue como uma força a ser reconhecida. Com uma personalidade forte e independente, ela não se deixa intimidar por ninguém, especialmente não pelos homens que tentam controlá-la. Mas quando ela cruza o caminho de um homem poderoso e misterioso, sua vida começa a mudar de maneira inesperada. Ele é um homem de poucas palavras, mas com um olhar que pode queimar a alma. À medida que eles se aproximam, a tensão entre eles cresce, e a jovem mulher começa a questionar se ela está pronta para enfrentar o desafio que ele representa. Em um jogo sem regras, onde a paixão e o poder são as únicas regras, essa jovem mulher deve decidir se ela vai se render ao desejo que sente por esse homem, ou se ela vai lutar para manter sua independência.

Capítulo 1 Lorena Maria

Lorena Maria, 19 anos(Gallore)

Tive uma vida muito difícil. Cresci na comunidade do Quitungo, na Vila da Penha, criada apenas pela minha mãe. Meu pai morreu quando eu tinha apenas oito meses, então nem sequer tenho lembranças dele. Apesar de tudo, minha mãe sempre me mostrou força e resiliência. Ela dizia: "Não importa o quanto o mundo te faça cair, você só precisa levantar mais uma vez." Essas palavras ficaram comigo, mesmo nos momentos mais sombrios.

Aos 12 anos, comecei a trabalhar numa lan house. Foi ali que aprendi a lidar com clientes, a ser criativa e a resolver problemas. Também sonhei em ser modelo. Cheguei a ser eleita Miss Beleza Negra em 2016, mas muitas vezes nem tinha o dinheiro pra pagar a passagem até os trabalhos. Meu sonho foi morrendo aos poucos, sufocado pela realidade dura de quem tenta crescer sem recursos.

Em 2017, conheci o Marlon. Nosso namoro foi intenso, e com apenas três meses fomos morar juntos. Ele me ajudou a lançar minha marca de moda praia, a Use Badgall, no carnaval. Comecei vendendo biquínis, mas, pouco depois, levei um golpe do fornecedor e perdi tudo. Foi um baque enorme. Eu tinha colocado todas as minhas esperanças naquele projeto, e ver tudo desmoronar me deixou devastada.

Pensei que com o Marlon eu teria força para superar qualquer coisa. Mas, com o tempo, percebi que nosso relacionamento era um peso maior do que qualquer golpe que eu pudesse enfrentar. Ele era cheio de mentiras e traições. Cada vez que ele me enganava, eu sentia minha autoestima desmoronar. Ele tinha um poder, sempre sabia como me manipular, e eu acabava voltando pra ele, achando que podia mudar nossa relação. Mas, como aprendi da pior forma, arrependimento não é o mesmo que mudança - principalmente quando é fingido.

Quando ele foi preso por associação ao tráfico, passei por um dos períodos mais difíceis da minha vida. A pena era de mais de seis anos, e ele foi transferido entre Bangu 9 e Bangu 2. Mesmo assim, eu fiquei ao lado dele. Visitava-o, apoiava-o, acreditava em sua recuperação. Mas, mesmo depois que ele foi libertado, nada mudou. Ele continuou sendo alguém que me fazia mal, e eu percebi que estava me perdendo ao tentar segurá-lo. Foi então que tomei a decisão mais difícil da minha vida: terminar o noivado.

Passei noites chorando, mas sabia que precisava priorizar a mim mesma. A partir desse momento, algo despertou dentro de mim. Decidi voltar a focar nos meus sonhos e na mulher que eu sabia que podia ser.

Com muita luta, consegui tirar meu projeto da gaveta e recriar a Use Badgall, desta vez como uma marca de cosméticos voltada para cabelos crespos e cacheados. A vivência deu frutos: sou agora uma empreendedora. Hoje, promovo concursos para eleger embaixadoras da marca, abrindo portas para meninas, mulheres trans e pessoas da periferia. Não é só sobre beleza; é sobre autoestima, representatividade e dar voz às mulheres pretas e crespas que, como eu, já sofreram com preconceito e falta de oportunidades.

Desde criança, eu tive dificuldades para encontrar produtos para o meu cabelo. Sofri muito bullying, fui chamada de apelidos preconceituosos e desejei, mais de uma vez, alisar os fios por causa da pressão. Mas nunca cedi. Meu cabelo é a minha coroa, e quero que outras meninas saibam que não precisam mudar quem são para serem lindas.

Hoje moro na Barra da Tijuca, perto dos meus negócios. Foi uma decisão prática, mas ainda sinto falta da minha comunidade. Quando morava no Quitungo, acordava às cinco da manhã ouvindo tiros. Era difícil sair para trabalhar com o coração na mão, mas eu sabia que precisava. Muitos vizinhos perderam empregos porque chegavam atrasados por causa de operações policiais. É uma realidade que não dá pra esquecer.

Minha mãe não quis vir morar comigo, então continuo indo visitá-la sempre que posso. Quando vou lá, vejo os amigos fiéis que ficaram e troco histórias com eles. É um misto de saudade e nostalgia. Sinto falta dos bailes da favela, da energia deles, da liberdade que eu sentia enquanto dançava. Hoje, vou mais para as baladas das "Paty", mas um baile é um baile. Não há comparação.

A verdade é que eu não estaria aqui se não tivesse colocado a mim mesma em primeiro lugar. Foram muitas lágrimas, muitos erros e aprendizados, mas hoje sei que sou mais forte do que qualquer obstáculo. Meu passado na favela me deu raízes, e meu futuro é movido pela vontade de ajudar outras mulheres a crescerem. Eu sou Lorena Maria, e a minha história ainda está apenas no começo.

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