Mal posso acreditar. Será que ele está realmente falando sério? Imagina que bastava lançar palavras assustadoras para me fazer correr de volta para os seus braços. Ele deve estar completamente fora de si.
- Otto, você me traiu com minha melhor amiga, flertou com todas as minhas colegas de trabalho. – Eu rio incrédula ao me levantar. - Nunca vou me casar com alguém como você.
- Eu não falaria assim se fosse você, my angel. – Seu sorriso diabólico aumenta. – Esqueceu quem está no controle?
Otto me entrega uma pasta, e ao abri-la, um pressentimento ruim toma conta de mim. Dentro dela, vejo diversos documentos e comprovantes de transações. Meus olhos correm pelas páginas, cada vez mais confusa, pois muitos deles mencionam o nome das empresas da família do meu pai, os Harry's Taylor.
Logo a ansiedade dá lugar à indignação. Será que esse era o máximo que Otto conseguia fazer? Reunir papéis inúteis numa tentativa patética de me amedrontar com sua linguagem jurídica?
Revirei os olhos, sentindo o calor da raiva pulsar em minhas veias. Eu não seria manipulada por suas artimanhas baratas.
Eu não consigo conter uma risada irônica e devolvo a pasta com brutalidade, lançando-a de volta no rosto de Otto.
- Um monte de papéis não vai me assustar o suficiente para que eu aceite sua proposta insana! – Exclamo, sentindo a raiva pulsar dentro de mim.
Vejo Otto trincar o maxilar, tentando disfarçar o ódio por ter recebido a pasta de volta em seu rosto. Ele suspira, controlando a fúria, antes de estender o braço e devolver a pasta para mim.
- Olhe a página trinta e cinco, parágrafo duzentos e treze. Eu até marquei com um marca texto laranja. Sabia que era sua cor favorita. – Ele diz, um sorriso diabólico brincando em seus lábios.
Reviro os olhos com desdém e suspiro, pegando a pasta e abrindo-a novamente. Ao encontrar o parágrafo indicado, minhas pernas fraquejam e meu coração dispara. Minhas pernas cedem e antes que eu caia, Otto me envolve com seus braços, juntando nossos corpos.
- Você não tem opções. Ou casa comigo, ou eu destruo sua família, os condenando à pobreza e à miséria.– Suas mãos tocam minha cintura com firmeza.
- Você... Você está louco. – Murmurei, sentindo minhas pernas tremerem diante da figura de Otto.
Seu olhar vidrado e sorriso sínico contrastavam com seu nariz vermelho e pele pálida. Mesmo no frio do celeiro, Otto suava como se tivesse acabado de correr uma maratona. Eu reconhecia esses sinais; conhecia seu corpo o suficiente para saber que ele estava sob o efeito de entorpecentes. Seu organismo ansiava cada vez mais pela droga, o que o deixava inquieto e fora de controle. Não adiantaria rebater, brigar ou gritar; ele não estava em condições de ter uma conversa séria. Eu sabia do que um viciado era capaz, especialmente Otto. Conhecia os perigos iminentes e como as coisas poderiam terminar para mim.
- Não me chame de louco, my angel. – Sua voz rouca reverberou pelo celeiro, enquanto seus dedos se afundavam na pele do meu quadril, apertando com força.
Soltei um gemido dolorido, lutando para me desvencilhar do seu aperto. Otto arregalou os olhos claros ao perceber que havia me machucado, e dei um passo para trás, evitando seu toque, abraçando meu próprio corpo.
- Anna... Eu... – Sua voz soou envergonhada, seus olhos inquietos.
Interrompi-o com um espirro forçado, precisava encontrar uma maneira de sair dessa situação.
- Está frio aqui e estamos encharcados. – Disse, fingindo tremer devido ao frio. – Não quero ficar gripada, sabe como uma gripe é dramática para alguém com asma.
Otto arregalou os olhos, concordando freneticamente com a cabeça. Odiava apelar para a minha asma, ainda mais inventando uma desculpa; mas era necessário, eu não ficaria isolada com um homem agressivo e sob o efeito de opioides.
Uma das suas maiores preocupações sempre foi a minha asma, temendo que algo desse errado com meus pulmões e eu acabasse tendo complicações mais graves; no entanto, eu não tinha um ataque de asma desde os meus 16 anos, ele sabia disso, mas sempre se preocupava que algo pudesse acontecer.
- Certo... Certo. – Ele murmurou, com o olhar perdido.
Otto guardou a pasta no bolso novamente, seus olhos me estudaram por alguns segundos, perdidos em pensamentos profundos.
- Eu nunca deveria tê-la deixado ir embora. – Sua voz soou rouca, um murmúrio distante.
Seu olhar encontrou o meu, e um arrepio percorreu minha coluna quando uma forte ventania atravessou o celeiro, gelando ainda mais o meu corpo.
- Acho melhor sairmos daqui antes que as coisas piorem. – Ele disse, passando por mim. Seus passos ecoavam pelo celeiro até ele parar perto da porta. – Vá para casa, tome um banho quente e descanse seus pulmões. Amanhã conversaremos sobre os detalhes do casamento.
- Eu não disse que aceitava. – Minha voz ecoou pelo celeiro, seguida pela risada sarcástica dele.
- Mas eu sei que você vai, Anna. – Seus olhos me encararam novamente, agora cheios de confiança. – Você não faria isso com sua família. Não os deixaria pagar por suas escolhas.
Ele estava certo. Eu jamais permitiria que isso acontecesse e faria qualquer coisa para impedir que eles sofressem. Otto era um rato, sempre jogando sujo para conseguir o que queria, mas ele estava certo e ele sabia disso. Otto me conhecia bem, sabia que minha família era o meu calcanhar de Aquiles, meu ponto fraco.
Sem esperar por uma resposta, Otto sorriu e piscou antes de sair do celeiro, deixando-me sozinha com meus pensamentos ansiosos.