Sombras De Outono - Entre Vingança E Sedução
img img Sombras De Outono - Entre Vingança E Sedução img Capítulo 5 Furacão
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Capítulo 6 Bêbado Idiota img
Capítulo 7 Não Sou Sua Salvação img
Capítulo 8 Bebê Chorão img
Capítulo 9 Enchente img
Capítulo 10 Tensão Palpável img
Capítulo 11 O Namorado Perfeito img
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Capítulo 5 Furacão

Chego ao meu quarto, trancando a porta atrás de mim. Minhas costas deslizam pela porta enquanto meu corpo cai lentamente no chão, entregue ao desespero e às lágrimas de fúria.

Mesmo com a forte chuva lá fora, ainda era possível ouvir os ecos da agitada festa de aniversário de Ícaro. Meus soluços são abafados por um trovão, como se até mesmo a mãe natureza sentisse o que se passava em meu coração.

Eu não tinha escolha, não tinha alternativa. Como seria agora? Aceitaria simplesmente a derrota e permitiria que suas mãos sujas se aproximassem de mim? Eu sequer podia desabafar com alguém, pois corria o risco de piorar a situação.

A imagem de Priscila surge em minha mente; ela, com certeza, teria uma síncope, atacando como um animal furioso. Pensar nisso me traz um breve alívio entre as lágrimas, e dou uma risada fraca enquanto limpo meus olhos.

- Que se dane. – Murmurei, levantando com dificuldade devido aos meus saltos.

Caminho em direção ao banheiro, despindo-me pelo caminho, deixando as roupas molhadas pela chuva espalhadas pelo quarto, formando uma trilha ensopada. Ao entrar no box, sinto meus músculos relaxarem com a água quente.

Se Otto achava que eu iria aceitar tudo isso e ser sua escrava, como um cachorrinho obedecendo ordens, ele estava terrivelmente enganado! Eu até poderia aceitar me casar com ele, mas isso não significaria que eu tornaria as coisas fáceis; ele veria um lado meu que ainda não conhecia.

Após um longo banho que pareceu ter lavado parte do peso de meus ombros, saí do banheiro e me vesti com roupas confortáveis e quentes. O tecido macio envolveu meu corpo, trazendo um pouco de acolhimento diante da tempestade que ainda rugia lá fora.

Deitada na cama, senti-me envolvida pelo cansaço e pela tensão dissipada. Fechei os olhos e, em meio ao som da chuva batendo contra a janela, acabei adormecendo rapidamente.

(...)

Um estrondo ecoou pelo quarto, fazendo-me saltar na cama com o susto. Sentei-me abruptamente, o coração martelando no peito enquanto tentava em vão ligar a luz do abajur.

- Droga, acabou a energia. – Murmurei, sonolenta, enquanto tateava a mesa de cabeceira em busca do meu smartphone.

Finalmente, encontrei o celular e o iluminei, revelando o caos que se instalara no quarto: um grande galho da árvore havia atravessado a janela, a forte ventania entrava pelo vidro, molhando o ambiente e deixando-o ainda mais gelado.

Batidas na porta do quarto me despertaram do meu transe sonolento. Ainda confusa devido ao sono, cambaleei até a porta e a abri.

- Ouvi um estrondo. – A voz de Sophia ecoou pelo corredor, mal visível na escuridão.

- Estamos sem energia no rancho. – A voz de Ross soou atrás dela, sonolenta. – Esse maldito furacão acabando com minha noite de sono!

Furacão? Um frio percorreu meu corpo. Liguei a lanterna do celular novamente, enquanto Sophia piscava, tentando se acostumar com a iluminação repentina.

- Ei, aponte isso pra lá! Está me cegando! – Minha mãe disse em português, irritada, cobrindo os olhos com as mãos.

Sorri envergonhada ao vê-la, e saí do quarto, indo para o corredor, onde encontrei Ross apenas de cueca ao lado de Rose, que vestia sua camisa, com o cabelo cheio de bobes envolvidos por uma touca preta transparente.

A jovem médica me olhou sonolenta, e tive que segurar a risada ao ver seu rosto coberto por um creme branco, como um fantasma.

- Não me olhe assim, estou apenas preparando minha beleza para o dia a dia. – Sua voz rouca ecoou pelo corredor, seguida pela minha risada. – Nem todos têm os genes maravilhosos como você, que já acorda como se tivesse saído de um dia de spa!

Sophia suspirou ao iluminar meu quarto com sua pequena lanterna militar e ver a bagunça causada pelos vidros quebrados.

- Parece que o furacão realmente vai nos atingir. – Sophia disse sem ânimo, seus olhos encontrando os meus. – Precisamos reunir todos no abrigo do rancho antes que as coisas piorem.

O rancho era enorme, e eu sabia que nem todos estavam na casa principal, especialmente Ícaro. O pensamento de ter que falar com ele novamente me dava náuseas. Mas era necessário, ou ele e a vadia de sua nova namorada acabariam morrendo.

- Droga, ninguém pode avisar as pessoas por mim? Onde está o Arthur? – Disse inquieta, vendo todos saírem do corredor, restando apenas Sophia e eu.

- Você está com medo de encontrar o Ícaro, não é? – Ela suspirou pesadamente, olhando para as horas em seu celular. – Anna, me desculpa, mas não temos muito tempo. O alerta do governo disse que o furacão pode atingir a região daqui a algumas horas, e os ventos estão piorando. Logo, não vamos conseguir avisar a todos no rancho e...

- Okay! – A interrompi com irritação, abrindo novamente a porta do quarto. – Me deixa só pegar as botas de chuva e um casaco!

Sophia murmurou um xingamento em português antes de começar a andar em direção à escada.

- Eu até iria encontrá-lo, mas se eu fizesse isso, quem iria ajudar esse povo alcoolizado? – Ela diz, voltando a me encarar. – Sou a única pessoa sóbria o suficiente para me preocupar com a sobrevivência.

- Engraçadinha, eu também estou sóbria! – Respondi com irritação, mas seu olhar sarcástico me fez suspirar. – Okay, estou levemente sóbria! Mas estou o suficiente para saber como me proteger!

- E por isso você deverá chamar o Ícaro... Ele bebeu todas e está sozinho na casa do tio Daniel. – Seus olhos brilhavam com a luz da lanterna. – Não se preocupe, Rose e eu jamais permitiríamos que aquela mulher dormisse na casa do nosso falecido tio.

Olhei para os meus pés, sentimentos conflituosos me dominavam. Ícaro estava realmente sozinho? Ele não era uma pessoa muito responsável quando bebia, lembro bem de sua adolescência. Desde o aniversário da vovó, sempre o via beber com Melanie ou sozinho. Ícaro era um homem adulto, mais velho que eu, mas não podia negar que Melanie era uma péssima influência. Quando eles ficavam juntos, ele se tornava alguém completamente diferente, como se tudo de pior que houvesse nele viesse à tona, uma versão do passado que eu odiava.

- Ultimamente ele tem bebido bastante... Estou preocupada. – Confessei entre um suspiro cansado, a olhei novamente encontrando sua expressão confusa. – Não é ciúme ou implicância minha, mas Melanie é como uma mancha, uma sanguessuga que suga tudo de bom que existe em Ícaro, deixando apenas uma casca vazia.

Sophia se aproximou novamente, sua mão tocou meu ombro de forma carinhosa.

- A verdade é que isso não é nosso problema, e ele terá que se salvar sozinho. – Sua voz era calma, apesar de sua expressão desconfortável. – Anna, vocês são adultos, e ele terá que conviver com o peso de suas ações.

- Mas... Mas é tão difícil simplesmente ficar sentada vendo ele se destruir. – Minha voz estava embargada, meus olhos marejados. – Eu não posso deixá-lo fazer isso.

- Ícaro é um homem adulto e fará o que quiser, mesmo que isso signifique arruinar sua própria vida com uma interesseira. – Sophia disse, segurando meu rosto, suas mãos acariciando minhas bochechas. – Não há nada que possamos fazer que o faça mudar de ideia e comportamento.

Me assustei ao ver Rose sair do quarto de Ross, agora vestida com roupas comuns e sem sua máscara facial. Agradeci mentalmente por Sophia e eu sempre conversarmos em português, assim ninguém ao nosso redor poderia questionar meus pensamentos em relação a Ícaro.

- Vamos, Sophia. – Rose disse, aproximando-se da escada. – Precisamos ajudar esses marmanjos bêbados a chegarem nos lugares certos!

Antes de se afastar, Sophia me lançou um último olhar para se certificar de que eu estava bem.

                         

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