Capítulo 5 O Sopro do Destino

A tensão na biblioteca era palpável, como se o ar estivesse carregado de eletricidade. Ana sentia o coração disparar, não apenas pela presença de Henrique, mas pela proximidade que se formava entre eles. A luz suave do abajur lançava sombras dançantes ao redor, criando um cenário quase onírico onde cada movimento parecia amplificado.

Henrique aproximou-se mais, sua figura se destacando na penumbra. "Às vezes, precisamos enfrentar nossos demônios para encontrar a paz," ele disse, seus olhos profundos fixos nos dela. A sinceridade em sua voz ressoava com uma intensidade que fez Ana se perder por um instante em suas lembranças.

"Você acredita que os segredos podem nos aprisionar?" Ana perguntou, ousando quebrar o silêncio que os envolvia. O diário de Helena ainda ecoava em sua mente, e a conexão que sentia com aquela mulher do passado parecia mais forte a cada instante.

Henrique hesitou, como se ponderasse suas palavras. "Segredos podem ser tanto uma proteção quanto uma prisão. Às vezes, precisamos decidir o que é mais importante: a verdade ou a segurança." A profundidade de sua resposta fez com que Ana se perguntasse sobre os próprios segredos dele.

O olhar deles se encontrou e, por um breve momento, o mundo ao redor desapareceu. Era como se estivessem em uma bolha suspensa no tempo, onde nada mais importava além daquela conexão silenciosa. A proximidade física entre eles aumentou gradualmente; Ana podia sentir o calor emanando dele, e seu instinto a puxava para mais perto.

Foi então que, em um movimento quase involuntário, Henrique inclinou-se ligeiramente. Os rostos estavam tão próximos que Ana podia sentir a respiração dele. O coração dela disparou ainda mais, um misto de medo e desejo tomando conta dela. O impulso de tocar seus lábios com os dele era quase irresistível.

Mas antes que pudesse tomar uma decisão, um barulho estrondoso ecoou do andar de cima, quebrando o encanto daquele momento mágico. Ambos se afastaram abruptamente, como se uma onda de choque os tivesse atingido. O som parecia ter vindo de um dos quartos; talvez alguém tivesse deixado algo cair ou estivesse tendo um pesadelo.

Ana olhou para Henrique e viu uma fração de confusão misturada à frustração em seu rosto. Ele respirou fundo e disse: "Devemos verificar isso." A ideia de interromper aquele momento íntimo fez seu coração sinkar um pouco. Mas a realidade logo substituiu a magia da situação.

Eles seguiram juntos para fora da biblioteca, mas o clima havia mudado. A tensão antes palpável agora era substituída por um misto de ansiedade e expectativa silenciosa. Cada passo parecia guiá-los para algo maior do que apenas investigar o barulho; era como se estivessem prestes a desvelar não só os segredos da mansão, mas também os sentimentos que começavam a brotar entre eles.

Ao chegarem ao corredor escuro, as sombras pareciam crescer à medida que avançavam juntos. Enquanto caminhavam lado a lado, Ana não conseguia deixar de pensar no que quase aconteceu na biblioteca. A possibilidade daquele beijo pairava no ar como uma promessa não cumprida.

"Você está bem?" Henrique perguntou subitamente, quebrando o silêncio enquanto seus olhos buscavam os dela na penumbra.

"Sim," respondeu Ana, mas a incerteza em sua voz era evidente. "Só... pensando."

"Sobre o quê?" Ele parou brevemente e olhou-a nos olhos com intensidade.

Ana hesitou antes de responder; as palavras sobre Helena e seus segredos estavam na ponta da língua, mas também havia algo mais íntimo e vulnerável que queria compartilhar-algo sobre eles dois.

"Sobre nós," ela finalmente disse, sentindo-se corajosa por um momento fugaz.

Henrique sorriu levemente, aquele sorriso enigmático que sempre fazia seu estômago revirar. "Nós somos apenas duas pessoas perdidas em meio aos segredos dessa casa."

"Ou talvez duas pessoas destinadas a descobrir esses segredos juntas," completou Ana com um brilho nos olhos.

Enquanto continuavam pelo corredor escuro da mansão, ambos sabiam que aquele momento na biblioteca marcaria uma virada em suas vidas-não apenas na busca por verdades escondidas na mansão, mas também na descoberta mútua do que poderia florescer entre eles em meio às sombras do passado.

                         

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