Meus olhos são atraídos aos meus lábios, lembrando-me do que havia acontecido na noite anterior, um turbilhão de emoções passando por mim enquanto revivo cada momento.
"Ela é louca! Como ela pode ter tanta coragem assim?" Riu ao lembrar a forma que fui surpreendido pela senhorita Nicole.
Apesar de ter ficado momentaneamente chateado, confesso que senti um certo alívio ao ver a reação que Débora teve ao nos ver nos beijando, sua expressão de choque valendo cada momento de desconforto.
Ela nunca havia reagido daquela forma antes, por mais que tivesse me visto ao lado de várias outras mulheres.
Após um breve banho, retorno e a vejo dormir como se nada tivesse acontecido. Troco de roupa e decido acordá-la, ao me aproximar, noto que a respiração dela não está normal.
"Será que tá tendo um pesadelo?" Pensei enquanto me aproximava ainda mais.
Chamo o nome dela duas vezes, mas somente na segunda vez que ela acorda, seus olhos se abrindo lentamente, revelando uma expressão confusa e sonolenta.
"Que expressão é essa?" Me questiona ao ver a expressão que se formou em seu rosto assim que ela me vê, seus olhos se arregalando levemente com a surpresa de me encontrar ali.
"Levanta, vamos nos atrasar," digo, dando-lhe as costas e ligando para recepção, solicitando que sirvam o café da manhã no quarto e que tragam um kit de higienização pessoal para mim.
Em questão de minutos, o hotel me entregou o kit e eu o entreguei a ela. Enquanto ela tomava banho, o café da manhã havia chegado e, sem esperá-la, me servi.
Ela saiu do banheiro com seus cabelos úmidos e desviou o olhar de mim, parecendo uma pessoa completamente diferente da cheia de ousadia da noite anterior. A mudança em sua postura era evidente, deixando-me intrigado com a súbita timidez que agora parecia dominá-la.
"Sente-se, venha comer algo," digo, apontando para a cadeira à minha frente.
Nicole se aproximou de mim, tirando a água do cabelo com a toalha.
"Dormiu bem?" Pergunto, mantendo meus olhos sobre ela, tentando captar alguma reação em sua expressão.
"Sim!" Respondeu sem sequer olhar para mim, sua voz soando um pouco distante.
"Sabe que haverá consequências depois do que fez ontem, não é?" Levanto a questão, querendo saber sua reação diante da minha assertividade.
"Consequências?" Ela olhou para mim, mas logo desviou o olhar novamente, parecendo desconfortável. "Eu já pedi desculpas."
"Meu pai certamente a procurará," comento sem dizer mais nada, observando atentamente a reação dela.
"Seu pai?" Sua voz sai com espanto, sua expressão revelando uma mistura de surpresa e preocupação, como se o simples mencionar do meu pai despertasse uma série de temores em sua mente.
"Mas não se preocupe, ele apenas oferecerá dinheiro para que se afaste de mim," digo, levando a xícara à boca e tentando manter a leveza na conversa.
"Falando assim, até parece que é algo comum em sua vida," ela comenta, observando-me com curiosidade enquanto eu falo sobre meu pai.
"Essa é a forma que ele encontrou de me manter perto dele... se estiver só, certamente algum dia irei até ele," olho para a janela pensativo, deixando escapar um suspiro pesado.
Meu relacionamento com o meu pai sempre foi complicado. Ele conheceu a minha mãe enquanto ela trabalhava como faxineira na empresa onde ele era o vice-presidente. No entanto, devido à sua posição social, ele decidiu que ela só serviria como sua amante, enquanto sua prima, filha do presidente, era a esposa ideal para apresentar diante de todos.
Quando nasci, ele me rejeitou, e só depois da morte da minha mãe é que ele procurou se aproximar de mim. Aceitei viver com o dinheiro dele, mas sem a presença dele.
Volto meus olhos para Nicole, que me olhava com um olhar de pena, e eu odiava aquele tipo de olhar.
"Se terminou, vamos embora," digo sério, tentando afastar qualquer tipo de piedade que ela pudesse estar sentindo por mim.
Já dentro do carro, percebo que Nicole está pensativa, então pergunto o que ela tem.
"Por que está tão quieta? Isso não combina com você," falo, tirando minha atenção da estrada por um momento para olhar para ela, antes de voltar a focar no trânsito à minha frente.
"Estava pensando... se eu fosse você, faria todos pagarem por tudo que te fizeram," ela olhou para mim com seriedade.
Aquela era a primeira vez que alguém havia me dito aquilo. Normalmente, as pessoas sempre vinham com o mesmo papo de 'deixar para lá' ou 'perdoa o seu pai'. A franqueza de Nicole me pegou de surpresa, deixando-me sem palavras por um momento enquanto eu processava suas palavras.
"Seu pai desprezou a sua mãe só por ela não ter dinheiro... eu casaria com alguém assim só para fazê-lo engolir tudo que fez! Seu irmão ficou com sua namorada, eu aceitaria a proposta do seu pai e faria da vida do meu irmão e da minha ex um inferno enquanto mexo no bem mais precioso deles... o dinheiro," Nicole diz, com um tom de determinação em sua voz que me deixa impressionado.
Suas palavras são como um choque de realidade, fazendo-me refletir sobre as possibilidades que eu nunca havia considerado antes. A ideia de vingança nunca tinha passado pela minha mente, mas ao ouvir as sugestões de Nicole, uma chama de revolta começa a queimar dentro de mim.
"Mas enfim, a vida é sua e você faz dela o que quiser... agora pare o carro ali na frente que não quero que ninguém nos veja chegar na faculdade juntos," Nicole diz, mudando de assunto e indicando o local onde gostaria de descer.