Capítulo 2 Três luas

Abriu os olhos lentamente, tentando se acostumar com a claridade. Demorou um tempo para perceber que não estava dormindo em uma caverna que na verdade, a rocha que dormia era muito mais macia que a cama que se deparou com lençóis brancos e simples.

Sua boca estava ressecada e duvidava que conseguiria dizer algo, mesmo se tentasse. Um homem adentrou seus aposentos, parando na porta mal feita de madeira quando a viu de olhos abertos.

- Então já está acordada - murmurou, entrou dentro do quarto minúsculo de tijolos e deixou um jarro de água ao lado dela no chão.

Desta vez ela se obrigou a sentar, sua cabeça girando.

- Não faça esforço desnecessário, acordou agora e tem que se manter deitada - repreende.

Ela engole em seco antes de dizer:

- Estou a... Quanto tempo... Dormindo? - mesmo forçando sua voz saiu arrastada e sofrida.

Ele ajeita alguns lençóis do lado dela.

- Talvez a três luas, não estou contando - resmunga.

Galáteia o analisa.

- Você... Não é... - pressiona os lábios para terminar de falar o que começou. - U-uma sereia.

Ele revira os olhos.

- Sério? Se não fosse pelo seu diagnóstico rápido eu nunca imaginaria isso - diz, sarcástico. - Não estou te ajudando por vontade própria, se soubesse morrer de boca fechada não estaríamos nessa situação - confessa de mal humor, pegando a jarra e botando água em um copo de barro.

- Mas você... Não...

Ele a interrompe:

- Eu sei o que não sou, agora beba, está me dando agonia essa sua fala arrastada - ele direciona o copo aos lábios dela, fazendo com que beba tudo até a última gota.

- Por que está me ajudando? - pergunta novamente, mais explicitamente.

- Você cantou e eu te atendi, rainha - responde, irónico.

- Você não é um tritão - afirma. - Eles são feios e raros.

- Ser raro não significa que não existimos e, já deixei as águas há muito tempo, prefiro que não saibam o que eu sou - informa. - E fico lisonjeado que a rainha me ache bonito.

Galáteia não responde, ficou tonta de repente, sua cabeça prestes a explodir de tanta dor.

- O que está acontecendo comigo? - indaga, baixinho.

- Você perdeu muito sangue e ainda tem partes do seu corpo que ainda não se regeneraram - relata. - Volte a dormir, depois se acordar te trago algo para comer e depois a levo para a água - avisa.

Ela balança a cabeça de vagar, seus olhos fechando enquanto caía suavemente para trás.

- Eu não posso voltar pra água agora... - sua fala sai como um suspiro. - Eles vão me achar... E matar... - desmaia. -... Filhos.

            
            

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