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Lis, aos 22 anos, acordou naquele verão quente com uma frustração que parecia pesar como um cobertor. O relacionamento que a isolava da família, a falta de uma carreira sólida e a insegurança financeira a deixavam inquieta. Recentemente, tinha se matriculado na segunda graduação, sonhando com uma mudança de direção que a tirasse do lugar onde se encontrava.
Ela levantou-se, a mente agitada, e se arrumou para o trabalho que não era um emprego comum: como técnica de banco de olhos, Lis conversava com famílias que enfrentavam a perda, guiando-as numa decisão dolorosa sobre a doação de córneas. O salário era modesto e não havia promessas de avanço, mas sua dedicação a tornava uma profissional admirável, mesmo em meio à tristeza que a cercava.
Seu relacionamento com a família era complicado. Havia uma distância emocional com a mãe, marcada por divergências de pensamento. A mãe, rígida e conservadora, sempre pressionara Lis a seguir um caminho tradicional, enquanto Lis lutava contra as expectativas que não se encaixavam em sua visão de futuro. O irmão mais velho vivia sua própria vida, ausente e alheio, e o pai, divorciado há anos, não tinha mais contato nem com Lis nem com seu irmão. Essa falta de apoio familiar deixava Lis ainda mais isolada, aumentando sua sensação de frustração e solidão.
Talvez por isso, Lis acabou se envolvendo com Daniel, um homem que havia entrado em sua vida repleto de promessas, mas que se revelou uma sombra de suas aspirações. Sem uma carreira e afundado em problemas com a bebida, ele parecia distante de qualquer futuro ao lado dela. E enquanto ela se esforçava para construir um caminho, ele permanecia estagnado, um eco de suas próprias frustrações.