Minha Atrevida
img img Minha Atrevida img Capítulo 5 Armed
5
Capítulo 6 Nathifa img
Capítulo 7 Nathifa img
Capítulo 8 Armerd img
Capítulo 9 Armed img
Capítulo 10 Nathifa img
Capítulo 11 Armerd img
Capítulo 12 Armed img
Capítulo 13 Nathifa img
Capítulo 14 Armed img
Capítulo 15 Nathifa img
Capítulo 16 Armerd img
Capítulo 17 Armerd img
Capítulo 18 Nathifa img
Capítulo 19 Armed img
Capítulo 20 Nathifa img
Capítulo 21 Nathifa img
Capítulo 22 Nathifa img
Capítulo 23 Nathifa img
Capítulo 24 Nathifa img
Capítulo 25 Armed img
Capítulo 26 Nathifa img
Capítulo 27 Nathifa img
Capítulo 28 Nathifa img
Capítulo 29 Nathifa img
Capítulo 30 Armed img
Capítulo 31 Haim img
Capítulo 32 Armed img
Capítulo 33 Armerd img
Capítulo 34 Nathifa img
Capítulo 35 Nathifa img
Capítulo 36 Armerd img
Capítulo 37 Armed img
Capítulo 38 Nathifa img
Capítulo 39 Armed img
Capítulo 40 Armed img
Capítulo 41 Haim img
Capítulo 42 Armed img
Capítulo 43 Nathifa img
Capítulo 44 Nathifa img
Capítulo 45 Nathifa img
Capítulo 46 Armed img
Capítulo 47 Nathifa img
img
  /  1
img

Capítulo 5 Armed

- Ela vai viajar.

A frase veio solta, entre um gole de chá e uma assinatura de contrato. Como se fosse algo banal.

Mas não foi.

Meus dedos pararam no papel. A caneta vacilou. Levantei os olhos para Kaya, meu sócio, meu amigo de décadas, o homem que confiava a mim sua empresa - e sua filha.

- Viajar? - perguntei, tentando soar casual.

- Sim, para o Brasil. Vai visitar o irmão por uns dias. A Rebeca também está por lá, lembra, e o irmão dela? - Ele riu. - Aquelas amigas dela moram no Rio de Janeiro. Vai passear, se distrair.

Assenti devagar.

Brasil. Rio de Janeiro.

Uma cidade vibrante, cheia de festas, praias... homens.

Solteira. Livre.

Linda.

Nathifa com aquele cabelo loiro quase dourado, aqueles olhos verdes intensos, o corpo curvilíneo e a boca atrevida... andando sozinha por uma cidade que devora turistas sem piedade.

Senti o peito apertar.

Ciúmes.

Uma coisa suja, baixa... indigna.

Mas real.

Me atravessou como um soco.

Ela ia sair do meu alcance. Ia respirar novos ares, conhecer pessoas novas, talvez até... Deus, não.

Afastei o pensamento como se pudesse arrancá-lo à força da cabeça.

Mas ele já estava lá.

Ela sorrindo para outro homem. Alguém jovem, da idade dela. Alguém livre para tocá-la, beijá-la, levá-la pra cama sem carregar o peso da culpa.

Engoli em seco.

- E quando ela vai? - perguntei, ainda fingindo naturalidade.

- Amanhã - respondeu Kaya. - Não te falou?

Neguei com a cabeça.

Ela não me disse.

Nem uma palavra.

E aquilo doeu mais do que deveria.

Quando deixei a sala, fui direto para o corredor dos fundos da loja. Precisava de ar.

Ar fresco. Frio. Gelado, se possível.

A cabeça latejava.

Por que aquilo me afetava tanto?

Ela não era minha.

Nunca foi.

Mas, droga... a ideia dela livre pelo mundo, encantando com aquele jeito doce e sensual, rindo com desconhecidos, talvez flertando... me deixava completamente fora de mim.

Me apoiei na parede de pedra do corredor e fechei os olhos.

Ela era linda. Impressionante.

E pior: sabia disso.

Desde o primeiro olhar que trocamos naquela varanda, desde o toque breve na loja, desde cada sorriso torto que ela me lançava como provocação, Nathifa mexia comigo de um jeito que nenhuma outra mulher conseguia.

E agora, ela ia embora.

E eu estava aqui, parado como um idiota, remoendo o que não podia ter.

Voltei ao escritório, mas a concentração foi embora com ela.

Tentei revisar os números do novo fornecedor, mas em vez disso, tudo que via era a imagem de Nathifa com um vestido leve, andando pelas praias do Rio com os cabelos ao vento e a pele dourada pelo sol.

Será que alguém se aproximaria?

Será que ela deixaria?

Senti uma fisgada no peito.

E foi aí que me odiei.

Me odiei por estar sentindo ciúmes de uma garota.

Porque é isso que ela é, não é?

A filha do meu amigo.

Alguém que cresceu diante dos meus olhos, com as bochechas coradas e os joelhos ralados.

Eu devia protegê-la, não desejá-la.

Mas a verdade é que aquele corpo não é mais de menina.

E os olhos que ela usa para me encarar...

Eles sabem.

Eles pedem.

E eu estou à beira de perder a razão.

Vi Nathifa passando pelo corredor pouco depois do almoço, com a mochila pendurada em um dos ombros e o celular na mão. Os cabelos estavam soltos, caindo em ondas douradas pelas costas, e ela usava um vestido floral leve que dançava em torno das pernas com cada passo. Como se o mundo todo girasse em torno dela.

Fingi que estava olhando uma planilha na prancheta que carregava, mas quando ela me viu, parou.

- Armed. - Seu tom era casual, quase doce.

- Nathifa. - Assenti, sem levantar o olhar.

Ela deu dois passos para mais perto.

- Soube que você vai viajar amanhã - comentei, ainda com os olhos na prancheta, mesmo que a única coisa que eu enxergasse fosse a curva do quadril dela.

- Uhum. Vou visitar o meu irmão e passar uns dias com as meninas - respondeu, com um tom leve, quase alegre demais.

Ela sabia o que estava fazendo. Estava se divertindo com a minha reação.

- Sozinha? - perguntei, e finalmente a encarei.

Ela sorriu. Um sorriso de canto, malicioso.

- Solteira, livre e... muito bem acompanhada por mim mesma.

Deu uma piscadinha.

Senti o sangue esquentar.

- O Rio de Janeiro pode ser perigoso. Especialmente para alguém como você. - As palavras escaparam com mais acidez do que o necessário.

Ela arqueou uma sobrancelha, divertida.

- Alguém como eu?

- Jovem. Linda. Ingênua.

Nathifa soltou uma risada curta e se aproximou ainda mais, até que a distância entre nós fosse mínima. O perfume doce dela invadiu meus sentidos, e tive que conter o impulso de recuar.

- Você me acha ingênua, Armed?

Engoli em seco. O olhar dela me prendia, me desmontava.

- Eu te acho... vulnerável.

- Hm... interessante. - Ela olhou diretamente nos meus olhos. - Porque eu me sinto mais poderosa do que nunca ultimamente.

Quis rir. Ou gritar. Ou agarrá-la ali mesmo.

Ela sabia.

Sabia o que causava em mim.

- Só tenha cuidado. É só isso que estou dizendo - murmurei, tentando soar indiferente.

- Você está preocupado comigo... ou com o que pode acontecer se eu gostar de estar longe?

Ela me olhou fundo. Tinha um brilho nos olhos, como se estivesse vendo por dentro da minha armadura. E talvez estivesse.

- Você vai fazer o que quiser, como sempre faz - respondi, duro. - Não sou ninguém pra te impedir.

- Mas queria ser?

A pergunta pairou no ar como um soco silencioso.

Fiquei mudo. O tempo parou. O coração bateu forte no peito.

Ela me encarava, esperando uma reação.

Mas eu não podia responder. Não podia dizer sim. Não podia dizer não.

Então apenas me afastei um passo.

- Boa viagem, Nathifa. Cuide-se.

Virei as costas antes que ela pudesse ver a confusão nos meus olhos. Antes que eu fizesse o que minha mente implorava para evitar: puxá-la para mim, beijá-la até ela esquecer que havia outro lugar no mundo além dos meus braços.

Ouvi sua risada baixa atrás de mim, como se ela tivesse vencido.

E talvez tivesse.

Porque enquanto me afastava, percebi uma verdade cruel:

A ideia de Nathifa longe de mim estava me dilacerando.

E eu não sabia se aguentaria essa distância sem perder o pouco controle que ainda me restava.

No caminho de volta para casa, meu celular vibrou com uma mensagem de Rahmi.

Revirei os olhos com a mensagem dele, irritado, e guardei o celular no bolso sem responder.

Todos pareciam saber que havia algo entre nós.

Mesmo que eu não dissesse. Mesmo que ela não assumisse.

O mundo percebia.

Porque desejo não se esconde por muito tempo. Ele exala, escapa, se impõe.

E o que eu sentia por Nathifa já transbordava pelas fissuras que eu tentava manter fechadas.

Cheguei em casa e fui direto para o quarto. Tirei a camisa e joguei o corpo na cama, sem acender a luz.

Fechei os olhos e a vi.

Nathifa em um vestido curto, andando pela orla do Rio.

Sorrindo para um desconhecido.

Sendo tocada.

Sendo beijada.

Sendo de outro.

A imagem me fez sentar de repente, com os músculos tensos e os punhos fechados.

Ela era livre.

E isso me matava.

Por que ela não me disse antes que ia viajar?

Talvez para me testar.

Ou talvez porque queria fugir de mim.

De tudo o que estávamos construindo em silêncio, em olhares, em provocações.

Talvez ela estivesse cansada de esperar que eu agisse.

E eu?

Eu estava cansado de fugir.

Mas ainda assim... não consegui ir até ela.

Não consegui pedir que ficasse.

Não consegui ser fraco.

Ou forte o bastante para assumir.

E agora, ela ia viajar.

E com ela, levava tudo o que eu me proibia de sentir.

                         

COPYRIGHT(©) 2022