Ela se encontrava em sua casa, em frente ao espelho, arrumando os últimos detalhes de seu visual. Seus cabelos castanhos caíam em ondas suaves sobre os ombros, e ela os prendeu parcialmente com um delicado grampo. Usava um vestido leve de verão, com estampas florais que combinavam com a suavidade de sua personalidade. Uma leve maquiagem realçava seus traços, destacando seus grandes olhos verdes brilharem com a expectativa da noite.
Assim que terminou de se arrumar, recebeu uma mensagem de suas amigas, lembrando-a de que era hora de sair. O coração de Serena acelerou com a animação. Ela pegou sua bolsa, um pouco de dinheiro e, antes de sair, deu uma última olhada no espelho, sorrindo para a jovem que reflete de volta. A noite prometia ser mágica.
Ao chegar ao ponto de encontro, o ar estava cheio do cheiro doce de algodão-doce e pipoca, uma combinação que fazia parte da experiência do cinema. Suas amigas, Ana e Beatriz, já estavam lá, conversando animadamente e rindo. Ambas eram tão diferentes em estilo, mas juntas formavam um trio perfeito. Ana era mais ousada, com um cabelo curto e colorido, enquanto Beatriz optava por um look mais clássico, com um vestido preto elegante.
"Oi, Serena! Você está linda!", exclamou Ana, puxando-a para um abraço apertado. Beatriz sorriu, concordando com um aceno de cabeça, e logo elas começaram a discutir os detalhes da noite.
"Então, qual filme vamos assistir?", perguntou Beatriz, enquanto caminhavam em direção ao cinema. Serena, com um brilho nos olhos, respondeu: "Eu ouvi falar muito bem daquele novo filme romântico em cartaz. Dizem ser uma história de amor linda e emocionante!"
As três amigas logo decidiram comprar os ingressos e, enquanto aguardavam na fila, a conversa fluiu naturalmente. Elas falaram sobre suas vidas, sonhos e, claro, suas expectativas para o filme. O clima era leve e divertido, repleto de risadas e histórias compartilhadas.
Quando finalmente entraram na sala de cinema, o cheiro familiar de pipoca estourada e a escuridão reconfortante do ambiente as envolveram. Elas encontraram um lugar confortável no meio da sala, com uma boa visão da tela. As luzes se apagaram gradualmente, e uma onda de excitação percorreu o ar. O trailer de outros filmes começou a ser exibido, e Serena mal podia conter a expectativa.
Assim que o filme começou, ela se deixou levar pela história. As cenas românticas, os sorrisos trocados entre os protagonistas e a trilha sonora envolvente a transportaram para um mundo de sonhos. Era como se cada cena falasse diretamente ao seu coração, refletindo seus próprios desejos e anseios. Ao lado dela, suas amigas também estavam imersas na história, rindo e suspirando nos momentos certos.
A cada reviravolta da trama, Serena sentia seu coração acelerar. Havia algo profundamente mágico em testemunhar a jornada de amor dos personagens, suas desventuras, alegrias e desafios. Ela não pôde deixar de imaginar como seria viver uma história assim, cheia de emoções intensas e momentos que mudam a vida.
Durante uma das cenas mais emocionantes, onde os protagonistas confessam seus sentimentos em um cenário deslumbrante, Serena sentiu uma lágrima escorregar pelo seu rosto. Era uma mistura de alegria e esperança, uma sensação que a fez acreditar que o amor verdadeiro existe, mesmo que estivesse longe de sua realidade.
Quando o filme chegou ao clímax, com um beijo apaixonado que parecia durar uma eternidade, as amigas de Serena não puderam conter os suspiros e os gritos de alegria. Elas se entreolharam, compartilhando um momento de pura felicidade. Ao final do filme, a sala estava repleta de aplausos e risadas.
O encanto da noite de cinema dissipou-se como névoa sob o sol quando Serena avistou a silhueta ameaçadora de um Rolls-Royce negro estacionado diante de sua casa. O veículo, polido até refletir as estrelas, parecia uma pantera à espreita na escuridão.
Seu coração, antes leve com sonhos românticos, agora batia um ritmo inquieto contra seu peito. Os saltos de seus sapatos delicados ecoavam mais pesados no silêncio da rua, cada passo aproximando-a de uma realidade que parecia destoar completamente de seu mundo de sonhos.
O perfume suave de seu vestido misturava-se agora com o aroma de couro fino e metal polido que emanava do veículo luxuoso. Através dos vidros fumês, podia perceber silhuetas indistintas, figuras sombrias que pareciam não pertencer ao seu universo de filmes românticos e sorrisos inocentes.
Suas mãos, que momentos antes gesticulavam animadamente descrevendo cenas de amor, agora tremiam levemente enquanto procuravam as chaves em sua bolsa. O casal que a criara nunca recebeu visitas em carros tão imponentes, muito menos àquela hora da noite.
A lua, que antes parecia uma cúmplice romântica, agora lançava sombras inquietantes sobre a fachada familiar de sua casa. - Cortinas que sua mãe havia costurado com tanto carinho. Algo no ar sugeria que esta não seria uma noite comum, que talvez o roteiro de sua vida estivesse prestes a tomar um rumo inesperado.
Ao abrir a porta, a luz cálida da sala iluminou seu rosto, mas também revelou uma figura sombria à sua frente. Um senhor de idade, imponente e charmoso, estava de pé, quase como uma obra de arte, em meio às sombras. Seus olhos penetrantes a observavam com uma intensidade que a fazia sentir como se pudesse ver diretamente em sua alma. Atrás dele, sentados no sofá antigo, seus pais estavam com suas cabeças abaixadas e com uma expressão de medo. Serena gelou.
"Boa noite, disse ela quase em um sussurro". Aconteceu um acidente, pensou, não, o senhor diante dela não parecia estar machucado. Então viu o silêncio e a maneira com que ela a olhava. "Quem é o senhor? Está tudo bem por aqui?" tentava ver seus pais encolhidos no sofá.
"Serena," ele disse, sua voz suave, mas carregada de uma gravidade que não podia ser ignorada. "Precisamos conversar."
"Serena," ele começou, sua voz suave, mas carregada de uma gravidade que a fazia sentir como se estivesse em um filme de suspense. "Eu sou Rizzo Abantos, e tenho algo muito importante a revelar: por favor, sente-se."
Serena olhando para seus pais, percebeu eles assentindo positivamente com a cabeça, e Serena sem dar as costas aquele senhor se acomodou em uma banqueta estofada que tinha a sua direita.
Aquele homem caminhou e sentou-se como se fosse o dono da casa na poltrona predileta de seu pai. Serena olhava para ele e seus acompanhantes e para seus pais sem entender nada. Não podia ficar em silêncio. Se remexendo sobre a banqueta, seguiu: O que está acontecendo aqui? Pai, mãe?
O silêncio se seguia, e a voz daquele homem poderoso com um tom firme começou: "Eles não são seus pais. Eu os contratei para cuidar de você quando sua mãe morreu..."
Serena congelou. As palavras dele ecoaram em sua mente, mas a realidade parecia distante, como se estivesse ouvindo um diálogo em outra dimensão. "Não... isso não pode ser verdade," ela murmurou, as emoções se agitando dentro dela. "Meus pais são estes que me criaram, que me amaram." Ela apontava para eles, tentando deixar claro o que dizia.
Rizzo inclinou-se para a frente, seus olhos escuros fixos nos dela. "Eu sempre quis protegê-la desse mundo em que vivo, Serena. A vida que eu levo é perigosa, e eu não queria que você fosse parte disso. Mas agora estou envelhecendo, e preciso de você, já que você é minha única filha. Você é tudo o que me resta."
Serena sentiu uma onda de confusão e raiva a invadir. "Não é justo com quem me criou! Eles me amam, me deram uma vida cheia de carinho e segurança. Eu não posso simplesmente aceitar isso," ela exclamou, a voz trêmula, mas decidida.
Rizzo manteve a calma, como se já esperasse essa reação. "Entendo que isso seja difícil, mas o que quero é que você me conheça. O que eles ofereceram foi dado por mim estes anos. Podemos fazer visitas, conversar e você pode decidir por si mesma o que deseja. Não quero forçá-la a nada, Serena. Apenas quero a oportunidade de estar em sua vida."
Serena olhou para seus pais, seus rostos refletindo preocupação e desamparo. A ideia de conhecer Rizzo, de entender seu passado e as razões por trás de suas decisões, era tentadora, mas, ao mesmo tempo, aterrorizante. "E se eu não quiser? E se eu decidir que não quero fazer parte do seu mundo?"
Rizzo sorriu, mas a expressão não alcançou seus olhos. "Essa escolha é inteiramente sua. Mas eu peço que considere. O que você tem agora é precioso, e eu não quero tirá-lo de você. Seus estudos, seu conforto, tudo é através de mim e minha proteção. Quero que você saiba quem eu sou e que tenha a chance de me conhecer."
Serena hesitou, lutando contra a tempestade de emoções dentro dela. A ideia de um pai biológico, de um passado que ela nunca conhecera, a atraía e a repelia ao mesmo tempo. "Não sei se posso fazer isso," ela confessou, revelando sua batalha interna.
"Eu entendo," Rizzo respondeu, sua voz suave. "Mas estarei aqui, esperando. A decisão deve ser sua, e eu respeitarei qualquer que seja. O que quero é que você tenha a verdade ao seu alcance."
"Deixarei vocês para conversar e que expliquem tudo a Serena", ordenou Rizzo ao casal que, até aquele momento, não haviam tido coragem de falar nada. "Vou vir uma vez por semana, escolher o melhor dia, Serena, e por favor não faça nesses dias outros compromissos. Cuide-se, filha".
Os homens que acompanhavam Rizzo se moveram, e caminhando entre os dois, Rizzo saiu da casa.
Os olhos de Serena se encheram de lágrimas enquanto ela olhava para seus pais adotivos, visivelmente abalados. A tensão no ar era palpável, e a confusão em sua mente tornava tudo ainda mais difícil de processar.
A mãe adotiva de Serena, Abba Bertazzi, quebrou finalmente o silêncio. "Serena, querida, nós... precisamos te contar a verdade. Pedimos desculpas por não termos dito antes, mas Rizzo Abantos é seu pai e trabalhamos para ele toda a nossa vida. Nós não tínhamos alternativa. Era para sua própria segurança," ela disse, a voz trêmula e cheia de emoção. A dor em seus olhos era evidente.
"Ele... ele é seu pai biológico," completou seu pai adotivo, com a voz embargada. "Isabel, sua mãe morreu no parto, e quando você nasceu, ele não tinha condições de cuidar de você em função da guerra entre gangues no momento. Ele estava envolvido em um mundo que nós não podíamos mudar, e nós simplesmente não podíamos deixar você crescer nesse ambiente."
Serena sentiu seu coração apertar. As palavras ecoavam em sua mente, cada uma delas uma lâmina afiada que a cortava. "Mas por que não me contaram isso antes?" Ela se forçou a perguntar, tentando controlar a onda de emoções que a invadia.
"Porque o que queríamos era te proteger, Serena. Desde o dia em que te trouxemos para casa, você foi nossa filha. Nós te amamos desde que você nasceu, e isso nunca mudará."
Serena olhou para eles, tentando processar a revelação. A imagem de sua mãe biológica, Isabel, uma estranha em sua vida, agora a perseguia. Como poderia ser que a mulher que nunca conhecera tivesse morrido logo ao trazê-la ao mundo? E Rizzo, esse homem que agora se apresentava como seu pai, era um homem que ela não conhecia, um homem que parecia carregar sombras e perigos.
"Eu... não sei o que pensar," Serena disse, a voz quase um sussurro. "Eu amo vocês, mas essa verdade... é muito para processar."
"Entendemos, filha." Abba respondeu, sua voz suave, como se quisesse confortá-la. "Só queríamos que soubesse que você sempre foi e sempre será nossa. E que decidimos não te contar para te proteger, não porque não quiséssemos que soubesse a verdade."