Capítulo 9 Poderia acabar com todos

Antes que eu pudesse dizer mais, o som de passos anunciou a volta de Caleb e Bryan. Jason e eu trocamos um olhar rápido, e ambos fingimos que nada havia acontecido.

Caleb entrou no carro, o olhar desconfiado.

- O que estava acontecendo aqui? - perguntou, a voz cortante.

Eu falei antes que Jason pudesse reagir, fingindo raiva:

- Ele é um idiota! Me agrediu porque eu queria fazer xixi nos arbustos!

Jason percebeu minha intenção e entrou na onda.

- Ela sabe que não pode sair do carro. Se quiser, que faça nas calças. - Ele revirou os olhos com sarcasmo.

Caleb riu.

- Finalmente, Jason, você está agindo como homem! - Ele empurra com força o ombro de Jason, fazendo-o gemer de dor. - Gostaria de ter visto você bater nessa vagabunda!

Bryan surge na janela do carro, seu rosto irritado.

- Abre logo, idiota! - gritou furioso. Caleb apenas riu, travando a porta propositalmente. - Eu vou quebrar essa merda! Sabe que tenho força pra arrancar essa porta!

Caleb revirou os olhos e destravou a porta. Bryan me encarou por alguns segundos antes de colocar um grande saco de pano no banco, me forçando a me espremer entre Ivy e a janela.

Bryan entrou no veículo, bufando. Ele pegou o saco e o colocou entre os pés no chão. Observei em silêncio, imaginando quantas coisas deveriam estar ali dentro e como isso seria útil para Klaus.

- Anda logo, Caleb. Quero acabar com isso. Odeio ficar nesse carro. - Ele passou a mão no rosto. - Somos vampiros, podemos andar rápido! Só estamos nessa droga de carro por causa dessa maldita sacola!

Olhei para a sacola novamente, mas desviei o olhar ao perceber Caleb me encarando pelo retrovisor.

- Pare de reclamar, idiota - Caleb disse, colocando o cinto de segurança, como se isso realmente importasse para ele. Aposto que estava fazendo isso apenas para enrolar e irritar Bryan.

- Anda logo, droga! Sabe que fico enjoado nesse carro! - Bryan gritou com irritação, puxando o cinto de segurança de Caleb e o quebrando. - Essa merda de carro está infestada pela poção daquela bruxa idiota!

Bruxa idiota? De quem estavam falando? Por alguma razão desconhecida, meu coração acelerou, como se estivesse ouvindo uma informação importante.

- Aquela desgraçada... - Caleb rosnou, o olhar distante. - Eu ainda tenho queimaduras por causa da sua maldita poção.

- Vocês têm é que atear fogo nesse carro! Vamos acabar mortos se continuarmos nessa droga! - Bryan disse, recostando-se no banco. Vi uma expressão de dor passar rapidamente pelo seu rosto, como se o contato com o couro do banco estivesse ferindo sua pele. Seria a poção da tal bruxa? - Odeio esse carro, odeio bruxas!

- Vamos logo antes que essa merda continue nos enfraquecendo - Jason disse com uma falsa irritação. Algo me dizia que a tal poção sequer o afetava. - Tratem de calar a boca ou irei fazê-los voltarem no porta-malas!

Caleb ficou surpreso com o comentário de Jason, mas logo sua surpresa foi substituída por um olhar furioso. Fui surpreendida quando Caleb avançou em direção a Jason, mas, rapidamente, ele desviou e, em um movimento ágil, segurou o pescoço do líder, forçando-o a olhar para seu rosto.

- Filho da puta, como me pegou? Sou o mais forte e rápido de todos vocês! - Caleb disse, a voz abafada devido à pressão em seu pescoço.

- Apareceu alguém mais forte que o terrível Caleb! - Bryan riu, batendo a mão na coxa. - Tá vendo, Caleb? Você está ficando ultrapassado!

- Calados! - A voz de Jason soou como um trovão, assustando todos nós. Bryan instintivamente se recostou no banco, petrificado. - Vocês brigam feito idiotas! Estou cansado de manter minha calma enquanto vocês me fazem perder meu tempo! Não me façam perder a cabeça, ou irão se arrepender de terem nascido.

Mal reconheci a voz de Jason, suas atitudes e palavras. Era como se outra pessoa estivesse ali, como um clone maligno. Com desconfiança, analisei-o em silêncio.

Caleb riu baixo, desdenhando de Jason, mas Bryan parecia ter sentido a ameaça. Afinal, para todos os efeitos, Jason era o filho do Lorde Demoníaco e filho adotivo de Klaus.

- Você é um fraco... - A fala de Caleb foi interrompida por tosses. Ele arregalou os olhos ao perceber que sangue escorria de sua boca, assim como de seu nariz e ouvidos. Caleb encarou o próprio reflexo na janela do carro e, ao ver que seus olhos também sangravam, soltou um grito agudo, ensurdecedor. Embora Jason não segurasse mais o pescoço de Caleb, o sangramento continuava. Suas mãos foram à cabeça, e seus gritos preencheram o veículo. - Minha cabeça! Você está esmagando a minha cabeça!

- Como... Como ele está fazendo isso? - perguntei em um murmúrio.

Foi então que percebi algo ao redor de Jason. Era um fraco brilho negro emanando de seu corpo, diferente de quando ele tentou ler minha mente. Olhei incrédula ao redor; ninguém parecia conseguir enxergar isso, apenas eu.

- Mas que diabos está acontecendo? - murmurei, sentindo meu estômago se embrulhar de nervosismo.

Bryan, ao meu lado, parecia se desesperar à medida que o estado de Caleb se agravava, mas ele estava em pânico demais para reagir.

Os gritos de Caleb ecoavam no carro, aumentando meu desespero. Era uma cena agoniante vê-lo gritar daquela forma, se debater e sangrar sem sequer ter sido golpeado. O que estava acontecendo com Jason? Pouco tempo atrás, ele era um homem gentil e parecia temer Caleb; agora estava assim, tão cruel e monstruoso quanto o próprio Klaus.

- Pare com isso! - puxei o ombro de Jason, mas, com apenas um olhar, seus poderes controlaram o cinto de segurança, prendendo-me no banco e impedindo-me de tocá-lo. - Não faça isso, vai matá-lo!

Os segundos agoniantes se arrastavam como séculos, cada um marcado pelos gritos guturais de Caleb, como uma fera prestes a enfrentar a morte. Meu coração batia tão rápido que parecia querer sair pela garganta.

Tentei me soltar, mas o maldito cinto de segurança estava protegido pelos poderes de Jason. Ele era poderoso, implacável. O brilho ao seu redor estava mais forte, parecia aumentar a cada segundo. Seria isso o motivo de sua atitude violenta?

- Jason! Você vai matá-lo! - Bryan finalmente se pronunciou. - Não faça isso, você não é assim! - Ele tocou o ombro de Jason com cautela. O desespero estava evidente em seu rosto pálido. - Você nunca foi esse tipo de vampiro, nunca foi como Caleb. Não comece agora!

De alguma forma, as palavras de Bryan pareceram surtir algum efeito no estado de Jason. Ele olhou para trás, seus olhos claros focando nos meus, confusos. Jason piscava freneticamente, olhando ao redor. Estava claramente desorientado, como se estivesse possuído ou se seus poderes o controlassem.

Jason suspirou pesadamente, voltando a encarar Caleb, que se debatia em agonia.

De repente, o sangramento de Caleb cessou, e Jason desviou o olhar, encarando a floresta.

Caleb estava ofegante, ainda desnorteado. Bryan olhava para Jason em silêncio. Seu rosto não tinha expressão, mas seus olhos estavam escuros. Parecia... Decepcionado com Jason?

- Vamos logo, Caleb - Bryan murmurou, sem desviar o olhar dos próprios pés. - Só quero chegar ao castelo e terminar essa missão.

Caleb revirou os olhos, mas ligou o motor.

Enquanto o carro começava a se mover, meus pensamentos estavam a mil, assim como meu coração.

"Mas que droga foi aquela?" me perguntei mentalmente.

Algo dentro de mim gritava para não buscar respostas para esse mistério. Sentia como se a tal coisa que me protegia estivesse me alertando a deixar isso de lado. Ficar longe disso parecia a única forma de evitar que, seja lá o que fosse aquilo, não me transformasse em sua próxima vítima.

(...)

Sabia que o castelo era longe, mas meus pensamentos estavam tão acelerados que sequer notei o tempo passar. Quando dei por mim, o céu estava começando a se tingir em tons de laranja e rosa, anunciando o nascer do sol.

Observei Bryan em silêncio. Seu rosto estava abatido; ele não disse uma palavra sequer durante todo o trajeto. Parecia decepcionado com a forma como Jason tratou Caleb. Seria isso? Não sei... Talvez fosse algo da minha cabeça.

Mas... E se não fosse? Ele estar assim seria compreensível, já que Bryan achava que eram primos e havia visto Jason crescer.

Ele realmente se importava com Jason e suas ações? Talvez isso fosse nos ajudar no futuro ou... talvez atrapalhar nossos planos.

- Estamos chegando - Caleb anunciou, quebrando o silêncio no veículo. Ele lançou um olhar rápido pelo retrovisor, verificando se estávamos acordados. - Bryan, ajude Violet carregando sua amiga loba.

- Eu não quero que encostem nela! - disse, puxando Ivy para mais perto. Seu corpo desacordado estava frio como um cadáver. - Já a fizeram mal o suficiente.

- Não vai acontecer nada - Jason disse com calma. - Você não conseguiria levá-la pela escadaria. E, além do mais, precisamos de você o quanto antes em seus aposentos. O Rei deseja que tome seu café da manhã com alguns convidados especiais.

Minha intuição disparou. Algo grande estava prestes a acontecer. Vindo de Klaus, certamente seria algo ruim e que me colocaria em uma posição muito desconfortável. E se fosse uma armadilha? E se... Céus, e se ele tiver matado a Sarah ou encontrado os sobreviventes da alcateia de Dylan?

- Convidados? Que... Que convidados? - perguntei, impaciente, mas não houve resposta.

Os grandes portões do castelo se abriram. O carro passou em velocidade baixa, permitindo-me ver a grande construção em estilo gótico que, apesar de intimidadora, era encantadora. Tudo era diferente durante o dia, muito mais convidativo do que me lembrava.

Um filme passou pela minha cabeça, trazendo diversas memórias do período em que permaneci presa nos domínios do Rei Vampiro.

- Pare o carro na entrada oeste. Violet e eu iremos descer por ali - Jason disse com a firmeza de um líder. - Vocês podem levar Ivy pela entrada norte. Deixem-na em um dos quartos de hóspedes e chamem algumas copeiras. Peçam para tratá-la como uma convidada do Rei.

Caleb balançou a cabeça, concordando contrariado. Bryan suspirou, olhando para os próprios pés, ainda preso em seus pensamentos.

Depois de alguns longos minutos, o carro parou. A propriedade era bem maior do que me lembrava, como um castelo de filmes românticos.

- Vamos? - Jason disse, abrindo a porta do meu lado do carro.

Meu coração acelerou como se fosse explodir quando finalmente tomei coragem para sair do carro.

Aqui estava eu, novamente. Olhei ao redor, visualizando o território inimigo e, talvez, minha morada até o fim da vida.

Mesmo assim, mesmo com todas as chances contra mim, algo em meu coração dizia que eu deveria apenas seguir as ordens, entrar na onda e, em algum momento, encontrar uma saída e uma forma de me vingar do homem que matou o amor da minha vida.

- Vamos - disse, segurando o braço de Jason.

Não importavam os planos do Rei Vampiro. Eu estava pronta para enfrentar qualquer uma de suas armadilhas. Ele não iria conseguir me fazer perder a calma desta vez. Nesse jogo, eu iria vencer.

            
            

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