Capítulo 10 Acomodações

Jason me arrastava pelos corredores do castelo, sua mão firme segurando meu braço como se temesse que eu pudesse escapar a qualquer momento. A dor nos meus músculos e o som ecoante de nossos passos me deixavam tensa, mas o que mais me incomodava era a sensação de estar à mercê de Klaus novamente.

- Jason, você sabe onde está minha irmã? - perguntei, tentando esconder o desespero na voz.

Ele hesitou por um instante, mas finalmente respondeu, sem olhar para mim:

- A última vez que vi Sarah, ela estava bem. Mas já faz alguns dias. Fui enviado em uma missão e não tive mais notícias.

Apesar de tudo, senti um breve alívio. Se Jason não a havia visto, ao menos significava que Klaus ainda não tinha feito algo com ela. Meu maior temor era que ele tivesse cumprido a ameaça que pairava como uma espada sobre minha cabeça.

- Se ele encostar um dedo nela... - murmurei, mais para mim mesma do que para Jason.

Ele não respondeu. Continuamos caminhando por um trecho que eu não reconhecia. Era uma parte nova do castelo - nova para mim, pelo menos. Durante meu tempo aqui, pensei que já conhecia cada corredor, cada sala, mas agora percebia que o lugar era muito maior do que eu imaginava. As paredes pareciam se fechar ao meu redor, enquanto a iluminação das tochas penduradas lançava sombras inquietantes nos cantos do corredor.

Finalmente, paramos em frente a uma porta imensa. Jason soltou meu braço, mas permaneceu ao meu lado, firme como um guarda.

- Este será seu aposento a partir de agora - ele anunciou. - Algumas copeiras virão para ajudá-la. E terá também uma dama de companhia.

- Uma dama de companhia? - Perguntei, rindo com sarcasmo. - Sério, Jason? Não estamos mais na Idade Média.

Ele manteve o rosto sério.

- São ordens.

Revirei os olhos.

- Se não fosse pela Sarah e pela Ivy, eu já teria marchado até a sala do trono e esbofeteado Klaus. Talvez duas vezes.

Jason suspirou, mas não disse nada. Em vez disso, empurrou a porta, revelando o que havia do outro lado.

A primeira coisa que notei foi a lareira. Era imensa, esculpida em pedra negra, com detalhes intrincados que se assemelhavam a gárgulas em miniatura. O fogo já estava aceso, lançando um brilho quente e dourado pela sala. À frente dela, havia um sofá de veludo verde-escuro, com braços curvos e pés de madeira trabalhados. Ao lado, duas poltronas igualmente elegantes completavam o conjunto, todas voltadas para uma mesa de centro onde repousava um bule de chá de prata e algumas xícaras finamente decoradas.

As paredes eram revestidas de painéis de madeira escura, ornamentadas com molduras douradas que exibiam pinturas sombrias, de paisagens nebulosas e castelos à distância. A luz suave de um lustre pendurado no teto iluminava o ambiente, suas velas simulando o brilho de estrelas presas em cristal.

À direita, uma estante de livros atraía meu olhar. Era imensa, alcançando quase o teto abobadado, repleta de volumes antigos com lombadas desgastadas, como se cada um guardasse segredos esquecidos.

Fiquei parada na entrada, absorvendo tudo. Era um lugar tirado diretamente de outra época, como se eu tivesse sido transportada para o século 16.

- Então, o que achou? - perguntou Jason, sem emoção.

- Impressionante. Sinto-me uma princesa... ou talvez uma prisioneira muito bem tratada - respondi, não conseguindo esconder o sarcasmo.

Ele não reagiu.

- Seu quarto fica atrás daquelas portas duplas - indicou com a cabeça.

Olhei na direção que ele apontava. As portas eram enormes, feitas de madeira escura com entalhes que retratavam cenas de batalhas e coroações, como se contassem a história de um reino esquecido. As maçanetas eram de ouro maciço, brilhando sob a luz do lustre.

Caminhei até elas e, com ambas as mãos, segurei as maçanetas. O toque frio do metal contra minha pele me fez hesitar por um momento antes de empurrar as portas para abrir.

Meu queixo caiu.

O quarto era ainda mais grandioso do que a antecâmara. A cama, no centro da sala, era maior do que qualquer cama king-size que eu já tivesse visto, uma verdadeira obra de arte em madeira de lei. Suas colunas eram altas e ornamentadas, cada uma esculpida com detalhes que pareciam contar histórias de reis e rainhas. O dossel de veludo vermelho escuro caía em ondas elegantes, preso por cordões de ouro.

O teto, abobadado e decorado com afrescos que representavam o céu noturno, parecia se estender infinitamente acima de mim. Lustres menores pendiam das vigas, com cristais que lançavam reflexos cintilantes nas paredes.

Havia mais do que apenas a cama, é claro. No lado esquerdo, uma penteadeira de madeira escura estava adornada com um grande espelho oval e pequenos frascos de perfumes e cremes que pareciam pertencer à realeza. No canto oposto, um guarda-roupa imenso de três portas ocupava uma parede inteira, as maçanetas douradas combinando com as das portas de entrada.

Ao lado da cama, duas mesas de cabeceira sustentavam candelabros de prata, cujas velas já estavam acesas. O brilho suave preenchia o ambiente com uma luz que parecia viva, dançando em harmonia com o fogo da lareira menor ao fundo do quarto.

As janelas, em arcos góticos, eram cobertas por pesadas cortinas de veludo negro, mas uma brisa suave movimentava o tecido, revelando pequenos vislumbres da noite lá fora.

Dei alguns passos hesitantes pela sala, quase sem acreditar que estava ali.

- Isso é... surreal - murmurei, mais para mim mesma.

Jason permaneceu à porta, observando-me com seu olhar impenetrável.

- Klaus insiste em que tenha tudo o que precisa.

- Tudo, menos a minha liberdade, certo?

Ele não respondeu, mas o silêncio foi suficiente para confirmar minhas palavras.

Andei até a cama e passei a mão pela madeira entalhada de uma das colunas. O toque era frio e sólido, a prova de que aquilo era real. Me virei para Jason.

- Por que tudo isso? Não parece o estilo de Klaus. Ele prefere controlar, intimidar... não oferecer acomodações dignas de um castelo.

Jason hesitou antes de responder, escolhendo suas palavras com cuidado.

- Talvez ele queira que você se sinta confortável.

Ri, mas não havia humor em minha voz.

- Confortável? Ele sabe que não sou o tipo de pessoa que se deixa enganar por confortos superficiais.

Jason não respondeu, mas sua expressão me dizia que ele sabia tanto quanto eu o que realmente motivava Klaus. Este era apenas mais um jogo, mais uma tentativa de me manipular.

- Certo. Vou ficar aqui. Não que eu tenha outra escolha - disse, virando as costas para ele.

- As copeiras chegarão em breve. - Ele se virou para sair, mas antes de cruzar a porta, acrescentou: - Se precisar de algo, chame.

Fiquei parada por um momento, ouvindo o som da porta se fechando atrás dele. O silêncio que se seguiu era quase opressor, mas me forcei a ignorá-lo.

Olhei ao redor novamente, absorvendo cada detalhe. O quarto era deslumbrante, isso era inegável, mas, para mim, não passava de mais uma jaula. Uma jaula dourada, talvez, mas uma jaula ainda assim.

Caminhei até a janela e afastei a cortina. Lá fora, o céu estava coberto de nuvens, e o vento agitava as árvores embaixo. Suspirei, encostando a testa no vidro frio.

Mesmo cercada por toda aquela opulência, eu não me sentia nada além de presa.

            
            

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