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Capítulo 1 O início de um sonho

O sol começava a nascer por trás das colinas, iluminando os campos que cercavam a fazenda dos Harrison. Cecília já estava acordada, como de costume, antes mesmo que o galo anunciasse o início do dia. Seus longos cabelos castanhos estavam presos em um coque desajeitado, e suas mãos estavam cobertas de terra enquanto colhia verduras para o café da manhã.

Ela respirava fundo, sentindo o ar fresco da manhã, mas seu peito parecia pesar com o mesmo dilema que a acompanhava há meses. Sabia que estava vivendo seus últimos dias ali. A carta de aceitação da faculdade na França, que agora repousava sob o travesseiro, era sua passagem para um futuro que parecia tão distante e, ao mesmo tempo, tão real.

No entanto, o preço de sua liberdade seria alto. Seu pai, Richard Harrison, não escondia o desprezo pela ideia de que sua única filha pudesse abandonar as tradições da família. Ele fazia questão de lembrá-la disso a cada oportunidade.

- Cecília!

Sua voz grave ecoou da varanda da casa principal.

- Largue isso e venha para dentro agora.

Ela se levantou, limpando as mãos no avental, e caminhou em direção à casa com o coração acelerado. Cada conversa com seu pai parecia uma batalha.

- Sente-se.

Ordenou Richard, sem sequer olhá-la diretamente. Ele estava sentado à mesa, segurando uma xícara de café com a mão firme, enquanto sua mãe permanecia em pé, em silêncio, perto da pia.

- Recebi uma ligação de Peter hoje cedo. Ele quer saber quando vocês vão oficializar o noivado.

Cecília sentiu o estômago revirar, mas manteve a expressão neutra.

- Pai, eu já disse que não quero me casar com Peter. E, mesmo se quisesse, agora não é o momento. Tenho a bolsa para a faculdade, e eu vou para a França.

Richard riu, um som amargo e quase cruel.

- Você acha que pode me desafiar, garota? Eu decido o que é melhor para você. E essa história de faculdade não passa de um capricho. Você tem responsabilidades aqui.

Ela engoliu em seco, mas seu olhar não vacilou.

- Não é um capricho. É meu sonho, e eu vou realizá-lo.

A mãe de Cecília, que até então não havia dito nada, suspirou pesadamente. Seus olhos denunciavam o medo que sentia de contrariar o marido, mas havia algo diferente naquele momento.

- Richard... talvez devêssemos deixar Cecília seguir o caminho dela.

- Cale-se! - ele a interrompeu, batendo com força na mesa. - Não há discussão.

Cecília fechou os punhos, sentindo a raiva crescer dentro de si, mas não cederia à provocação. Não dessa vez. Com a cabeça erguida, deu um passo para trás.

- Eu vou, pai. Não importa o que você diga.

E saiu da cozinha sem esperar resposta, subindo as escadas rapidamente. Trancou-se no quarto e sentiu as lágrimas escorrerem. Ela sabia que não seria fácil, mas também sabia que não havia outra opção.

Naquela noite, enquanto arrumava suas malas às escondidas, Cecília sentiu o peso da decisão que estava prestes a tomar. Fugiria antes do amanhecer, antes que seu pai tivesse tempo de impedi-la. A liberdade que tanto almejava estava a um oceano de distância, mas, pela primeira vez, ela acreditava que poderia alcançá-la.

O dia seguinte marcaria o início de uma nova vida. E, embora carregasse o medo do desconhecido, Cecília também carregava algo ainda mais forte: a determinação de construir seu próprio destino.

            
            

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