A manhã começou como qualquer outra. Eu e Hikaru estávamos a caminho do trabalho, conversando sobre coisas banais, quando tudo aconteceu de repente. Um carro surgiu do nada e me atropelou. Não cheguei a me ferir gravemente, apenas algumas escoriações leves, mas o susto... o susto foi imenso.
Fui levada ao hospital por precaução. Lá, fizeram vários exames, inclusive um Beta-HCG - o que achei estranho, mas aceitei sem questionar muito. Enquanto esperava os resultados, deitada, conectada ao soro e tentando me acalmar, notei algo que me incomodou profundamente: Hikaru recebeu uma ligação e, sem dizer uma palavra, saiu da sala para atender.
Aquilo me pegou desprevenida. Nunca houve segredos entre nós. Sempre soubemos tudo um do outro, cada pensamento, cada detalhe. Ele nunca desligava o telefone perto de mim, muito menos saía às pressas com o olhar tão... estranho.
Tentei racionalizar. Talvez fosse algo do trabalho, talvez não quisesse me preocupar ainda mais. Mas o tempo passou. O soro acabou. E ele... não voltou.
Mandei uma mensagem. Nada. Nem visualizou.
A inquietação cresceu no meu peito. Será que teve acesso aos meus exames antes de mim? O médico que me atendeu era amigo dele parede conhecê-lo da época da resistência. E se... e se ele soubesse de algo que eu ainda não sei?
Tudo hoje está estranho demais. O acidente. A ligação. O silêncio.
Talvez eu esteja exagerando. Talvez seja só cansaço, ou ansiedade. Mas não consigo afastar essa sensação incômoda de que alguma coisa está errada. Muito errada.
E, no fundo, algo me diz que, depois de hoje, nada mais será como antes.