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Mas então, o peso da culpa começou a se instalar. Miguel era casado. Ela havia ouvido os comentários de colegas, já tinha visto a aliança brilhando em seu dedo durante as aulas. Como ela podia desejar alguém que pertencia a outra pessoa? O pensamento a fez estremecer. Ela não era esse tipo de mulher, não queria ser.
E, no entanto, cada vez que pensava em resistir, lembrava-se do modo como ele a olhava, como sua voz a envolvia como um abraço invisível. E se ele sentia o mesmo? E se ele também estivesse lutando contra aquilo? Pensar nisso apenas aumentava seu conflito.
Helena se deitou, encarando o teto escuro de seu quarto. Queria afastar o desejo, sufocar aquela paixão incômoda. Mas sabia que, por mais que tentasse, Miguel Schutz continuaria a habitar seus pensamentos. E a culpa, ao invés de afastá-la, apenas tornava tudo ainda mais intenso.
Ela se perguntava se a esposa dele sabia o efeito que Miguel tinha sobre outras mulheres, se ela sentia medo de perdê-lo para uma aluna encantada pelo seu magnetismo. Sentia-se cruel por desejar, mesmo que em segredo, algo que poderia ferir outra pessoa. Mas ao mesmo tempo, a ideia de que Miguel pudesse estar tão atormentado quanto ela, dividido entre a moral e o desejo, só aumentava a atração.
Talvez ele fosse um homem fiel, alguém que jamais cederia à tentação. Mas e se não fosse? E se, a cada vez que ele a olhava, estivesse travando a mesma batalha interna que ela? O pensamento era tão intoxicante quanto angustiante. O desejo misturado à culpa criava um turbilhão dentro dela, deixando-a sem paz.
Então, Helena apertou os olhos, tentando afastar a confusão de sentimentos, mas não adiantava. Miguel já estava dentro dela, ocupando cada espaço de sua mente, e ela temia que nunca mais conseguisse tirá-lo de lá.
Então ela se lembrou do primeiro dia de aula seus motivos para estar ali. Era uma segunda feira em início de semestre letivo, Helena estava muito animada por ter entrado para a universidade e estudar curso que sempre sonhou. Sempre quis ser psicóloga, ajudar aqueles em sofrimento, entender a mente humana e seus desejos mais ocultos. Algo que sempre a facinara é o fato de não compreender completamente as motivações das pessoas para serem como são e agirem como agem. Mas ela queria, ela queria saber porque o ser humano é como é, o profundo, a pele e o desejo mais oculto a aguçava sua curiosidade.
No fundo, Helena não se conhecia o suficiente, ela não sabia que poderia ser tão "impura" quanto aqueles que ela gostaria de entender. Quem em sã consciência iria querer alguém comprometido e 25 anos mais velho? "Ele tem idade para ser seu pai" diz sua melhor amiga Clara em tom de julgamento.
E além, o que se esconde por trás deste desejo incontrolável por um homem tão mais velho? O que falta nela para que o proibido a preencha?